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Opinião Domingo, 06 de Abril de 2025, 13:24 - A | A

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Opinião

Esqueceram de Estêvão - E dos Apóstolos

Por Wanderson R. Monteiro*

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Se existe uma ideia extremamente propagada dentro de inúmeras igrejas evangélicas em nossa atualidade – em igrejas “cristãs” em geral –, é a ideia de que Deus livrará as pessoas fiéis a Ele de todo e qualquer mal que vier sobre elas.

Faça o teste: quando você puder, entre em uma igreja evangélica próxima de sua casa e assista ao culto. Tenho certeza de que, em algum momento, você ouvirá alguém dizer que Deus irá livrar as pessoas ali presentes de suas dificuldades, problemas e situações difíceis pelas quais estejam passando atualmente.

Para embasar essa ideia, a pessoa que estiver falando lançará mão de algumas passagens bíblicas conhecidas, como o relato de Daniel, em que a Bíblia diz que Deus o livrou da cova dos leões. Outro exemplo frequentemente citado é o de seus três amigos, que foram lançados na fornalha de fogo, mas foram protegidos e salvos pelo Senhor.

Outras passagens usadas são as do livro de Jó, onde Deus restitui tudo o que ele havia perdido em seu momento de dificuldade e provação. Além disso, menciona-se a opressão do povo de Israel no Egito e seu livramento milagroso pela mão forte de Deus.

Todas essas passagens são verdadeiras e revelam a ação de Deus na história. De maneira nenhuma me coloco contra esse tipo de ação de Deus expressa nessas passagens, e em inúmeras outras, mas isso não significa que esse tipo de intervenção divina seja a regra. Isso não significa que Deus livrará todas as pessoas de qualquer situação difícil da qual elas tiverem passando. Esses exemplos não podem ser tomados como padrão absoluto para afirmar, como muitos fazem, que Deus sempre livrará todas as pessoas fiéis de seus problemas e dificuldades. O ensino de que Deus sempre age dessa forma cria uma expectativa errada, levando muitos a acreditar que Ele tem a “obrigação” de intervir em todas as situações difíceis.

Aqueles que propagam essa ideia, sem considerar as consequências de suas palavras, esquecem-se de que Deus pode, sim, livrar Seus servos do sofrimento e da morte, caso isso sirva para glorificar o Seu nome. Mas, o mesmo Deus também pode permitir que as pessoas padeçam e até percam a vida pelo mesmo motivo: a glorificação do Seu nome.

Sim, Deus, mesmo podendo nos livrar do sofrimento e da dor, pode permitir que percamos a vida em meio a tal sofrimento e dor – mesmo que, aos nossos olhos, tal sofrimento pareça “injusto”.

Foi assim com Estêvão, o primeiro mártir cristão, que, após pregar sobre Jesus e apresentá-Lo como o Messias, foi apedrejado até a morte por seus ouvintes, que consideraram sua pregação uma blasfêmia.

O que dizer, então, das perseguições, açoitamentos, prisões e inúmeros perigos de morte enfrentados pelo apóstolo Paulo? Ou ainda, das mortes brutais sofridas pelos outros apóstolos? Todos eles, com exceção de João, foram mortos de maneira violenta simplesmente por crerem em Deus e pregarem sobre Jesus.

Além dos apóstolos e dos primeiros cristãos, que sofreram destinos semelhantes, ainda hoje existem servos fiéis que padecem, são perseguidos e morrem por amor a Deus e ao Seu evangelho. Pessoas que enfrentam dores e enfermidades terríveis, mas que, mesmo assim, compreendem que tudo isso ocorre para a glória do Deus a quem servem.

Talvez alguém possa argumentar que pessoas “comuns”, como nós, vivemos em uma realidade muito distante da realidade dos apóstolos e dos primeiros cristãos, de maneira que as ações deles não se aplicam a nós hoje, que somos pessoas “normais” e não apóstolos escolhidos e chamados pessoalmente pelo próprio Cristo. Então, trago à nossa memória - ou, ao conhecimento -, alguns exemplos de pessoas “comuns” que, mesmo diante do sofrimento, da dor, e de inúmeras dificuldades não negaram o nome de Cristo, e foram fiéis até às últimas consequências.

Um exemplo marcante é Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo luterano que se opôs ao regime nazista e foi executado por sua fé e resistência ao mal. Sua confiança em Deus o sustentou até o fim, mesmo diante da morte iminente. Muitos ficaram boquiabertos ao verem a calma com a qual Bonhoeffer caminhou de cabeça erguida rumo a sua execução, logo depois de o mesmo ter feito sua última oração de joelhos. Assim como Bonhoeffer, inúmeros cristãos ao longo da história enfrentaram perseguições e deram suas vidas pelo evangelho, como os mártires da Igreja Primitiva, os cristãos perseguidos em regimes totalitários e os missionários que, em diversas partes do mundo, sofrem violência e até a morte por se recusarem a negar sua fé.

Além de Bonhoeffer, outros nomes também se destacam por seu compromisso mesmo diante do sofrimento e dos perigos. Jim Elliot e seus companheiros missionários foram mortos enquanto evangelizavam no Equador. Sua morte, longe de ser um fracasso, inspirou um grande movimento missionário. Richard Wurmbrand, pastor romeno, foi preso e torturado durante anos sob o regime comunista por se recusar a negar Cristo. Em seus livros, Wurmbrand narra seus sofrimentos e torturas enquanto estava preso. Graham Staines, missionário australiano, foi brutalmente assassinado na Índia por radicais hindus devido ao seu trabalho com leprosos. E esses são somente alguns dos nomes mais conhecidos, pois, inúmeros são aqueles que sofrem, padecem e morrem, sendo fiéis à Deus. Muitos são aqueles que glorificam a Deus em meio à sua dor e sofrimento, mesmo Deus tendo poder de livrá-los do sofrimento e da dor. Essas vidas são testemunhos vivos de que, para aqueles que servem a Deus, a vitória nem sempre se manifesta no livramento terreno, mas na fidelidade até o fim.

A realidade bíblica, e também a realidade histórica, nos mostram que Deus não está comprometido com a nossa zona de conforto, com o nosso bem estar terreno, mas com a manifestação de Sua glória. Enquanto muitos pregam um evangelho centrado na prosperidade e na ausência de dificuldades, a verdadeira fé se revela na confiança inabalável em Deus, independentemente das circunstâncias. Aqueles que permanecem fiéis até o fim demonstram que seu amor por Deus não depende de benefícios terrenos, mas de uma convicção profunda na soberania divina.

Portanto, o verdadeiro cristianismo não se mede pelo número de bênçãos materiais recebidas, ou pela ausência do sofrimento e da dor, mas pela disposição de cada crente de permanecer firme, mesmo diante da adversidade. Deus pode livrar, mas também pode permitir o sofrimento. E seja qual for o caminho, o chamado permanece o mesmo: glorificá-Lo em todas as coisas, com nossa vida e, se necessário, com nossa própria morte. Que nunca nos esqueçamos de Estêvão, dos apóstolos e de todos aqueles que, ao longo da história, provaram sua fé com aquilo que lhes era do mais alto preço: A própria vida.


*Wanderson R. Monteiro
Autor dos livros “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”, “Crônicas de Uma Sociedade em Crise”, “Atormentai os Meus Filhos”, e da série “Meditações de Um Lavrador”, composta por 7 livros.
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia.
Acadêmico correspondente da FEBACLA. Acadêmico fundador da AHBLA. Acadêmico imortal da AINTE.
Autor de 10 livros.
Vencedor de 4 prêmios literários. Coautor de 15 livros e 4 revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)

 

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