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ENTREVISTA Sábado, 29 de Julho de 2023, 08:35 - A | A

Sábado, 29 de Julho de 2023, 08h:35 - A | A

Entrevista

Julho verde-escuro: campanha conscientiza sobre prevenção ao câncer ginecológico

Especialista diz que os tumores mais frequentes são no colo do útero, corpo do útero e ovário

Renata Silva
Especial para o Capital News

Foto Cedida

Julho verde-escuro: campanha conscientiza sobre prevenção ao câncer ginecológico

Os sintomas do câncer de colo de útero podem ser ausentes nas suas fases iniciais, se manifestam apenas em estágios mais avançados, diz especialista

Você sabia que cerca de 40% dos tumores diagnosticados em mulheres no Brasil são ginecológicos? Pois é, o dado é do INCA – Instituto Nacional do Câncer. De acordo com a pesquisa o de colo uterino é o mais comum, e o de ovário é o segundo com maior incidência seguido pelo de endométrio.

O mês de julho chama a atenção para a importância de exames preventivos e do diagnóstico precoce da doença através da Campanha Julho Verde-Escuro. Apesar da alta incidência no país, esses tumores podem diminuir drasticamente se a população seguir as medidas de prevenção.

O Capital News conversou com o Dr. Wesley Pereira Andrade, ele é oncologista, mastologista e cirurgião oncologista. Dr. Wesley Pereira Andrade é médico titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e médico titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). Ele vai esclarecer algumas questões em torno do assunto.

1. Quais são os cânceres ginecológicos?
Dr. Wesley Pereira Andrade: Os cânceres ginecológicos são aqueles que atingem o sistema reprodutivo feminino. Os principais são: câncer de colo de útero (ou câncer cervical), câncer de corpo de útero (ou câncer de endométrio), câncer de ovário, câncer de vulva, câncer de vagina e câncer de trompa de falópio.

2. Quais as ocorrências mais frequentes desse tipo de câncer no Brasil? Como ele se caracteriza?
Dr. Wesley Pereira Andrade: Em termos de incidência, para este ano, espera-se aproximadamente:
Câncer de colo de útero: 17.000 casos
Câncer de endométrio: 8.000 casos
Câncer de ovário: 7.500 casos
Comparando com outros cânceres femininos, o câncer de mama lidera com 73.600 casos, seguido pelo câncer de intestino com cerca de 23.600.

Os sintomas do câncer de colo de útero podem ser ausentes nas suas fases iniciais, manifestando-se apenas em estágios mais avançados

3. Dentre os dez principais, em terceiro lugar, em mulher, está o câncer de colo de útero, com uma média de 17 mil casos por ano. Quais são os sinais?
Dr. Wesley Pereira Andrade: Os sintomas do câncer de colo de útero podem ser ausentes nas suas fases iniciais, manifestando-se apenas em estágios mais avançados. Estes incluem sangramento vaginal anormal, corrimento fétido, dor durante o ato sexual, dor pélvica e dor ao evacuar. O principal fator de risco é a infecção pelo vírus HPV, destacando a importância da vacinação e uso de preservativos.

O câncer de endométrio tem possíveis associações genéticas, mas seus principais fatores de risco incluem obesidade, ausência de gravidez, terapia hormonal somente com estrogênio e o uso de tamoxifeno (que é um tratamento para o câncer de mama que, embora eficaz, pode aumentar o risco deste tipo de câncer ginecológico).
Já o câncer de ovário tem forte relação com histórico familiar e mutações genéticas, como BRCA1 e BRCA2.

4. A mulher também deve ter atenção se houver casos prévios de câncer ginecológico na família? Se sim, como ele deve proceder?
Dr. Wesley Pereira Andrade: Sim, ela deve ir ao ginecologista com periodicidade.

5. Quais são os exames indicados para detectar a doença e o tratamento?
Dr. Wesley Pereira Andrade: Sobre os exames de para detecção, são exames diferentes em alguns casos.

No câncer de colo de útero (ou cervical) - os exames para detecção são: Exame de Papanicolau (citologia oncótica): É o exame primário usado para detectar alterações nas células cervicais. Se forem encontradas anormalidades, exames adicionais podem ser recomendados.

Teste de HPV: Pode ser feito juntamente com o Papanicolau para verificar a presença do vírus do papiloma humano.
Colposcopia: Usa um instrumento (como uma lupa) para visualizar o colo do útero mais de perto, geralmente recomendado se houver alterações no Papanicolau.
Biópsia do colo do útero: Em caso de suspeitas após outros exames, uma pequena amostra de tecido é retirada para análise. É o exame que efetivamente comprove o diagnóstico.

Tratamento:
Cirurgia: Consoante o estágio, pode-se optar por uma conização, traquelectomia ou histerectomia (remoção do útero).
Radioterapia: Pode ser usada após a cirurgia ou como tratamento principal em estágios mais avançados.
Quimioterapia: Pode ser combinada com radioterapia ou usada isoladamente em casos avançados.

