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A direita não teme em dizer os seus nomes

Por Victor Missiato*

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Em setembro de 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ser “fantástico” a “primeira vez” que as eleições presidenciais brasileiras não teriam candidatos de direita. Tal discurso foi proferido na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), quando Lula comemorou o fato de não haver melhor conquista democrática do que ter somente partidos de esquerda nas disputas para presidente.

Quinze anos e um mês depois, o cenário se inverteu de forma revolucionária. No início do século XXI, mais de um quarto da população apoiou candidatos de esquerda, chegando a mais de um terço dessa proporção em 2012. Após as Manifestações de Junho de 2013, uma onda conservadora começou a varrer o país. Em dez anos, a proporção de candidatos ligados ao espectro da esquerda e centro-esquerda decaiu para menos de um quinto dos eleitores.

Se antes “A esquerda não teme em dizer o seu nome” (Ed. Três estrelas, 2012), de acordo com o título de um livro escrito pelo filósofo Vladimir Safatle, agora “a esquerda morreu”, segundo o mesmo autor, em entrevista no início de 2024. As explicações para esse novo cenário são inúmeras, mas todas convergem para o fato de que, após 2013, a sociedade brasileira iniciou um processo de distensão no que diz respeito ao papel do Estado no desenvolvimento da cidadania a partir de suas políticas públicas.

A crítica a uma educação “ideológica” e antiprodutiva fez com que uma Reforma do Ensino Médio fosse aprovada, mas não tivesse apoio dos agentes educadores, o que levou a um novo retrocesso esse ano. A segurança está cada vez mais privatizada. Nos condomínios de luxo, câmeras e seguranças particulares. Nos bairros mais pobres, milicianos e traficantes duelam para controlar o “bem-público” de seus moradores. No campo da saúde, os convênios médicos já abrangem um quarto de toda a população, apesar da existência do Sistema Único de Saúde (SUS).

Subjaz desses movimentos uma visão americanista de que a prosperidade virá por meio de um esforço individual, em que a ética, religião e moral cada vez mais se recompõem através de núcleos familiares, ações empreendedoras e uma nova mentalidade social.

Ademais, o novo conservadorismo presente na cultura brasileira, além de se distanciar da direita desenvolvimentista dos tempos de regime militar, possui um grau de mutação a partir de seu próprio espectro. Visualiza-se tal capacidade a partir da candidatura de Pablo Marçal às eleições paulistanas esse ano, quando o empresário, sem o apoio explícito do bolsonarismo, cresceu de forma vertiginosa na campanha, acendendo um sinal de alerta no campo da direita, muito bem consolidada a partir da chegada de Tarcísio de Freitas ao Palácio dos Bandeirantes, em 2023.

Se uma tradicional esquerda perece aos poucos, uma novíssima direita pode rivalizar com a direita emergente das eleições de 2018, quando Bolsonaro liderou uma série de vitórias em diversos estados e no Congresso Nacional. Ciente de que uma vitória acirrada na prefeitura de São Paulo poderia levar Pablo Marçal a um desgaste com seus apoiadores e eleitores impactados pela força da internet e do imediatismo, o candidato do PRTB, ao apagar das luzes, sem mesmo avisar seus advogados, apresentou um documento falso contra seu opositor, Guilherme Boulos, a fim de implodir sua própria campanha.

Através de uma estratégia extremamente arriscada, Marçal se projetou como uma possível alternativa ao governo de São Paulo ou até mesmo à Presidência, em 2026. Apesar do risco de sofrer uma inelegibilidade por conta de seu ato comprovadamente ilegal, o candidato da prosperidade cumpriu um dos seus objetivos ao pautar a campanha das eleições municipais por todo o Brasil, tornando-se um personagem do universo da política. Resta saber, nos próximos capítulos, como a direita conseguirá ou não manter uma perspectiva de unidade capaz de alcançar uma nova hegemonia no Brasil.


*Victor Missiato
Professor de História do Colégio Presbiteriano Mackenzie Tamboré, analista político e Doutor em História.

 

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