O verão chegou, e as praias brasileiras estão repletas de turistas em busca de lazer e descanso. No entanto, muitas dessas localidades, conhecidas por suas belezas naturais, enfrentam um sério problema de saúde pública: surtos de viroses causados pela contaminação de água e alimentos. Essa situação reflete a precariedade do saneamento básico no Brasil, um problema que não se restringe às áreas turísticas, mas que é ainda mais alarmante em comunidades de baixa renda.
As praias, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste, têm registrado inúmeros casos de turistas e moradores adoecendo após o contato com água contaminada. Isso evidencia que, mesmo em áreas de grande apelo turístico, a infraestrutura de saneamento é insuficiente. A contaminação não é apenas um transtorno para os visitantes, mas uma ameaça constante à saúde pública, com impactos que também afetam toda a economia local.
Os dados reforçam a gravidade da situação. Segundo o Instituto Trata Brasil, que promove estudos e ações voltadas para a ampliação do saneamento no país, apenas 51,2% do esgoto gerado no Brasil é tratado. A situação é ainda mais crítica nas regiões Norte e Nordeste, onde somente 19,8% e 34,3% do esgoto são tratados, respectivamente. Esses números revelam um abismo no acesso a serviços básicos, com graves implicações para a saúde pública e a qualidade de vida das populações mais vulneráveis.
O Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado em 2020, estabeleceu metas claras: até 2033, 99% da população brasileira deve ter acesso à água potável, e 90% deve ser atendida por redes de esgoto tratadas. Contudo, segundo o Trata Brasil, apenas metade dos brasileiros estão conectados a sistemas de coleta e tratamento de esgoto, o que evidencia o enorme desafio para alcançar as metas. A universalização do saneamento no Brasil exigirá investimentos de mais de R$ 500 bilhões até 2033. Além disso, estudos apontam que cada real investido no setor pode gerar uma economia de até R$ 4 para o sistema de saúde, reduzindo os custos relacionados a doenças causadas pela ausência de saneamento básico.
Os surtos de viroses relatados neste verão são um alerta importante. Eles não apenas escancaram as consequências da negligência histórica com o saneamento básico, mas também destacam a necessidade de ações imediatas e efetivas. A universalização do saneamento no Brasil não deve ser vista apenas como uma meta, mas como um compromisso ético e social com a saúde, a dignidade humana e o desenvolvimento sustentável do país.
Portanto, cada caso de doença relatado nesta temporada deve ser encarado como um lembrete da urgência de políticas públicas efetivas e investimentos robustos. Que este verão nos inspire a cobrar mudanças reais e duradouras. Saneamento básico não é luxo, é um direito fundamental e é o mínimo que qualquer cidadão merece.
*Antonio Tuccilio
Presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos
• • • • •
A veracidade dos dados, opiniões e conteúdo deste artigo é de integral responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Capital News |