Lidar com a instabilidade do câmbio é um dos maiores desafios para as empresas brasileiras que atuam no mercado internacional. Entretanto, uma alternativa para elas é utilizar o hedge cambial, que serve para mitigar os riscos da variação das moedas e permite proteger o planejamento financeiro e as margens dos negócios. Apesar da grande disponibilidade de instrumentos de hedge - utilizados para assegurar os preços de produtos e serviços adquiridos ou vendidos para outros países -, a adesão a essas estratégias ainda é baixa. E, enquanto isso, os resultados financeiros das empresas dependem do bom humor do mercado.
O aumento no volume de negociações cambiais reforça a relevância do tema. Em maio, segundo a B3, as negociações de futuros de moedas chegaram a 683 mil transações, movimentando 6,7 milhões de contratos. Isso representa um crescimento significativo em relação a março, quando foram registrados 601 mil negócios e 6,59 milhões de contratos. Apesar desse aumento, a sensação é de que muitas empresas brasileiras permanecem alheias a esse movimento, tratando a gestão cambial como um detalhe, quando deveria ser uma prioridade.
A economia nacional, especificamente, sujeita a oscilações constantes, torna esse descuido ainda mais perigoso. Movimentações bruscas no câmbio podem corroer os ganhos de uma exportação ou tornar insustentável a importação de insumos. O Brasil, sendo vulnerável a mudanças políticas e choques globais, exige das empresas um olhar atento para mitigar riscos. Um exemplo disso é que uma pesquisa recente do U.S. Bancorp apontou que 60% dos executivos de finanças corporativas afirmam que o apetite por proteção cambial aumentou devido às incertezas relacionadas às eleições.
Não basta produzir com eficiência e vender a bons preços; é fundamental garantir que o lucro projetado não seja engolido por uma repentina oscilação da moeda estrangeira. O engajamento das empresas na utilização de mecanismos para proteção cambial ainda é pequeno pois tratam a variação cambial como um fator externo sobre o qual não há controle. O resultado? Lucros comprometidos e incertezas constantes.
É preciso intensificar o uso desse produto, mas de forma correta. Existem alguns casos emblemáticos que mostram companhias que apostaram em um determinado movimento cambial e acabaram enfrentando prejuízos catastróficos. O hedge deve ser uma ferramenta de segurança, não um corta-caminho para o ganho fácil.
*Francisco Bassoli
Administrador, Francisco Bassoli é formado em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atuou como Gerente de Negócios Internacionais no Itaú e como Superintendente Comercial na Travelex, empresa britânica especializada em câmbio, além de ocupar o cargo de Gerente Regional de Câmbio no Safra. Desde 2023, é sócio-fundador da Kótto, boutique com expertise em serviços financeiros, investimentos e câmbio.
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