A intensa seca que assola Mato Grosso do Sul está não apenas exacerbando a incidência de incêndios florestais no Pantanal, mas também causando prejuízos significativos à produção agrícola, particularmente à safrinha de milho, atualmente em fase de colheita. Dados recentes divulgados pelo projeto SIGA-MS (Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio), administrado pela Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) em colaboração com a Aprosoja/MS e o Sistema Famasul, indicam uma retração considerável na safra deste ano.
O relatório da terceira semana de junho estima uma produção total de 11,485 milhões de toneladas de milho, representando uma queda de 19,23% em comparação ao ano anterior. A produtividade média está prevista em 86,3 sacas por hectare, uma redução de 14,25%. Até o dia 21 de junho, a colheita da 2ª safra 2023/2024 havia alcançado 8,2% da área total de 2,2 milhões de hectares cultivados. Este avanço na colheita é 7,38 pontos percentuais superior ao registrado na mesma data na safra anterior.
Os dados do SIGA-MS destacam que todas as regiões do estado estão em pleno desenvolvimento fenológico, tanto vegetativo quanto reprodutivo. No entanto, as condições variam significativamente. Enquanto as regiões oeste, centro, norte e nordeste apresentam condições majoritariamente boas, com variações entre 55,9% e 85,8%, as regiões sudoeste, sudeste, sul-fronteira e sul registram condições abaixo do esperado, com até 50% das lavouras em estado considerado ruim.
"O levantamento do SIGA indica que esta situação adversa afetou uma área total de 785 mil hectares no estado de Mato Grosso do Sul", observou Jaime Verruck, secretário da Semadesc. Ele ressaltou que a segunda safra de milho de 2023/2024 já apresenta perdas significativas no potencial produtivo devido ao estresse hídrico.
A atual safra de milho está, portanto, sendo direcionada predominantemente ao mercado interno. A demanda no estado está em expansão, impulsionada pela inauguração da Neomille em Maracaju e a iminente abertura da segunda linha da Inpasa em Sidrolândia. Adicionalmente, há um crescimento na demanda por milho na suinocultura e bovinocultura.
Verruck destacou que as condições climáticas severas têm um impacto mais acentuado nas lavouras do sul do estado. "Temos uma condição climática complexa em Mato Grosso do Sul, com uma seca severa que não afeta apenas a questão dos incêndios no Pantanal. Ela tem afetado também outras regiões, como é o caso do sul do estado, onde mais de 50% das lavouras de milho estão em condições ruins ou regulares. Isso resultará em uma quebra de safra com impacto possivelmente maior do que os índices atuais indicam."
Em um cenário de médio prazo, Verruck prevê uma redução nas exportações de milho devido ao aumento do processamento interno do grão, o que, sob a perspectiva da indústria e da agregação de valor ao produto, é considerado positivo para Mato Grosso do Sul.