A separação de uma criança de sua família de origem é um momento de grande sofrimento, especialmente quando marcada por abuso, negligência ou violência. Nesse momento, o acolhimento familiar se torna uma estratégia ideal para atender às necessidades individuais de cada criança, proporcionando cuidados personalizados que favorecem o desenvolvimento de vínculos afetivos seguros e auxiliem na ressignificação de toda violação vivida.
O acolhimento familiar permite que as questões emocionais e comportamentais sejam olhadas e cuidadas de forma individualizada. O desafio da família acolhedora é ajudar essa criança a ressignificar a sua história a partir de uma vivência afetiva, protetiva, segura e com um novo repertório emocional e de comportamentos que as crianças e adolescentes não viveram antes.
Já para as crianças, o principal desafio é compreender a sua história, e se abrir para essa nova realidade aproveitando ao máximo a experiência afetiva e protetiva que está inserida. Ela vai perceber que há uma forma diferente de viver, a partir dos vínculos estabelecidos com as famílias acolhedoras. Para se sentirem confiantes e seguras, é preciso cuidado - que vai além das necessidades básicas.
Além de oferecer abrigo, a família acolhedora proporciona um ambiente seguro e afetuoso - fundamental para que a criança possa viver a infância plenamente, brincando, explorando, aprendendo sem medo. A criança se sente autêntica, podendo expressar suas emoções sem medo de ser quem ela é. Isso facilita o desenvolvimento emocional e comportamental, ajudando-a a confiar no adulto que a acolhe e a compreender que o amor e o cuidado fazem parte de sua vida cotidiana.
Para que o acolhimento familiar seja bem-sucedido, é necessário que existam famílias dispostas a assumir essa responsabilidade com empatia, paciência e dedicação. O acolhimento não deve ser visto apenas como um “ajuste temporário”, mas como uma chance de transformar a vida de uma criança. A campanha “Amor que cresce com você” é um exemplo de iniciativa que busca recrutar novas famílias para oferecer apoio afetivo para essas crianças, oferecendo o que mais necessitam: amor, segurança e a chance de viver uma infância feliz.
Ainda existem mitos sobre o acolhimento familiar que precisam ser combatidos. Muitos acreditam que é uma responsabilidade exclusiva do poder público ou que exige grande sacrifício pessoal. A verdade é que a solidariedade e a corresponsabilidade de todos são essenciais para o bem-estar das crianças e adolescentes.
Quando os vínculos afetivos são genuínos e constantes, eles oferecem segurança, proteção e a possibilidade de cura, crescimento e desenvolvimento integral. O acolhimento familiar é, portanto, um ato de amor que vai além de dar um lar: oferece cuidado, estabilidade emocional e a oportunidade de ressignificar histórias de vida.
*Julia Salvagni
Psicóloga e coordenadora do serviço e vice-presidente do Grupo Aconchego
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