Terça-feira, 17 de Junho de 2008, 09h:06 -
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Está faltando boi no pasto
Redação Capital News (www.capitalnews.com.br) (DA)
A oferta escassa de bois para abate e engorda e a conseqüente elevação dos preços têm preocupado pecuaristas. Os valores negociados para a reposição vêm batendo recordes diários, e o preço do boi gordo, apesar de também em alta, não aumenta na mesma proporção.
De acordo com levantamento da Scot Consultoria, até a segunda semana de junho, o boi gordo acumulou alta de 26% no Paraná e a vaca gorda avançou 25%, enquanto os animais de reposição subiram mais: o bezerro 38% e o boi magro, 32%, indicando a dificuldade de oferta.
O aumento de preços reflete a baixa disponibilidade de boi gordo para abate e boi magro e bezerros para engorda. A dificuldade em encontrar animais em todos os elos da cadeia é conseqüência de um período de descarte maciço de matrizes que reduziu o rebanho brasileiro.
Entre 2002 e 2006, os preços do boi gordo passaram por um ciclo de baixa e muitos pecuaristas eliminaram suas vacas para custear as despesas das fazendas. No Paraná, a situação foi agravada pelo surgimento do foco de febre aftosa, em 2005, e pela perda do status internacional de área livre, no ano seguinte.
A má fase fez com que muitos produtores fossem obrigados a diminuir seu plantel para conseguir manter a produção. Alguns deles chegaram até a abandonar a atividade e converteram suas pastagens em lavouras mais rentáveis.
Alta de 16% em maio foi a maior em nove anos
No mês passado, em pleno pico de safra, a cotação da arroba teve a maior alta mensal (16%) desde 2000, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). Tradicionalmente, o mês de maio é considerado o “vale da safra”, ou seja, o de menor valor.
Mas não foi o que ocorreu neste ano. A valorização do boi gordo, no mês passado, segundo a Scot Consultoria, foi de 12%. “Se o mercado repetir o desempenho neste mês, chegaríamos a R$ 100 em julho”, diz Maria Gabriela Tonini, analista da consultoria. Mas ela acredita que a “alta arrefeça” porque, no ano, a arroba já acumula valorização de mais de 25%.
“O limite quem vai impor é o consumidor”, analisa Salazar. “Quando chegar no limite, o reflexo vai ser imediato no campo. A demanda vai retrair e os preços vão cair.” (LG)
Sentindo a redução da oferta, o mercado se ajustou e o ciclo se inverteu. Os preços entraram, então, em trajetória de alta em 2007, ao mesmo tempo em que começou a se perceber um movimento de retenção de matrizes. No Paraná, o abate de vacas começou a cair em 2006 e, em dois anos, recuou 32%. O mesmo movimento, em maior ou menor intensidade, ocorre em outras regiões do país.
Curto Prazo
Juliana Moretti, analista de mercado pecuário da consultoria FNP, explica que, num primeiro momento, a retenção de matrizes reduz ainda mais a oferta de gado no mercado. No entanto, a médio/longo prazo, se faz necessária para a recomposição do rebanho e, conseqüentemente, para o aumento da oferta de animais terminados e de reposição.
“A oferta ainda vai diminuir mais um pouco antes de aumentar. É um comportamento normal, do ciclo pecuário. Não é como agricultura, que dá para produzir mais de um ano para o outro”, avalia.
Segundo ela, o comércio de fêmeas de reposição, que poderia acelerar a recomposição dos plantéis de matrizes e a retomada do crescimento do rebanho, não está ocorrendo de maneira muito intensa. Com o aumento dos custos de produção, o pecuarista trabalha com margens apertadas, o que segura o apetite de compra.
“A atmosfera é de recuperação iminente, mas com a alta de insumos, parte do lucro some”, diz Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne- PR).
Regularização
A analista da consultoria FNP acredita que demore mais um ano e meio até que a oferta seja regularizada. Salazar compartilha a mesma opinião. Ele diz que nos últimos anos a pecuária perdeu espaço para a cana, a soja e o milho no estado, e que agora está retomando terreno. “O alojamento de matrizes está acontecendo e dentro de 12 a 18 meses a oferta estará normalizada”, prevê.
Normalmente, nesta época do ano deveria haver maior disponibilidade de boi gordo para abate e indústrias podendo se programar em relação às suas escalas.
Mas, ao invés disso, os frigoríficos têm dificuldade em encontrar animais terminados e trabalham com capacidade ociosa e escalas curtas e incompletas, formadas em grande parte por lotes pequenos, de diferentes propriedades e muitas vezes “importados” de outros estados.
O presidente do Sindicarne explica que, na expectativa de negociar a valores acima dos atuais durante a entressafra, o pecuarista está segurando o boi no pasto enquanto as pastagens forem capazes de continuar alimentando os animais. (Gazeta do Povo)