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ENTREVISTA Sábado, 03 de Outubro de 2009, 08:53 - A | A

Sábado, 03 de Outubro de 2009, 08h:53 - A | A

Roberto Sinai, coordenador de divulgação do CVV conta como funciona a ONG, a rotina dos voluntários, as dificuldades e como o suicídio é tratado diariamente

Jefferson Gonçalves - Capital News (www.capitalnews.com.br)

Mato Grosso do Sul lidera o ranking nacional de número de jovens que cometem suicídio. Atualmente o estado está em 2 º lugar no ranking nacional de suicídios, perdendo somente para o estado do Rio Grande do Sul.

De acordo com os dados do CVV de Campo Grande (Centro de Valorização à Vida), Mato Grosso do Sul corresponde ao índice alarmante de 13% de suicídios para cada 100 mil habitantes por ano. Entre os dias 8 de setembro até o dia 13 de setembro, foi realizada a 4ª Semana de Valorização a Vida em Campo Grande.

Durante este período, Roberto Sinai, coordenador de divulgação do CVV é o entrevistado do Capital News onde contou como funcionam os atendimentos à pessoa que entra em contato com a ONG, a rotina de trabalho dos voluntários e as dificuldades enfrentadas no dia a dia, onde um tema delicado como o suicídio é tratado diariamente.

Como é o Trabalho do CVV?

O CVV é uma ONG que oferece apoio emocional. Nós não aconselhamos, não direcionamos, não julgamos e também não temos formulas mágicas, nossa ferramentas é o diálogo, considerado mundialmente o melhor solução para o suicídio. Nós acolhemos o comunicante em um clima de amizade e respeito, sempre valorizando o diálogo. Na maioria das vezes nem todas as pessoas são compreensíveis uma com as outras, isso acaba de certa forma fazendo com que elas acumulem mágoas e ressentimentos, não podendo desabafar. O CVV existe para essas pessoas como uma válvula de escape. Aqui nós a ouvimos sem nenhum problema, trabalhamos com o sigilo, nossos telefones são simples e não possuímos binas. As pessoas que entrar em contato conosco vão conversar apenas com os nossos voluntários.

Como é a abordagem à pessoa que liga para a central de atendimento?

Ao entrar em contato, o nosso voluntário irá se identificar, mas acima de tudo não irá perguntar o nome e nem de onde o comunicante mora, isso não é importante para nós. O que importa é como a pessoa está se sentindo. Uma pessoa que liga propensa ao suicídio, na maioria das vezes não quer morrer, ela quer acabar com seu sofrimento, e a solução disso está no diálogo. O suicídio não é visto por nós como um ato de coragem nem covardia, mas sim um ato de desespero. Quando uma pessoa entra em contato conosco, ela está pedindo socorro. Nós damos uma oportunidade desse desabafo. É claro que outros tratamentos como consultas com psicólogos ou psiquiatras também funcionam, mas aqui no CVV o clima é menos tenso do que a maioria dessas terapias, as pessoas ainda se sentem pressionadas, não conseguem se abrir estando frente a frente com uma pessoa estranha. Também possuímos diretrizes de diálogos que aproximam e que afastam o comunicante. Por isso o sigilo e o clima de amizade criado durante a conversa é importante.

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Salas de atedimento - Portas fechadas para receber ligações
Foto: Deurico/Capital News

Quais os principais fatores que fazem de Mato Grosso do Sul o segundo colocado no ranking nacional de suicídio?

Mato Grosso do Sul possui atualmente o índice de 13,3% em cada grupo de 100 mil pessoas no ranking nacional, perdendo apenas para Rio Grande do Sul que possui 16.6% que é o primeiro colocado. O principal fator é extremamente ligado à cultura. Além de segundo colocado no ranking nacional, Mato Grosso do Sul é o estado que tem o maior índice de suicídio entre jovens de faixa etária de 15 a 24 anos. Os agravantes desta situação são a facilidade de se adquirir drogas e os problemas familiares. O nosso estado possui um índice altíssimo de casais que se divorciam, a conseqüência disso é desestruturação familiar que acaba refletindo no jovem. Em Dourados, os principais casos são direcionados aos indígenas. Apesar de registrar os casos em nossas estatísticas, prefiro não me aprofundar em relação aos índios, já que os procedimentos de cuidados são deveres da Funai (Fundação Nacional do Índio), mesmo assim é possível perceber como é o choque cultural que o indígena sofre atualmente. Isso acaba provocando conseqüências graves para a saúde psicológica do índio.

