Você já trocou o dia pela noite? Já teve a necessidade de trabalhar ou estudar neste período? Saiba que inverter o horário especialmente por um longo tempo, é prejudicial à saúde.
Estudos mostram que trabalhadores noturnos correm mais risco de sofrerem de doenças como cardiovasculares, distúrbios gastrointestinais e metabólicos a exemplo da diabetes tipo 2, câncer de mama, próstata e colorretal e problemas de saúde mental e relacionados à reprodução.
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feito em 2016 mostra que no Brasil, cerca de 10% dos trabalhadores atuam na a noite, isso significa que 6,9 milhões de brasileiros dormindo de dia. Mas o que fazer quando é preciso? quando a única forma de ganhar a vida é na jornada noturna?
Para entender o que acontece com nosso organismo o Capital News conversou com o médico psiquiatra José Carlos Rosa Pires de Souza.
PhD em Saúde Mental, José Carlos é especialista em Medicina do Sono, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
1. Capital News: Quais as consequências que o indivíduo pode ter ao trabalhar à noite?
O ser humano é um indivíduo que nasceu para ter hábitos diurnos e não noturnos
José Rosa Pires: O ser humano é um indivíduo que nasceu para ter hábitos diurnos e não noturnos. O trabalhar à noite vai sacrificar as suas horas de sono, ou seja, é prejudicial a saúde e às suas funções, principalmente a solidificação da memória e a imunidade que é o sistema de defesa do organismo e que faz a reparação celular.
2. Quais doenças a pessoa pode desenvolver trabalhando em turnos noturnos?
José Rosa Pires: Quais doenças a pessoa pode desenvolver trabalhando em turnos noturnos? Várias doenças, principalmente autoimunes, devido à imunidade que baixa. Além disso, prejuízos de quadros depressivos e ansiosos pela falta de sono, problemas de memória e concentração durante o dia.
3. Capital News Quem trabalha de noite tem que dormir quantas horas por dia?
José Rosa Pires: O sono perdido não se recupera, isso significa que a pessoa pode dormir de dia que não vai recuperar o que perdeu durante a noite. Mas ela tem que tentar o máximo, equiparar as horas perdidas dependendo da sua necessidade que é individual, cada um tem a necessidade individual de horas de sono.
4. Capital News: Como fazer uma higiene do sono trabalhado a noite?
José Rosa Pires: Muito difícil, porque a higiene do sono deve ser feita à noite, mas tentemos adaptar. Então de dia dormir em quartos escuros, silenciosos, sem fatores de distração, não tomar nada com cafeína, nicotina e álcool, que vai atrapalhar seu horário de sono. Dormir um pouco de manhã, um pouco à tarde, mas não se automedicar com medicamento, nem para dormir, nem para ficar acordado.
5. Capital News: Quais hormônios são liberados durante o sono e as suas funções?
José Rosa Pires: O hormônio do crescimento, 85% dele, são liberados durante o sono. Durante o sono há aumento de células brancas de defesa do organismo, leucócitos, neutrófilos principalmente. Dentre as funções do sono ainda temos a solidificação da memória, reparação de células, aumento da imunidade celular, melhora de funções, como por exemplo o sonho, que é uma limpeza de memórias ruins.
6. Capital News: Existe uma maneira de corrigir essas substâncias através de suplementos caso a pessoa não consiga produzir durante o sono?
José Carlos Rosa Pires: Não. Em hipótese alguma. Não há como corrigir as substâncias que são produzidas à noite, durante o sono. E o sono é naturalmente noturno para o ser humano, então não tem como substituir. Nenhum tipo de pagamento como adicional noturno vai pagar um dia os prejuízos de um sono não dormido ou mal dormido.
7. Capital News: Existe um horário ideal de trabalho?
José Carlos Rosa Pires: O ideal é o período diurno ou matutino ou vespertino, porque o ser humano não foi feito para trabalhar à noite, mas sim para dormir. Isso porque ele precisa desse descanso para ter a reparação celular de funções que não são passivas, são ativas. Então, é um mecanismo ativo, não é só de dormir para descansar, não. Há principalmente reparação celular durante o sono, que é altamente ativa.
8. Capital News: Mas caso a pessoa precise do emprego. Existem maneiras de minimizar os impactos do trabalho noturno?
José Carlos Rosa Pires: Existem sim algumas formas paliativas. Por exemplo, se a pessoa tiver um intervalo durante a noite, o trabalho noturno para descansar, ao invés de tomar café e ficar conversando, é bom ela dormir, dar uma cochilado que isso ajuda, são chamados de sono polifásico.
Além disso, durante o dia, a pessoa pode procurar descansar, dormir um pouco de manhã, um pouco à tarde, para tentar minimizar esses efeitos negativos do sono perdido.
9. Capital News: Alimentação e atividade físicas são aliadas? E caso a pessoa não consiga aderir esses hábitos na vida?
José Carlos Rosa Pires: Sim, uma alimentação adequada com mais verduras, frutas, principalmente à noite, durante o período noturno de trabalho, são primordiais esses itens. A atividade física também, porém não próxima ao horário de dormir, porque vai tirar o sono.
10. Capital News: Qual recado o senhor deixa?
José Carlos Rosa Pires: Eu deixo o recado de que valorize o seu sono, como você valoriza a alimentação. Eu digo mais, valorize até mais, porque muitas vezes a pessoa fica dias sem comer, mas sem dormir não passam de três dias, quatro dias, que ela começa a ter confusão mental e pode até morrer.
Então a dica é valorizar o sono, ter um tempo de dormir ou de comer, durma, atividade física, não tome nada com cafeína, nicotina, álcool, próximo horário de dormir. A cafeirina, principalmente depois do meio-dia, não deve ser tomada. Boa sorte!