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Opinião Domingo, 06 de Abril de 2025, 16:23 - A | A

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Opinião

O constrangimento dos liberais brasileiros - à direita e à esquerda

Por João Batista M. Prates

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A fauna política majoritária do Brasil talvez seja a mais contraditória e caricata do mundo. O campo é fértil para a disseminação das mistificações políticas mais grosseiras entre nós. Temos, de um lado, liberais-sociais que vestem vermelho e agitam a retórica do socialismo enquanto administram a macroeconomia liberal com compensações (ou migalhas) sociais vendendo-as como revolucionárias. De outro, temos conservadores nos costumes, pseudo-nacionalistas, que são igualmente liberais em economia e criticam até mesmo as compensações mínimas que os seus meio-irmãos desejam oferecer (quando não as majoram temporariamente, com finalidades eleitorais). Já elaborei em outros textos alguns aspectos históricos que explicam a extinção entre nós da esquerda antiga, da década de 30 a 60, que era nacionalista, conservadora e antiliberal em economia (até mesmo antiliberal em Política!), tendo como seu representante máximo Getúlio Vargas; e também a extinção da velha direita que era ainda mais conservadora nos costumes, ainda mais nacionalista e ainda mais anti-liberal em economia, tendo como seu grande representante Enéas Carneiro. Estas correntes foram extirpadas pela grande vaga da hegemonia liberal, a mesma que levara Getúlio ao suicídio.

Já escrevi algumas linhas anteriormente também sobre o potencial renascimento da direita anti-liberal entre nós, a partir da eleição de Trump e da cada vez mais explícita política econômica antiliberal adotada pelos EUA. Este artigo alonga aquela discussão, enfatizando o profundo constrangimento que este momento histórico produz nos liberais brasileiros, sejam os Bolsonaro-guedistas, sejam os lulo-alckmistas vermelhos. Afinal, uns tem que explicar por que diabos o presidente “fascista” adota em política econômica um protecionismo agressivo para preservar empregos e salários em seu país, protegendo os direitos dos trabalhadores portanto, enquanto o suposto representante dos trabalhadores no Brasil é um entrave há já trinta anos para qualquer avanço na garantia da expansão do trabalho formal estável, para a redução da jornada de trabalho e para o aumento dos benefícios aos trabalhadores – realidade cada vez mais distante frente à desnacionalização total da economia e do avanço do trabalho intermitente e do bico informal. Outros estão atônitos frente ao verdadeiro tarifaço e às crescentes barreiras comerciais que fazem com que, internamente, os EUA contradigam cada vez mais o que vendem para o terceiro mundo como receita do crescimento econômico: a abertura completa e irrestrita do mercado interno, sem a menor intervenção do Estado na economia.

A verdade é que Trump assassina Paulo Guedes a cada dia de seu governo, e vai ficando cada vez mais constrangedora a filiação liberal-entreguista justamente entre aqueles que adoram os EUA e o Trump, agitam bandeiras do Brasil e falam em nacionalismo - embora seja bem verdade que junto das bandeiras nacionais, estes pseudo-patriotas tem erguido bandeiras dos EUA e de Israel, em uma estranhíssima tripla filiação nacional, completamente estranha ao nacionalismo, reforçada por todo um ecossistema de informação ideologizada diariamente transmitida desde as sucursais da Jovem Pan e similares. Por uma ironia tremenda, é justamente esta filiação a Trump e aos EUA que pode funcionar, no Brasil, como a alavanca capaz de mudar tudo e subverter a hegemonia liberal entre nós.

Sim, a revolução só pode ser feita à direita. À esquerda, lula com a sua defesa das instituições liberais é o escudo intransponível da ordem, e sua base eleitoral é cativa por pelo menos mais uma década. Pela direita, ao contrário, a cada dia que passa Enéas Carneiro vai despertando do seu sono profundo, embalsamado no seio do bolsonarismo como um vírus que se multiplica, sob o exemplo chocante de Donald Trump: não há nacionalismo verídico sem nacionalismo econômico, sem protecionismo dos agentes econômicos nacionais. Ocorre que, desgraçadamente, falta o Político no Brasil que será capaz de reivindicar o conservadorismo de costumes e o antiliberalismo econômico de Enéas Carneiro, fazendo com que as contradições maduras explodam para fora do quadro instável e contraditório do bolsonarismo que tanto adora o Trump mas não a ponto de fazer como ele faz, e sim a ponto de fazer o que ele manda. Esta força está como nunca à disposição, em vista da orfandade deste campo, com a eminente condenação de Bolsonaro. Nenhum político vermelho poderá fazê-lo, dado que a minoria ínfima revolucionária, que é antiliberal em economia (a exemplo de Jones Manoel e Nildo Ouriques), é mais liberal do que o próprio lula no campo dos costumes, da política e/ou das relações internacionais, e o patriotismo deles se confunde ora com o panafricanismo, ora com o panamericanismo, em um arranjo que é incapaz sequer de conquistar parte do eleitorado social-liberal do metalúrgico pseudo-socialista, quem dirá conquistar a massa bolsonarista. O nome mais adequado para esta operação redentora seria Aldo Rebelo, mas este não encontrará estruturas materiais e partidárias favoráveis para fazê-lo. Talvez haja uma porta estreita pela qual possamos entrar, através da candidatura que se pretende bastante musculosa de Ronaldo Caiado. Veremos. Mas as peças que precisariam se mover para perto e produzir uma influência anti-liberalizante sobre Caiado estão imóveis. É hora de agir, Ciro Gomes e Aldo Rebelo”


*João Batista M. Prates
Mestre em Filosofia (UNIFESP, 2022); especialista em Ensino de Sociologia (UFMS, 2022), em Gestão e Controle Social das Políticas Públicas e em Direito Público Municipal (EGC-TCMSP, 2021 e 2023). Possui pós-graduação em Legislativo, Controle Externo e Políticas Públicas no Brasil e em Legislativo, território e Gestão democrática da cidade (EP-CMSP, 2020 e 2023).

 

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