Quem acompanha meus artigos e crônicas, leu algum dos meus livros ou ouviu palestras minhas ao longo dos últimos 30 anos sabe que sempre tive respeito, mas nenhum apreço, pelo modelo político instaurado pela Constituinte de 1988. Ele foi mal pensado, reiterou erros que nos acompanham desde o início do período republicano e só podia dar no que deu. Nem nos Estados Unidos o presidencialismo resiste mais ao populismo que lhe é inerente. E note-se: a situação norte-americana só não é pior porque lá os governadores governam e o voto distrital tira do jogo os parlamentares oportunistas que usam a representação em benefício próprio.
Não consigo entender como haja quem diga que vivemos um longo período de estabilidade, diante de um insucesso tão cabal, de uma experiência tão cheia de solavancos, impeachments, maus governos, hipertrofia da máquina pública e práticas políticas impregnadas de péssimo odor... Só quem criou um nirvana para si e nele se instalou entre almofadas e perfumes pode descrever com tamanha imprecisão a realidade nacional.
A Constituição de 1988 é tão errada em sua concepção, que, desde o início, governar é lhe propor emendas e remendos. O Brasil é o país das PECs. Todo candidato ao Congresso leva no bolso, para mostrar aos eleitores, um elenco de PECs que irá propor. Antes que qualquer novo governo se instale, sua assessoria se dedica a elaborar um pacote de PECs sem as quais nada do que foi dito na campanha eleitoral poderá ser cumprido. Nos habituamos a conviver com tais disparates porque a realidade é assim mesmo...
Descrevo esse quadro, tão real quanto sofrido na carne cívica do povo brasileiro, para dizer que os últimos cinco ou seis anos passei a chamar a Carta de 1988 de “queridinha do vovô”. Como seria bom se o que nela está escrito com base no Direito Natural sobre liberdade de opinião e expressão, devido processo, dignidade humana, democracia, representação política e independência dos poderes, preservasse sua integridade e vigência!
Como seria melhor a situação social política e econômica do país se a porta da rua fosse, mesmo, serventia da casa para remoção de poderosos fanfarrões, aproveitadores ociosos e incompetentes dispendiosos!
*Percival Puggina (80)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
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