Após recesso para almoço, foi a vez da defesa de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, se pronunciar. O narcotraficante é acusado de mandar matar o também traficante João Morel, conhecido como rei da maconha.
Os dois advogados, Luiz Fernando Bataglin Maciel e Wellington Corrêa da Costa Júnior, se apresentaram nesta ordem, aos sete jurados e ao plenário. Eles dispuseram de uma hora e meia para explanação.
Eles basearam-se na inconsistência de provas, na opinião deles, para incriminação de seu cliente.
Bataglin ficou ao menos quinze minutos cumprimentando a todos os presentes no júri. Ele se apoiou na negativa, ou seja, afirmar que Morel não foi assassinado a mando de Beira-Mar.
Para o advogado, Beira-Mar não está sendo processado pelo fato em si [morte de Morel], mas pelo seu passado. “O Beira-Mar é como se fosse um bode expiatório”, disse.
Bataglin afirmou que existe inconsistência nos depoimentos das testemunhas, principalmente no de Ivanésio de Souza, preso que teria feito a vigilância na cela de Morel durante o assassinato.
Wellington Corrêa da Costa partiu pela mesma linha. Ele afirma que Ivanésio prestou depoimentos contraditórios [os depoimentos foram em março, abril, 3 de maio, 11 de maio e setembro de 2001]. No primeiro deles, segundo o advogado, o detento sequer citou Beira-Mar. Ele teria dito ainda que Marcos Rogério de Lima (conhecido como Rogerinho), estaria dentro da cela onde Morel foi morto, depois, teria dito que ele estava do lado de fora com uma faca guardando o local, conforme advogados.
Além disso, o depoimento de Jorge Luiz Ramos (agente penitenciário que teria achado o corpo de Morel), não confirmaria a chancela de Beira-Mar para o crime, conforme advogados.
Jorge Luiz teria dito em depoimento que ficou sabendo que havia confusão na cela 38 (onde Morel estava) e, logo após ir verificar, avistou o corpo ensanguentado (principalmente na cabeça).
Odair Moreira da Silva (conhecido como Marreta), que desferiu os golpes de chuço (faca artesanal) em Morel, teria dito em gravação cuja Justiça teve acesso, ao tio logo após ao incidente que fizera bobagem: “Fiz uma cagada.”
Rusgas
Com pedidos de desculpas após o estranhamento, Wellington e o promotor Paulo Passos teriam trocado frases indelicadas.
O motivo da rusga fora o fato de que a defesa afirma que Beira-Mar não possui condenações por homicídio e a promotoria discordar.
Tudo não passou de discussão corriqueira, após pedido de desculpas de ambas as partes.
Depoimentos da família
O advogado de defesa citou também depoimentos feitos pelos irmãos de Morel, Israel e Lucila.
Lucila teria dito que jamais recebera ameaças de Beira-Mar.
Sobre ligações
Quando de sua fala, a promotoria apresentou ligações feitas pelos presos. Algumas seriam para advogados criminalistas renomados. Eles seriam prova de que o crime teria sido premeditado, já que eles já armavam estratégias de contratar advogados para que pudessem defendê-los, segundo promotores.
“Se houve ligações relacionadas ao Beira-Mar, por que não foram colocadas como provas oficiais?”
A indagação é de Wellington, referindo-se ao fato de que nenhuma das conversas registradas teria diretamente, segundo ele, o nome de Fernandinho Beira-Mar relacionado.
Além das ligações, a “periculosidade” de Morel foi colocada à mostra. Wellington disse que Morel tinha vários inimigos e poderia ter sido morto a pedido deles. Além disso, não seria inocente e nem incapaz de defesa, segundo o advogado.
Ele citou uma conversa que a deputada federal Laura Carneiro (DEM-RJ) teria tido com Morel quando da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) fora realizada, em 2001 – que, aliás, resultou da prisão de Morel. “Ouvi uma pessoa, mas não vou falar o nome porque senão você vai mandar matar”, teria dito a parlamentar, segundo o advogado de defesa.
Todas as provas da acusação estariam calcadas em “ouvi dizer”, ou seja, somente nas falas de testemunhas que não seriam delas próprias, mas de terceiros, afirma a defesa.
“No presídio, tem muito faxina [preso que trabalha para a administração]”, teria dito Wellington sobre o fato de que se fazia um serviço de repassar informações muitas vezes equivocadas, segundo ele. Mais uma vez, ele falou em “jogo de mídia”, dizendo que, pelo fato de ter o nome de Beira-Mar envolvido, já estaria sendo ele incriminado pela imprensa.
Sobre os depoimentos de Ivanésio, o advogado retomado o raciocínio de que haveria incongruência nas afirmações. “Não sei por que cargas d’água o Ivanésio, de uma hora para outra, começou a acusar o Beira-Mar.”
Por: Marcelo Eduardo e Jefferson Gonçalves – (www.capitalnews.com.br)
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