Segunda-feira, 19 de Novembro de 2007, 10h:23 -
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Mortos por passagem de ciclone em Bangladesh podem passar de 3.000
Folha Online
Quatro dias após o ciclone Sidr devastar o sul de Bangladesh, equipes de resgate ainda tentam alcançar regiões isoladas do país para levar ajuda aos milhões de atingidos pela tragédia natural.
Segundo a imprensa local e o presidente do Vermelho Crescente em Bangladesh, Mohammad Abdur Rob, os mortos já passam de 3.000, e ainda devem subir. O número oficial do governo é de 2.408.
O Sidr, que afetou ao menos 7 milhões, entrou em Bangladesh na quinta-feira (15), com ventos de 250 km/h, através da reserva natural de Sunderbans, no delta do Ganges, formado por numerosas ilhas e que faz fronteira natural com a Índia, a um lado do golfo de Bengala.
Centenas de milhares de famílias de pescadores pobres vivem no local e em seus arredores que, desde 1987, fazem parte do patrimônio mundial da Humanidade e que desde 2001 estava classificado como zona importante da biosfera --o local abriga animais raros como o tigre real de Bengala, o golfinho do Ganges, o crocodilo de estuário ou a tartaruga marinha.
"A proporção da tragédia se revela quando seguimos de uma vila a outra", disse Mohammad Selim, chefe das operações de resgate em Bagerhat, uma das áreas mais atingidas.
"Estamos tentando chegar às áreas da costa o mais rápido possível, ainda não sabemos o número total de mortos", disse um funcionário do governo nesta segunda-feira.
Enquanto demorará dias para que se determine o número de vítimas, cerca de 3 milhões de sobreviventes que foram retiradas de áreas da costa sul, ou cujas casas foram destruídas, precisarão de ajuda, segundo informações do governo. Equipes de resgate dizem temer que a falta de alimentos, água potável ou remédios possa levar à proliferação de epidemias.
Resgate
Navios e helicópteros militares tentam alcançar milhares de pessoas que estão presas na baía de Bengala e em outras áreas costeiras do país. No entanto, autoridades nas áreas afetadas dizem que os mortos devem ficar bem abaixo dos 10 mil estimados inicialmente.
"Cerca de 2.000 pessoas morreram apenas na minha área", disse o oficial Anwar Panchayet no distrito de Bagerhat.
Nesta segunda-feira, o grupo cristão de ajuda humanitária World Vision informou que cerca de mil pescadores ainda estão desaparecidos na baía de Bengala.
"De repente, nossa casa foi arrancada como um brinquedo. Nós nos vimos no solo, mas sem telhado e sem paredes", disse Rika Halder, moradora da vila de Kandi, em Mongla (sul).
"Eu preciso colocar um telhado sobre as cabeças de meus filhos. Mas não sei como farei isso", disse Nirmal Moitra, 45, outro morador de Mongla.
Desastre ambiental
"O ciclone provocou um desastre ambiental", denunciou neste domingo na capital Dacca Zunayed Kabir Chowdhury, cientista bengalês especialista no manguezal de Sunderbans-- uma formação vegetal característica do litoral tropical.
O cientista explicou que o "olho do ciclone golpeou sem piedade o Sunderbans, conhecido por ser o habitat natural dos tigres e de outros animais selvagens".
Cerca de 500 tigres reais de Bengala vivem no manguezal, além de outras 5.000a 6.000 espécies em vias de extinção no mundo.
Ainun Nishat, representante local da organização União Mundial para a Natureza, também teme que as ondas gigantes provocadas pelo Sidr tenham aniquilado boa parte da fauna selvagem.
"A fauna selvagem é vulnerável a este tipo de catástrofes naturais e grande parte pode ter sido arrastada pelas ondas", confirmou Shanti Ranjan Das, do ministério bengalês de Agricultura e Pecuária.
Quanto à flora, milhares de espécimes de raízes elevadas, foram "derrubadas pelos ventos de 240 km/h", afirmou Nishat.
O manguezal de Sunderbans compartilhado por Índia e Bangladesh, tem superfície de 5.800 km2.
Ajuda
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, anunciou neste domingo que os Estados Unidos ofereceram mais de US$ 2 milhões e equipes de especialistas para as operações de recuperação em Bangladesh após a passagem do ciclone Sidr.
Rice ressaltou em comunicado que a ajuda americana, canalizada através da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), totaliza agora US$ 2,1 milhões e que o país já enviou cinco especialistas a Bangladesh para ajudar nos trabalhos de resgate.
"Estendemos nossos pêsames ao povo de Bangladesh devido a este desastre natural e estamos prontos para fornecer mais ajuda", disse Rice, ao se referir ao ciclone, que já deixou 2.542 mortos. Segundo Rice, a equipe de especialistas ajudará a contabilizar os danos e identificar as áreas que requerem assistência imediatamente.
Do total da ajuda humanitária, US$ 2 milhões serão usados para programas de saúde e de refúgios para os desabrigados.
Parte da ajuda também será destinada a organizações humanitárias que trabalham nas áreas mais afetadas.