Um aumento expressivo no uso de biocombustíveis veiculares é a forma mais rápida e eficaz de reduzir as emissões dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Esta é a síntese da apresentação feita pelo físico José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, na abertura da Convenção Latino-Americana do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB), realizada em 23 de março na sede da FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Goldemberg fundamentou sua afirmação, usando, como exemplo, a matriz de consumo energético dos Estados Unidos. Nesta, o setor de transportes responde por cerca de 28% da energia consumida, enquanto as edificações utilizam 39% e a indústria, 33%. Embora menor, a fatia correspondente aos transportes é a mais fácil de ser modificada, pois, ao contrário dos edifícios e processos industriais, os veículos têm vida curta. Daí a ênfase nos biocombustíveis veiculares como caminho para alcançar, no tempo mais curto possível, as metas de redução dos gases de efeito estufa.
A questão é especialmente relevante devido à arrancada desenvolvimentista dos países emergentes. Enquanto nos países desenvolvidos as emissões de CO2 estão praticamente estáveis, com uma taxa de crescimento anual de 0,08%, nos países emergentes as emissões estão crescendo mais de 4% ao ano. China e Índia, os dois países mais populosos do mundo, lideram o processo, ambos em desenvolvimento acelerado e ambos maciçamente dependentes de combustíveis fósseis (carvão e petróleo).
Além dos aspectos ambientais, a transição para os biocombustíveis é fundamental diante do previsível esgotamento das reservas de petróleo. “A era do petróleo abundante e barato, baseado em reservas convencionais, já acabou”, disse o físico. O pico na produção ocorreu na década de 1990. A partir de então, os gráficos mostram um persistente declínio.
No processo de substituição da gasolina, duas opções complementares estão atualmente em pauta: a eletricidade e o etanol. Mas, destas, o etanol é, de longe, a alternativa mais promissora. “A tecnologia das baterias está ainda na infância. Levará muito tempo até que os automóveis elétricos venham a representar um segmento significativo da frota”, concluiu Goldemberg.
Substituir 25% dos combustíveis fósseis é a perspectiva do GSB
Quatro grandes apresentações, dos pesquisadores brasileiros José Goldemberg (USP) e Luiz Cortez (Unicamp) e dos norte-americanos Lee Lynd (Dartmouth College) e Nathanael Greene (Natural Resources Defense Council), abriram, na tarde de 23 de março, a Convenção Latino-Americana do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB), que se estenderá até o próximo dia 25 na sede da FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, uma promoção da própria Fundação e da Academia Brasileira de Ciências.
A Convenção Latino-Americana é a terceira das cinco que o GBS programou para este ano. Outras duas já ocorreram, na Holanda e na África do Sul. E mais duas estão agendadas, para a Malásia e os Estados Unidos. O objetivo do GSB é compor um painel global sobre sustentabilidade energética, à semelhança dos já existentes sobre mudanças climáticas e biodiversidade.
A grande pergunta que o GSB se propõe responder, de forma consistente, é se podemos substituir 25% do petróleo utilizado no setor de transportes por biocombustíveis sem comprometer a produção de alimentos e os habitats naturais. Os biocombustíveis, renováveis e relativamente limpos, tornaram-se a principal alternativa diante da necessidade urgente de substituir os combustíveis fósseis para reduzir as emissões dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Mas ainda pairam muitas dúvidas sobre essa opção.
A Convenção Latino-Americana foi aberta pelo diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, à frente de uma mesa na qual participaram André Corrêa do Lago (ministro do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores), Ricardo Silva (secretário de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo), Arnaldo Jardim (deputado federal), Gláucia Mendes de Souza (coordenadora do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia – BIOEN) e Lee Lynd (presidente do Global Sustainable Bioenergy Project – GSB).(Fonte: Gerência de Comunicação da FAPESP / Assessoria de Comunicação)