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Saúde Sexta-feira, 09 de Novembro de 2007, 14:49 - A | A

Sexta-feira, 09 de Novembro de 2007, 14h:49 - A | A

Falta de capacitação leva a baixo índice de doações

Agência Câmara

Nos últimos quatro anos, o número de doações de órgãos no Brasil caiu de 12 para 5,4 por milhão de habitantes. Na Espanha, são realizados anualmente 35 transplantes por milhão de habitantes. A falta de capacitação de profissionais para identificar a morte cerebral, o baixo valor pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por procedimento e o despreparo das equipes para abordagem das famílias de potenciais doadores foram algumas das causas do baixo índice de transplantes no País apontadas pelos participantes da audiência da Comissão de Seguridade Social e Família nesta quinta-feira.

A presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, Maria Cristina de Castro, observou que, em números absolutos, o Brasil faz muitos transplantes, mas em termos relativos são realizados menos de 20% dos procedimentos que deveriam ser feitos. Ela apontou a ausência de um programa e de uma cultura de doação de órgãos efetivos no País, onde há 70 mil pessoas em lista de espera por um transplante.

Maria Cristina ressaltou que uma das maiores dificuldades verificadas é a falta de notificação de potenciais doadores. A médica informou que, no primeiro semestre deste ano, só metade dos casos de morte encefálica estimados foi notificada e apenas 10% do total estimado tornaram-se doadores efetivos. "Perdem-se nove de cada dez possíveis doadores", disse.

Equipes treinadas
O coordenador-geral do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Abrahão Salomão Filho, reconheceu que o número de doações e o diálogo com a sociedade estão precários, mas disse que há um esforço para corrigir os problemas. Uma das medidas citadas por ele é a preparação de uma portaria que deverá ampliar a quantidade de transplantes no Brasil.

Salomão Filho explicou que a idéia é montar, nas principais cidades do País, grupos de captação ativa de órgãos, com médicos, enfermeiros, assistente social e psicólogo. Essas equipes deverão ser treinadas para a realização de entrevistas de captação. Ele acredita que uma das causas para a redução do número de transplantes possa ter sido a abordagem inadequada das famílias de potenciais doadores por parte das comissões inter-hospitalares de captação de órgãos, que, segundo informou, deverão ser extintas.

Conscientização
A deputada Cida Diogo (PT-RJ), que propôs o debate juntamente com o deputado José Linhares (PP-CE), sugeriu a realização de uma força tarefa de órgãos públicos e empresas de comunicação para conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos e estimular essa prática. Abrahão Salomão Filho lembrou que foi lançada uma campanha recentemente e disse que a expectativa é o aumento na captação de órgãos neste semestre.

O presidente da Associação Brasileira dos Transplantados de Fígado e Portadores de Doenças Hepáticas (Transpática), Ervin Moretti, observou que o número de doações de órgãos na Argentina cresceu desde que foi implantada a doação presumida, no ano passado. Na sua opinião, no Brasil a doação presumida não pegou porque foi imposta de maneira brutal. "Em outros países, são feitos uma grande campanha de conscientização e um debate com a sociedade e só depois se implanta", assinalou.

O médico Walter Pereira, integrante da Câmara Técnica de Transplantes do Conselho Federal de Medicina, foi um dos que destacaram a falta de capacitação dos profissionais para diagnosticar a morte encefálica e informou que o conselho está preparando um manual sobre o tema a ser lançado em breve.

Valores pagos
O valor pago por procedimento foi outro problema apontado na audiência. Maria Cristina de Castro assinalou que o Sistema Único de Saúde paga por transplante de rim, de fígado e de coração, por exemplo - considerando-se hospital mais honorários profissionais -, pelo menos cinco vezes menos do que se paga nos Estados Unidos.

Na sua avaliação, esse valor gera desinteresse de hospitais e dos profissionais de saúde em relação aos transplantes e pode levar à realização de procedimentos em condições inadequadas.

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