Gatos e cachorros vítimas de enchentes permaneceram dias sem alimentação e água e expostos à chuva e ao frio
Com início no final de abril, em pouco mais de uma semana mais de 400 municípios gaúchos tiveram bairros inteiros engolidos por uma chuva que não parava de cair. A calamidade, além das pessoas, vitimou milhares de animais e os cuidados com eles vão além da saúde física e dos primeiros socorros, que devem se estender por semanas.
“O controle parasitário é primordial e básico para a recuperação da saúde. Medicamentos de ingestão oral trazem resultados mais rápidos. Já a recuperação da imunidade se dá conforme o animal volta a receber uma alimentação de qualidade”, explica Fabiano de Granville Ponce, médico-veterinário e diretor de operações da VetFamily Brasil.
A grande maioria dos animais resgatados até agora permaneceu dias sem alimentação e água e expostos à chuva e ao frio, o que gera quadros de desidratação, hipoglicemia e hipotermia.
O tratamento varia conforme a gravidade do caso, mas geralmente envolve o aquecimento do pet e a fluidoterapia intravenosa para equilibrar os sinais vitais, acrescida de glicose e potássio caso o animal tenha dificuldades na ingestão ou absorção de alimentos.
Assim que os pets são estabilizados é preciso tomar as medidas preventivas básicas, considerando a exposição que tiveram à água e por estarem em ambientes coletivos.
Em relação às doenças infectocontagiosas, é importante uma quarentena para observação e tratamento imediato, caso o animal apresente doenças como cinomose, parvovirose ou, principalmente, leptospirose.
E se você se interessar por um pet resgatado?
Caso você deseje ser o novo tutor de um pet resgatado, saiba que em toda adoção é necessário ter em mente que se trata de uma responsabilidade para alguns anos e deve ter consciência de que um animal demora dias ou semanas para se familiarizar com um novo lar.
Se houver outros animais na nova casa, a adaptação deve ser feita de forma gradativa assim que o pet adotado estiver liberado para interação com outros animais. O contato deve ser feito aos poucos, diariamente e com acompanhamento dos tutores, até que os animais possam ficar juntos sem brigar.
“Além da atenção à socialização, é fundamental oferecer uma dieta de qualidade, ambiente confortável e companhia dos tutores. Os cães, especialmente, gostam muito de pessoas, querem estar perto dos humanos mais tempo possível”, aconselha Ponce.
Conhecer as particularidades das espécies é ainda mais importante nesses casos. Os felinos costumam ser mais desconfiados e ainda podem apresentar sinais de traumas como medo de barulhos altos, maior necessidade de se refugiarem em lugares escuros e pequenos, agressividade ou dificuldade em usar caixas de areia.
É importante respeitar o tempo do gato, fazendo interações calmas, sem forçar que fiquem no colo ou expostos a outros animais enquanto ainda demonstrarem insegurança.
Saúde mental e emocional dos pets
Não há um tratamento específico preconizado, mas medicamentos já prescritos para controle de fobias podem colaborar, além do acompanhamento veterinário e de um comportamentalista.
“Esta é uma tragédia em proporção inédita para todos nós. Vimos imagens de animais que, mesmo após o resgate, continuavam a executar os movimentos de natação ou subiam nos telhados das casinhas dos abrigos. Nós, médicos-veterinários, temos o desafio de diagnosticar a proporção desse trauma emocional e observar como reagem nos dias subsequentes”, finaliza Ponce, ressaltando que medidas como muito carinho, abrigo seguro, acolhimento, paciência e calma ao lidar com esses animais são essenciais.
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