Como identificar uma pessoa com tendências suicidas? Quais são os principais sinais apresentados por elas?

A pessoa passa por três estágios até cometer uma fatalidade. Esses estágios são: A Ideação, Maturação e Gatilho. No primeiro, a pessoa começa a demonstrar descontentamento com si mesmo e isso vai se tornando constante a ponto de se culpar por qualquer problema, se auto intitulando como um “fardo”. Isso nada mais é que o primeiro pedido de socorro, a pessoa está pedindo ajuda com este tipo de comportamento. Se essa ideação segue adiante, a pessoa passa para o estágio da maturação, onde ela já cogita a hipótese do suicídio. Ela já procura meios para poder dar fim a sua vida. Mesmo assim através do comportamento dela podemos perceber que ela não está bem. Nesses casos, a pessoa se isola, começa a falar sobre o quanto a sua vida tem sido desagradável, o pedido de socorro continua. Não tendo o devido cuidado, a pessoa passa para o estágio do Gatilho, esse estágio é perceptível quando escutamos notícias de suicídio provocado por motivos que na maioria das vezes são considerados banais, mas na maioria das vezes esse fato “banal” serviu nada mais do que um gatilho para todo o desconforto e descontentamento que a pessoa estava acumulando. Por isso o dever do CVV é fazer com que o comunicante se sinta confortável para desabafar, nós estamos dessa forma, atendendo o seu pedido de socorro.

Você acha que atualmente o tema suicídio é abordado de forma correta?

A sociedade atualmente precisa entender a comunicação de uma pessoa que esteja passando por uma situação delicada. É necessária uma abordagem correta. Quando uma pessoa fala em suicídio em uma conversa, é imprescindível que a pessoa que ouve não seja grosseira. A pessoa que fala sobre suicídio está passando por uma situação difícil e um julgamento incorreto pode acabar agravando a situação. Um exemplo disso está no tratamento da mídia em relação ao suicídio. Muitos jornais não publicam notícias de suicídio, por temer uma espécie de incentivo para outras pessoas. Mas na verdade não é isso que acontece. Como eu já disse, a abordagem deve ser correta sem sensacionalismos ou julgamentos. Acredito que a imprensa consiga fazer. Quando trazemos um caso de suicídio à tona corretamente, nós acabamos deixando a sociedade em alerta, sobre as seqüelas quando a vítima sobrevive e principalmente os problemas trazidos para uma família quando perde algum ente dessa maneira. O suicida quando ele comete o ato ele busca duas coisas, ou ele te passa um sentimento de pena ou ele tenta te culpar por algo. A Organização Mundial de Saúde considera o suicídio desde 2006 um problema de saúde pública, por isso a sua abordagem deve ser adequada, e a imprensa pode nos ajudar nessa abordagem.

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"É necessária uma abordagem correta em relação ao suicídio pela mídia, desde que não haja sensacionalismo"
Foto: Deurico/Capital News

Quais as campanhas que o CVV participa ou realiza durante o ano?

Temos um calendário de eventos pelo ano todo. Nossas campanhas são trimestrais. Já estamos programando outra Semana de Valorização à Vida entre os meses de outubro e novembro. Cada unidade segue o seu cronograma de eventos, neste ano aproveitamos os feriados para poder prolongar as campanhas de auto-estima e prevenção ao suicídio. Realizamos encontros e palestras públicas todo ano, em universidades, igrejas e presídios masculinos e femininos. Além de fóruns com o Corpo de Bombeiros e até com a Polícia Militar.

O CVV sempre trabalhou com voluntários, como funciona o recrutamento dessas pessoas? Quais as dificuldades encontradas?