Câncer de endométrio (ou câncer de corpo uterino):
Exames para detecção:
Ultrassonografia pélvica: Avalia o tamanho, forma e estrutura do útero.
Histeroscopia: Permite visualizar o interior do útero.
Biópsia de endométrio: Uma amostra do revestimento uterino é coletada para análise.É o exame que efetivamente comprove o diagnóstico.

Foto Cedida

Julho verde-escuro: campanha conscientiza sobre prevenção ao câncer ginecológico

Especialista afirma que mulheres devem ter consultas ginecológicas anuais e discutir quaisquer sintomas ou preocupações com seu médico

Tratamento:
Cirurgia: A histerectomia (remoção do útero) é o tratamento padrão. Pode incluir a remoção das trompas e ovários.
Radioterapia: Usada para tratar o câncer que se espalha além do útero ou para reduzir o risco de recorrência.
Quimioterapia e Terapia Hormonal: Pode ser recomendada dependendo do tipo e estágio do câncer.

Câncer de ovário:
Exames para detecção:
Exame pélvico: O médico verifica anormalidades no útero, ovários e outros órgãos.
Ultrassonografia pélvica e transvaginal: Avalia os ovários em busca de tumores ou massas suspeitas.
Tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética pélvica: Pode ajudar a determinar o tamanho e a extensão do tumor.
Teste de sangue CA-125: Níveis elevados deste marcador podem ser indicativos de câncer de ovário.
Biópsia: A única maneira definitiva de confirmar o câncer de ovário é através de uma biópsia do tecido suspeito. Muitas vezes essa biópsia será cirúrgica.
Aqui vale um alerta… Todos esses exames são falhos para o câncer de ovário que tende a ser muito silencioso.

Tratamento:
Cirurgia: A cirurgia consiste no principal tratamento. Como a maioria dos casos de câncer de ovários são avançados, a cirurgia tende a ser muito ampla envolvendo a ressecção das trompas, ovários, omento, segmento de intestino e muitas vezes do peritônio (que é a membrana que reveste o intestino e demais órgãos abdominais).
Quimioterapia: Comum após a cirurgia para eliminar quaisquer células cancerosas remanescentes.
Terapia direcionada: através do uso de um medicamento moderno chamado olaparib que é um bloqueador de uma enzima chamada PARP.

6. Existe uma maior incidência em algumas idades e raça?
Dr. Wesley Pereira Andrade: Câncer de colo de útero: A incidência é mais comum em mulheres entre 40 e 60 anos, mas pode ocorrer em qualquer fase da vida adulta. Mulheres afrodescendentes têm uma taxa ligeiramente maior de incidência em comparação com mulheres brancas.

Câncer de endométrio: A incidência aumenta com a idade, sendo mais comum em mulheres após a menopausa (50 - 65 anos). Mulheres brancas têm maior probabilidade de desenvolver este tipo de câncer.

Câncer de ovário: A maioria dos casos é diagnosticada em mulheres na faixa etária dos 50 aos 60 anos. Em termos de raça, mulheres brancas têm uma ligeira predisposição a desenvolver câncer de ovário. Aqui chama a atenção sua incidência aumentada nas mutações do gene BRCA, fundamentalmente entre a população judaica Ashkenazi.

7. Quais as chances de cura dos cânceres ginecológicos? E o que influencia?
Dr. Wesley Pereira Andrade: As chances de cura para cânceres ginecológicos variam conforme o tipo, estágio do câncer no momento do diagnóstico e o tratamento aplicado.
Detecção precoce é o fator mais influente para o sucesso do tratamento. Quando identificados em estágios iniciais, a maioria dos cânceres ginecológicos tem uma taxa de cura alta.

A saúde geral da paciente, a resposta ao tratamento, o tipo histológico específico do câncer e a extensão da doença também influenciam as chances de cura.

8. Independentemente dos sintomas, de quanto em quanto tempo as mulheres devem fazer exames?
Dr. Wesley Pereira Andrade: Câncer de colo de útero: Mulheres entre 25 e 65 anos devem realizar o exame de Papanicolau regularmente. A frequência varia: pode ser anual ou até a cada três anos (após dois exames seguidos negativos), dependendo da idade, histórico e resultados anteriores.

Câncer de endométrio: Não há um exame de rastreio recomendado para todas as mulheres. Entretanto, aquelas com fatores de risco elevados (como síndrome de Lynch ou histórico familiar) podem precisar de acompanhamento mais próximo.

Câncer de ovário: Não existe atualmente um método de rastreio eficaz e recomendado para todas as mulheres.
Mulheres com alto risco ( mutações genéticas como BRCA1 e BRCA2) devem discutir opções de cirurgia preventiva através da remoção profilática das trompas e ovários.

Mulheres devem ter consultas ginecológicas anuais e discutir quaisquer sintomas ou preocupações com seu médico

9. Qual recado você deixa?
Dr. Wesley Pereira Andrade: De forma geral, mulheres devem ter consultas ginecológicas anuais e discutir quaisquer sintomas ou preocupações com seu médico.
Dicas finais: Aqui abordamos diversos temas. O mais importante é marcar uma consulta com seu médico de confiança a fim de entender os aspectos pessoais e familiares para traçarmos uma melhores estratégias de investigação em casos específicos.

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