A corrupção sempre existiu no mundo desde os tempos do Império Romano, da Grécia antiga e enquanto existir um indivíduo que seja responsabilidade pela fiscalização de outro semelhante irá ocorrer corrupção.
Por outro lado, a corrupção policial tão em voga nos meios de comunicação não é, atualmente, uma situação específica do Brasil - ela está ocorrendo neste exato momento em todo o mundo. Em algum lugar dos Estados Unidos um policial está recebendo uma propina (“bribe”) para não extrair uma multa, na Europa certamente um policial deixou de cumprir algum mandado de prisão por não pagamento de pensão alimentícia fingindo que não encontrou o devedor e assim o é no Japão, na Índia ou no Paraguai.
O problema não é a corrupção policial individualizada. A situação se reverte de perigo para a sociedade quando um grupo de corruptos se reúne em associação para aumentar os ganhos das extorsões, dos peculatos, das pistolagens, dos latrocínios. O caso específico do Rio de Janeiro (já desvendado pela Polícia Federal) e do Mato Grosso do Sul (ainda oculto por acobertamento do Diretor Geral da Polícia apoiado pelo Secretário de Segurança Pública) é que nos fazem sentir este clima de completa insegurança.
Durante cerca de dez anos alguns poucos policiais, corruptos, se locupletavam com as oportunidades de conseguirem galgar alguns cargos e funções de importância. Porem, a maioria da Força Pública era composta de policiais honestos que perseguiam o ideal de construir uma polícia digna e que cumprisse a dogmática dos seus distintivos “SERVIR E PROTEGER”. Porem, com a assunção do Governador Garotinho e depois da Governadora Garotinha e os dois mandatos consecutivos de Zeca do PT, aqueles indivíduos que agiam solitários se uniram em organizações especializadas no cometimento de crime, afastando todo aquele que não fizesse parte ou colaborasse com o bando.
Alguns Diretores de Polícia, que se diziam e aparentavam honestos, mas eram lobos camuflados em ovelhas, optaram por outro tipo de corrupção (mais light) e assim se locupletavam do erário sob o manto da legalidade (através de duplicação de vencimentos, do recebimento de pagamento indevido, diárias falsas etc.) porem, para tal, se faziam de cegos aos grupos quadrilheiros - "eu não perturbo você , você não me perturba".
Com o passar do tempo esta diferença entre quadrilheiros bandidos e quadrilheiros ímprobos foi diminuindo ao ponto de haver uma espécie de promiscuidade entre os bandidos cometedores de crime comum com os "ilibados" que se mostravam como honestos. Na realidade uns “davam cobertura” aos outros.
A população em geral, outras Instituições de fiscalização, o Ministério Público e até o Poder Judiciário, por suas vezes não conseguiram alcançar e visualizar o grau de comprometimento entre aqueles que detinham títulos importantes (de Chefes, de Diretores, de Corregedores ...) com a "ralé miúda" que era obrigada a "trabalhar" no crime a fim de evitar as punições e perseguições que advinham aos que não aceitassem as imposições das Chefias de Polícia. Quando era pego um “pequeno lambari” que agia isolado, a este eram imputados as mais rigorosas penas, em contrapartida os “tubarões” que agiam em cardume ficavam livres para todo e qualquer tipo de ilegalidade.
Desta forma o sistema foi se corrompendo, ano a ano. A cada afirmativa pública do Governador elogiando o Chefe de Polícia, a cada fotografia divulgada com abraços fraternais e sorrisos faustosos havia um fortalecimento do poder subordinado e, consequentemente, um aumento do pavor daqueles que ainda pensavam em reagir contra o sistema criminoso implantado. As cerimônias de entrega de medalhas, de títulos elogiosos e outros eventos em que eram convidados os Chefes de Polícia, os Secretários de Segurança para serem publicamente ovacionados em posição de destaque aumentava, no dia seguinte, as cotas de extorsão dos órgãos – a exigência por “semanadas” de R$ 1000,00 passavam para R$ 1500,00 após cada comemoração. Uma verdadeira inflação delituosa. Ao ponto de algumas unidades se verem obrigadas a pagar, no fim do governo, de R$ 25.000,00 a R$ 60.000,00 por mês para sustentar a “realeza” que se mantinha elegendo políticos não muito coerentes com os discursos de palanque.
O Rio de Janeiro foi privilegiado com a escolha do Secretário de Segurança oriundo da Polícia Federal. Lá, diferentemente de "a cá", o titular da pasta não teve nenhum problema em dar sustentação e subsídios a Superintendência de Polícia Federal fluminense para investigar os "manda-chuvas" da Polícia Civil. Não houve consideração nem mesmo com aquele que conseguiu eleger-se Deputado, mas que comandava o esquema de "lavagem de dinheiro", contravenção e outras ilicitudes.
Porem aqui a coisa é diferente: O Secretário de Segurança escolhido pela administração que substituiu a de Zeca de PT também é da Polícia Federal, mas possui laços de amizade com o ex-colega da Polícia Federal que montou e capitaneou o mesmo esquema construído por Alvaro Lins no Rio de Janeiro. O atual Chefe de Polícia, por sua vez, também participava (seja de forma omissa ou não) do esquema irregular implantado, tanto é que era o Diretor do Departamento de Polícia da Capital quando foi montado a firma Segurança Check em unidade que lhe era diretamente subordinada e muito outras atividades não regulares.
E desta forma agiram em conjunto o Corregedor-Geral de Polícia, os diversos Diretores de Departamento, os Corregedores do Detran e quem mais gerenciou a Polícia Civil mas não tomou qualquer atitude para combater o câncer que se alastrava em nossas entranhas policiais.
Agora, não obstante a mudança de Governo, "tudo continua como dantes, no quartel de Abrantes" porque, segundo se comenta nos meios policiais, o Diretor Geral está refém de ameaças da quadrilha organizada que afirma irá denunciá-lo ao Ministério Público por um sem número de improbidades que teria cometido quando teve oportunidade, inclusive quanto ao seu enriquecimento ilícito ao acumular dois cargos que exigiam exclusividade. Refém ou não, o DGPC intimidou-se ao ponto de ainda deixar sem procedimento administrativo específico de apuração de prática de improbidades funcionários (servidores) conhecidamente envolvidos com a organização criminosa instalada à partir de 1999 na Polícia Civil. Camuflando a possibilidade, determinou apenas a instauração de Processos Administrativos Disciplinares que, diferentemente daqueles para apuração de improbidade administrativa não passam pelo crivo do Ministério Público nem do Poder Judiciário.
Outro detalhe que demonstra o alto grau de envolvimento da atual administração com o crime organizado e a quantidade de membros do Conselho Superior de Polícia que respondem por crime de peculato, prevaricação, improbidade administrativa entre outros. Como exigir que estes indivíduos, cujo telhado é de cristal, sejam capazes de avaliar qualquer tipo de atividade honrosa ou ética?
A única esperança é que o Ministério Público acorde, como um gigante adormecido todos estes anos e, em conjunto com a Procuradoria da República (devido as verbas federais desviadas) e a Polícia Federal (face a outras organizações federais envolvidas) produzam a profilaxia que se está esperando por anos e consigam, em um primeiro momento, afastar do "serviço" propriamente dito os que já foram identificados como bandidos para, posteriormente exonerá-los à bem do serviço público e economizar os milhares de reais que o Estado ainda disponibiliza para pagar seus salários. E a alguns outros, a aposentadoria.
(Leitor Paulo Magalhães enviou seu artigo pessoal, publicado na integra)