Imagine que alguém está vendendo o padrão único de sua íris. Diferente de uma senha que pode ser trocada, ou de um cartão de crédito que pode ser cancelado, suas informações biométricas são permanentes. E é exatamente essa imutabilidade que as torna tão valiosas – e perigosamente vulneráveis.
Nos últimos anos, a biometria passou de uma inovação tecnológica para um padrão indispensável de autenticação. No entanto, enquanto bancos, governos e empresas adotam amplamente esses métodos, um mercado clandestino lucrativo emerge, expondo indivíduos e organizações a riscos inimagináveis. De acordo com um relatório recente da Forrester, o mercado clandestino para informações como íris, impressões digitais e padrões faciais está crescendo exponencialmente, impulsionado pela falta de regulamentações robustas e pela alta demanda de cibercriminosos.
Por que esses dados são tão preciosos? Dados biométricos funcionam como chaves digitais: senhas que você nunca esquece e nem pode mudar. Essa mesma característica, por outro lado, é seu maior risco. Uma vez roubados, esses dados podem ser usados para criar clones biométricos capazes de burlar sistemas de autenticação, colocando em risco indivíduos, empresas e governos.
Os perigos não param por aí. Governos autoritários e corporações mal-intencionadas podem utilizar essas informações para vigilância em massa, violando privacidades e limitando liberdades individuais. Além disso, práticas como essas frequentemente infringem regulamentações como a GDPR, a LGPD e a CCPA (Lei da Califórnia), resultando em penalidades severas para empresas e indivíduos envolvidos.
Diante desse cenário, como podemos nos proteger? Primeiramente, é fundamental que os dados biométricos sejam coletados com consentimento explícito e armazenados utilizando criptografia robusta. Tecnologias como fuzzy matching e differential privacy podem ajudar a minimizar os riscos, enquanto soluções comportamentais – como análise de padrões de uso – oferecem alternativas menos suscetíveis a falsificações.
O Fuzzy Matching é uma técnica que permite comparar dois conjuntos de dados aproximados para determinar se são semelhantes, mesmo que não sejam exatamente iguais. Ele é amplamente usado em sistemas de autenticação biométrica para validar identidades, tolerando pequenas variações nos dados coletados, como mudanças na iluminação ou ângulo de captura de uma íris. Já o conceito de Differential Privacy refere-se a um conjunto de métodos que garantem a privacidade dos indivíduos em grandes conjuntos de dados, adicionando ruído estatístico para mascarar informações individuais. Dessa forma, é possível realizar análises e obter insights sobre um grupo, sem comprometer a privacidade de nenhum indivíduo em particular. Juntas, essas abordagens fortalecem a segurança e a privacidade no uso de dados sensíveis, como os biométricos.
Empresas líderes como a Fortinet e Palo Alto Networks já investem em soluções que protegem dados biométricos desde sua coleta até o armazenamento. Adicionalmente, a PwC destaca que auditorias regulares e transparência nas operações são cruciais para evitar vazamentos e fortalecer a confiança dos usuários.
A comercialização de dados biométricos não é apenas uma questão de segurança cibernética, mas também um desafio ético e social. Proteger essas informações é proteger a essência de quem somos. Por isso, governos, empresas e indivíduos precisam trabalhar juntos para construir um futuro onde a segurança da identidade seja prioridade.
O futuro da biometria depende de nossas ações hoje. Se você ainda não está avaliando como proteger suas informações únicas, está deixando a porta aberta para vulnerabilidades irreversíveis. Pense nisso: sua identidade é inestimável – como você está garantindo sua proteção?
*Carlos Andreotti Alcoba
Head Comercial de Cibersegurança
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