Com mais de 2 milhões de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Brasil ainda enfrenta um cenário de exclusão no mercado de trabalho. De acordo com o IBGE, 85% dos profissionais autistas estão fora da força de trabalho — o que representa cerca de 1,7 milhão de brasileiros sem emprego.
O mês de abril, marcado pela campanha Abril Azul, reforça a necessidade de ampliar o debate para além da infância e focar também na vida adulta, especialmente no que se refere à inclusão profissional. Em 2024, o Senado aprovou o Projeto de Lei 5.813/2023, que cria mecanismos para facilitar o acesso de pessoas com TEA a empregos e estágios compatíveis com seu perfil. A proposta inclui a integração de bancos de dados e a exigência de acessibilidade nos ambientes corporativos.
Para a professora Larissa de Oliveira e Ferreira, doutora em Psicologia, o trabalho é essencial não apenas para a independência financeira, mas para o desenvolvimento pessoal, cognitivo e emocional do autista. “A rotina, as interações sociais e o reconhecimento no ambiente de trabalho são pilares para a autoestima e o bem-estar de qualquer profissional, especialmente para quem está dentro do espectro”, destaca.
Segundo Larissa, empresas que promovem inclusão também saem ganhando. A diversidade cognitiva dos profissionais com TEA pode trazer benefícios como maior foco, criatividade e atenção aos detalhes. “Esses talentos são frequentemente subestimados porque o ambiente corporativo não está preparado para acolher a neurodiversidade”, afirma.
Ela defende que a inclusão exige adaptações simples, mas fundamentais: espaços com menos estímulos visuais e sonoros, cronogramas claros, comunicação objetiva e apoio psicológico contínuo. Também é necessário repensar os processos seletivos, evitando entrevistas convencionais que podem gerar desconforto ou excluir candidatos com grande potencial.
A psicóloga orienta ainda que profissionais autistas valorizem suas habilidades e busquem apoio em redes especializadas de capacitação e orientação. “Conhecer seus direitos, investir em desenvolvimento contínuo e buscar ambientes preparados para a inclusão é essencial para conquistar um espaço digno no mundo do trabalho.”