Combustível inovador pode representar o salto no enfrentamento das mudanças climáticas, mas ainda é preciso mais incentivo a pesquisa e desenvolvimento
Quando o assunto é a sustentabilidade do nosso planeta, a produção e uso do hidrogênio verde está na moda e tem atraído cada vez mais a atenção das grandes nações mundiais, por se tratar de um combustível limpo e sustentável de diversas aplicações, incluindo, transporte, geração de energia e processos industriais.
Primeiramente, vale citar os exemplos das duas maiores potências mundiais. Os Estados Unidos anunciaram no primeiro semestre deste ano o investimento de US$ 750 milhões (cerca de 4,4 bilhões de reais, cotação atual) para 52 projetos em 24 estados visando reduzir significativamente o custo da produção do hidrogênio limpo e reforçar a liderança global norte-americana na crescente indústria desse tipo de combustível. A ideia é de que esses projetos - financiados pela Lei de Infraestrutura Bipartidária presidencial - ajudem a avançar as tecnologias de eletrólise e melhoria das capacidades de fabricação e reciclagem de sistemas e componentes de hidrogênio limpo.
Enquanto isso, a China aumentou em mais de 80% o número de projetos envolvendo a produção de hidrogênio verde em 2024, em relação a 2023. Um desses projetos mira a Espanha, onde os asiáticos, em acordo com um grupo daquele país, pretendem construir uma indústria de US$ 1 bilhão para fabricar máquinas usadas na produção de hidrogênio verde – equipamentos chamados eletrolisadores, usados na separação do hidrogênio da água. Na China, no setor de aplicação, a indústria química é a principal consumidora de hidrogênio verde doméstico, especialmente para produção de amônia e metanol.
Aqui no Brasil foi anunciado recentemente um mega investimento para o Nordeste, que passou a estar no centro de uma revolução energética global com foco na produção de hidrogênio verde. Entre os estados que lideram essa corrida figura o Rio Grande do Norte, que divulgou um investimento massivo de R$ 120 bilhões para o desenvolvimento de projetos voltados à produção desse combustível inovador. Com o potencial de gerar mais de 30 mil novos empregos e atrair bilhões em investimentos, o Nordeste está prestes a se consolidar como uma potência mundial na produção de hidrogênio verde.
Um passo menor, mas ainda assim positivo, foi dado pelo governo de Minas Gerais, que acaba de firmar um Memorando de Entendimento (MoU) com a empresa chinesa FTXT (GWM Hydrogen) – subsidiária da Great Wall Motors (GWM) -, e a Universidade Federal de Itajubá (Unifei). O acordo visa a transferência e intercâmbio de tecnologias associadas ao uso de hidrogênio verde como fonte de energia limpa em caminhões e outros veículos da FTXT/GWM, que serão abastecidos no Centro de Hidrogênio Verde da universidade e irão fazer, de maneira experimental, a rota entre a cidade do Sul do estado e São Paulo, capital. O memorando tem validade de 12 meses, renovável por mais 60.
Diante disso, ao meu ver, o hidrogênio verde está longe de ser apenas mais uma palavra da moda de investimento de nicho. Além de ser uma alternativa promissora para atingir as metas de sustentabilidade das Nações Unidas, também está atraindo a atenção da comunidade global. Nesse cenário, à medida que as fontes de energia renováveis se tornam mais acessíveis e competitivas, o hidrogênio verde tem experimentado um surto de crescimento nos últimos anos, demonstrando flexibilidade para o balanceamento da rede e a capacidade de descarbonizar indústrias difíceis de tratar. A previsão é de que o mercado global de hidrogênio verde, estimado em US$ 2,5 bilhões em 2022, deva atingir US$ 143,8 bilhões até 2032, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 50,3% entre 2023 e 2032.
A título de curiosidade, cabe informar que o hidrogênio verde é produzido exclusivamente por meio da eletrólise da água usando fontes de energia renováveis, como eólica, solar, geotérmica ou hidrelétrica, diferenciando-o de sua contraparte cinza, que é produzida principalmente pelo craqueamento de metano com vapor, ou de sua contraparte azul, que é alimentada por gás natural e uma solução de captura de carbono.
Como um processo 100% livre de combustíveis fósseis que permite a descarbonização de setores onde a eletrificação direta é difícil ou como transporte, indústria e armazenamento de energia, o hidrogênio verde pode ser uma alternativa inovadora no caminho para um cenário neutro em carbono.
Mas, apesar desse ambiente favorável, investir em ações de hidrogênio verde ainda representa riscos. O alto custo inicial da tecnologia de eletrolisador, a necessidade de um grande suprimento de energia renovável e o desenvolvimento de uma infraestrutura abrangente de transporte e distribuição são responsáveis pela falta de demanda, o que pode amortecer o caminho de crescimento potencial do mercado de hidrogênio.
Esse problema decorre do estágio inicial de desenvolvimento de mercado para aplicações de hidrogênio verde, onde setores de uso final como indústria pesada, transporte e aquecimento ainda não integraram totalmente as soluções de hidrogênio verde. Além dessa infraestrutura imatura, a tecnologia necessária para adoção generalizada também contribui para essa lacuna de demanda. Para superar esses desafios, esforços concentrados são necessários para estimular a demanda de mercado por meio de apoio político, incentivar o uso de hidrogênio verde e investir em tecnologias e infraestrutura que permitam uma absorção mais ampla em diferentes setores.
Inclusive, investidores privados têm aqui uma oportunidade única de influenciar esse processo usando seu capital e conhecimento estratégico para acelerar o desenvolvimento do setor.
E quanto ao futuro, acredito que o caminho à frente está repleto de desafios, como, altos custos de produção, lacunas de demanda e a necessidade de desenvolvimento abrangente de infraestrutura. Parcerias estratégicas, inovação tecnológica e políticas de apoio são essenciais para estimular a demanda do mercado e garantir o crescimento do setor. Os esforços combinados de investidores, governos e líderes da indústria são cruciais para transformar esses obstáculos em oportunidades e fazer do hidrogênio verde uma pedra angular de um futuro de energia sustentável.
*Sthefano Cruvinel
Especialista em contrato de Big Techs, tecnologia e auditor judicial
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