Já imaginou ter sete filhos? E três deles serem surdo? Essa é a realidade da mulher indígena da etnia terena, Ondina Antônio Miguel, de 57 anos, que luta dia após dia pela inclusão da classe. A descoberta veio logo na infância, quando as crianças pediam algo apenas apontando com as mãos.
Nesse momento nascia uma língua de sinais caseira, e que agora se torna a língua terena de sinais oficializada. O II Encontro de Terena Surdos foi um resultado da luta diária da dona Ondina pelo respeito à cidadania dos filhos.
"Sei o quanto a sociedade tem um olhar preconceituoso contra eles por serem surdos e indígenas. Por esse motivo que estou nesta luta e, enquanto eu estiver viva, nunca vou me calar diante dos preconceitos e discriminação contra qualquer indígena surdo”, se compromete Ondina.
O tema do Encontro foi justamente a educação e linguística dos indígenas terena surdos. Atualmente, a mãe Ondina é falante de quatro línguas, a terena, portuguesa, língua terena de sinais e a Língua Brasileira de Sinais (Libra). Mas, para que ela aprendesse a Libra, e os filhos não deixassem de usar a língua terena de sinais, foi preciso unir muitas mãos num trabalho pela inclusão.
Oficialização da Língua Terena de Sinais
O primeiro município do País a oficializar uma língua indígena de sinais, a Língua Terena de Sinais (LTS) foi Miranda, em decreto publicado no mês de abril deste ano. Atualmente a cidade, na prática, tem como línguas oficiais o português, Libras, terena falada, terena de sinais e kinikinau.
O próximo passo agora é reconhecer a língua terena como uma língua de instrução, processo que está em tramitação no Conselho Estadual de Educação.
A força de Ondina, a mãe que segue na luta pela inclusão dos surdos terena, o trabalho de toda uma rede composta pela Secretaria de Estado de Educação, Coordenadoria de Modalidades Específicas, CAS (Centro de Apoio ao Surdo), UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), UFPR (Universidade Federal do Paraná) e Ipedi (Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural), não para.
"Uma mãe que mostrou sua luta, determinação e a importância da inclusão. Hoje, nós vivemos um momento de um Governo que fala em cidadania, que fala em direitos humanos, garantia de direitos, um Governo inclusivo, que não deixa ninguém para trás, que é próspero, que se propõe a contribuir com a inclusão das pessoas com deficiência, em especial dos indígenas surdos", enfatiza a Subsecretária de Políticas Públicas para a Pessoa com Deficiência, Telma Nantes de Matos.
Lançamento sul-mato-grossense
Durante o Encontro de Surdos Terena foi lançado o primeiro curso do Brasil de formação de tradutores e intérpretes de língua terena de sinais, que será feito através do programa de educação a distância usando a plataforma "Universidade Aberta", da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O objetivo é ofertar o curso de tradução e intérprete de língua terena de sinais e em breve o de práticas de língua terena de sinais. A formação faz parte do Plano Estadual para a Década das Línguas Indígenas, desenvolvido pela Coordenadoria de Modalidades Específicas da SED, voltado para a comunidade terena de Miranda, estudantes e professores.
A proposta da formação de Mato Grosso do Sul servirá de exemplo para todos os Estados. “Esta metodologia que estamos fazendo aqui vai servir de precedente inclusive para os povos do Amazonas, do Acre, Pará, Xingu, que estão isolados, para conseguirem ter acesso ao direito linguístico, que antes de tudo é um direito humano”, específica a professora e técnica da SED, Denise Silva.
A formação vem para capacitar a comunidade terena, surda ou não, e principalmente para que a língua terena de sinais não seja extinta. Ao contrário de cursos que são adaptados posteriormente, o de língua terena de sinais é construído a partir das necessidades dos professores, pais e próprios alunos terenas surdos.
“Por meio dessa plataforma as pessoas vão poder fazer a formação de onde estiverem, para que a universidade rompa com as suas barreiras geográficas, e nós possamos levar a formação onde efetivamente é necessária”, diz a Coordenadora do Centro de Educação a Distância da UFPR, a professora Geovana Gentili Santos.
Elaine K. Camlem 14/02/2024
Amei a luta desta mulher pela política de línguas de sinas Terena, faz pouco tempo que trabalho na educação escolar indígena da etnia Xokleng e por ver a falta de política indígena Xokleng, estou dando início a luta pela política indígena Xokleng. Sou formada pela Licenciatura Indígena Intercultural do Sul da Mata Atlântica com ênfase em linguagens. Estou fazendo a segunda graduação em Educação Especial.
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