Campo Grande Sexta-feira, 03 de Maio de 2024


Cotidiano Segunda-feira, 25 de Agosto de 2014, 14:15 - A | A

Segunda-feira, 25 de Agosto de 2014, 14h:15 - A | A

Artigo - Onde a vida vale menos

Fernando Hassessian - Capital News (www.capitalnews.com.br)

Onde a vida vale menos - Um breve ensaio sobre a morte de qualquer um

Comoção pública, lamentos poéticos e luto oficial pela triste morte do jovem político que tinha uma carreira brilhante pela frente; Nota policial para o vagabundo cachaceiro que morreu com três facadas no bucho depois de beber e assediar a mulher do vizinho.

A vida vale menos na fronteira: os traficantes valem pouco; quem mexe com eles também. A vida vale menos nas bordas de Campo Grande e nas aldeias indígenas de Dourados, onde a pinga acelera a morte. A mãe tem que parar logo de chorar porque amanhã é dia de trabalho pesado para sustentar os outros três filhos que sobraram.

A vida vale menos na Faixa de Gaza e nas favelas do Rio. Na Ucrânia não vale quase nada, exceto quando cai avião com francês. Na BR 163 a escala vai de "motociclista qualquer" a "poderoso diretor de órgão público".

Se é bandido, melhor ainda: Já vai tarde, morreu na troca de tiros com a polícia e é absolutamente justificável. Se é policial, o discurso muda: É um absurdo. Coronel dá entrevista prometendo medidas de proteção, a repercussão é maior, mas logo passa, a morte é esquecida quando o assassino é preso e nada muda. Amanhã morre outro.

Os famosos são menos mortais. Por tradição, ocupantes da Academia Brasileira de Letras são chamados de imortais. Chora-se mais pela morte do ídolo do que do pai. Mães morrem todos os dias, de monte. Mas até hoje tem gente de luto eterno pela morte de Renato Russo e Getúlio Vargas. Alguns viram filme; outros viram estatística.

A rotina da redação também tem dessas coisas. Morte de desconhecido dá mais leitura quando tem foto de corpo dilacerado. Para o famoso, escolhe-se a melhor foto em vida. São alguns dos detalhes que definem se o coveiro vai trabalhar de roupas velhas e encardidas ou se a orquestra vai tocar Requiem de Mozart no final.

Não é mal da atualidade nem do Brasil; Alguns já foram homenageados com pirâmides, mausoléus, praças, basílicas e até o Taj Mahal. Outros, decapitados em praças pública sob aplausos. Tem até Darwin Awards para nos fazer rir de quem morre de forma idiota. Por sorte, até hoje ninguém voltou para reclamar.

Por Fernando Hassessian - Jornalista do Capital News

 

O conteúdo deste artigo foi publicado na integra e é de responsabilidade do autor.

Envie seu artigo para [email protected].

Comente esta notícia


Reportagem Especial LEIA MAIS