Nós realizamos o PSV (Programa de Seleção de Voluntários) em um período que varia de trimestral a quadrimestral, para voluntários a partir de 18 anos, após oito semanas de treino, começamos as aulas de reforço, até começarmos o TRC (Treinamento de Respostas Compreensivas) e depois a ACP (Atendimento Central de Pessoa) são cursos atrás de cursos, até que o voluntário comece a atender as ligações, um voluntário veterano também acompanha os iniciantes. O CVV exige muito neste sentido, indicando leituras e realizando reciclagem para atendimento. O nosso dever é salvar vidas, logo o treinamento dos voluntários é intenso. Todo material de treino, nós recebemos da central do CVV de São Paulo, onde também participamos de fóruns e cursos no estado de São Paulo. Grande parte dos voluntários não é especialista da área de saúde, mas nos empenhamos pelo serviço que fazemos aqui no CVV. Eu mesmo estou há três anos aqui e os meus pais já foram voluntários do CVV. Todos que passam pelo treinamento são bem instruídos para receber qualquer tipo de ligação, desde desabafos, uma ligação para bate-papo ou até mesmo trote. Seguimos o principal procedimento de que a partir do momento que o voluntário entra aqui na central ele zera a sua relação lá fora. Aqui dentro ele é o voluntário do CVV, até para não misturar as situações. Atualmente contamos com 30 voluntários, sendo que o ideal é 84. Hoje atendemos 2.600 ligações por mês, mas deixamos de atender, pela falta voluntários, cerca de 5 mil ligações.

Atualmente pode se dizer que a depressão é a doença do século 21?

Sem dúvida. Hoje posso afirmar que 80% dos motivos ligados ao suicídio, o principal é a depressão. E de acordo com esse índice, há uma estimativa de que até 2030 essa porcentagem aumente em 70% no mundo inteiro. É necessária uma preparação para poder abordar a depressão, é uma questão de saúde pública e isso exige investimentos. Nós, o CVV, precisamos melhorar para poder tratar cada vez melhor a depressão. Na minha opinião, os setores da saúde também precisam buscar esse melhoramento também.

Deixo essa questão para você como tema livre

Gostaria de convocar as pessoas para que elas possam participar de nossas campanhas e principalmente dos nossos cursos de voluntariado. Hoje é de extrema importância a participação dessas pessoas para nos ajudar nessa batalha para salvar vidas. O CVV provoca um antes e depois em sua vida. A partir do momento em que o voluntario entra em contato com o universo daqui, mesmo que ele não permaneça por um longo período, garanto que ele compartilhará um aprendizado que servir muito para ele, sua família e seus amigos.

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A sede do Centro de Valorização a Vida está há 8 anos na Capital
Foto: Deurico/Capital News

Por: Jefferson Gonçalves - Capital News (www.capitalnews.com.br)
 

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carmelia 04/11/2009

e uma materia interresante, pena que os meios de comunicaçao fazem vistas grossas ,pra um problema, ke so aumenta, ,vemos ai uma facilidade imensa pra se fazer amizades virtuais, mas pra mim nada ke substitua a real, e isso tem contribuido muito pra ke fikemos isolados, vemos ai um vale tudo! podemos fazer ok da telha ,os relacionamentos passaram a ser banais, o amor ,posso dizer esta estinto, a droga se tornou uma valvula de escape, a vida perdeu o sentido, sentimentos ke ora eram nobres, deu lugar ao capitalismo ,ao egoismo, precisamos rever nossos conceitos,antes ke a humanidade acabe

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Izadir da silva 11/10/2009

acho essa cituação bastante tiste e de precizão urgente de aucilio humano para ajudar reverter esse quado que é altissimo em relaçáo as pessoas que perdem o que de melhor temos que é a VIDA ; ao imajinar o que leva a pessoa a cometer suicidio é ofim da picada é se sentir só ; admirei muito por esse trabalho dos voluntarios do cvv. éadmiravel e que todos tenhan trunfo e o poder da palavra vinda de DEUS na hora de atender as ligaçoes desas pessoas que precizam de ajuda;um grande abraço aos voluntarios....

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2 comentários


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