O Tríduo Pascal, que se inicia na Quinta-feira Santa e se estende até o Domingo da Páscoa, é o ponto culminante de todo o ano litúrgico da Igreja Católica. Trata-se de um convite profundo para os fiéis mergulharem no mistério central da fé cristã: a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Durante esses três dias sagrados, todas as paróquias do mundo seguem um mesmo rito litúrgico, com orações, leituras bíblicas e gestos simbólicos que unem a Igreja Universal em oração e reverência.
Embora muitas paróquias tenham programações específicas, o rito é o mesmo em toda a Igreja Católica. Isso significa que, independentemente da paróquia escolhida, cada fiel encontrará os mesmos momentos litúrgicos — a Ceia do Senhor, a Celebração da Paixão e a Solene Vigília Pascal — conduzindo-os por um itinerário espiritual intenso e transformador.
O pároco do Santuário Nossa Senhora da Abadia, padre Paulo Vital, destaca que a Semana Santa é a síntese da caminhada cristã:
“A Semana Santa é a grande semana da fé cristã e tem início no Domingo de Ramos, depois dos 40 dias que a antecedem em preparação, onde se propõe uma caminhada de jejum, oração e caridade. Iniciamos a Semana Santa com o Domingo de Ramos, onde se lê a Paixão de Jesus e sua entrada triunfal em Jerusalém. Ele, como Filho de Deus, chega à cidade santa para se oferecer em sacrifício pela salvação do mundo. É aclamado como o rei, o Filho de Davi, com direito de reinar sobre Israel em nome de Deus. Israel somos todos nós — o novo Israel são aqueles que se tornam filhos de Deus pela adesão na fé a Jesus Cristo, salvador e redentor.”
Quinta-feira Santa: o amor que serve
Robson Silva/ Santuário da Abadia

Quinta-feira Santa com celebração do amor que serve, missa de lava-pé e a última ceia de Jesus Cristo.
A Quinta-feira Santa marca o início oficial do Tríduo Pascal. Neste dia, a Igreja celebra a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial, com a tradicional Missa da Ceia do Senhor. Durante a celebração, os fiéis são convidados a refletir sobre o mandamento do amor e o exemplo de humildade deixado por Cristo.
“Na Quinta-feira Santa se recorda a última ceia de Jesus com os discípulos, onde Ele dá o novo mandamento e lava os pés dos apóstolos em sinal de humildade”, explica o padre Paulo. “Ele mesmo diz: ‘Eu sou Senhor e Mestre e estou aqui lavando os pés, fazendo serviço de escravo’. O lava-pés é a prática do amor — é servir ao outro, estar à disposição do outro em nome de Deus, mesmo que esse outro me persiga ou me crucifique. É o amor até aos inimigos.”
Após a ceia, Jesus vai ao Horto das Oliveiras e inicia sua agonia espiritual. É nesse local que Ele é traído por Judas, preso pelos guardas do templo e levado a julgamento.
Sexta-feira Santa: o silêncio do sacrifício
A Sexta-feira da Paixão é o único dia do ano em que não se celebra a Santa Missa. A liturgia é marcada pela Celebração da Paixão do Senhor, leitura do Evangelho, orações universais e a Adoração da Cruz.
“Na Sexta-feira Santa temos a celebração da Paixão às 15h, hora da morte de Jesus, celebrando esse momento supremo de amor, de entrega infinita pelos pecadores e pelo mundo inteiro”, afirma o padre Paulo. “Jesus redime e resgata o mundo para Deus, toma para si todas as dores da humanidade para nos entregar a sua vida divina.”
Papa escreve as meditações da Via-Sacra no Coliseu
Mesmo em recuperação, o Papa Francisco fez questão de escrever pessoalmente as meditações da Via-Sacra de 2025, que será celebrada no Coliseu, em Roma. A informação foi confirmada pelo Vatican News e destaca a intenção do pontífice de manter o foco em temas como sofrimento humano, guerras, injustiças e a compaixão ativa dos cristãos.
“Esta Sexta-feira Santa será um momento de grande interiorização para o Papa, que com humildade e oração se une a todos os que sofrem, e convida os fiéis a viverem com profundidade o mistério da Cruz”, afirma a nota do Vaticano.
Sábado Santo: a vitória sobre a morte
O Sábado Santo é um dia de silêncio e expectativa. À noite, a Igreja celebra a Vigília Pascal, considerada a principal missa do ano. A cerimônia começa com a bênção do fogo, acendimento do Círio Pascal e segue com a renovação das promessas batismais, além do batismo de adultos.
“Após a Sexta-feira Santa celebramos o Sábado Santo. Não é mais o antigo ‘sábado de aleluia’. É o dia em que se recorda Jesus no túmulo, à espera da ação de Deus que o ressuscita para a vida divina”, ensina padre Paulo. “A celebração começa com a bênção do fogo, que simboliza a purificação e a vida nova. Também a água é abençoada, representando o batismo, a vida nova em Cristo.”
Ele explica que essa cerimônia remonta à libertação do povo hebreu no Antigo Testamento:
“As leituras recordam a saga de Israel, libertado do Egito por Moisés. Assim como Moisés atravessou o mar vermelho com o povo escravizado, Jesus, pela cruz, nos liberta do pecado. A água e o fogo são sinais dessa nova vida. A Vigília é uma missa longa, com várias leituras e salmos, começando na escuridão até que as velas e as luzes vão se acendendo, simbolizando a vitória da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte.”
Domingo de Páscoa: a nova criação
Esperamos a vida eterna e o perdão dos nossos pecados como filhos e filhas de Deus
“O domingo é o grande dia da Páscoa. Foi na madrugada de um domingo que Jesus ressuscitou. Ele apareceu aos discípulos em sua nova condição divina, oferecendo também a nós a vida nova”, destaca o padre Paulo. “A Páscoa cristã é consequência da Páscoa judaica, mas é também o anúncio da Páscoa de cada um de nós: esperamos a vida eterna e o perdão dos nossos pecados como filhos e filhas de Deus.”
A celebração da Ressurreição do Senhor é o ápice da fé cristã. A alegria toma conta das comunidades, os sinos voltam a soar e a Igreja proclama: Cristo vive! Aleluia!
Durante os oito dias seguintes, a chamada Oitava de Páscoa, a liturgia continua celebrando a Ressurreição como se fosse um único dia. É o tempo da nova criação, da esperança renovada e da certeza de que a morte não tem a última palavra.
A confissão como preparação espiritual
É preciso renovar-se para viver a vida nova em Cristo
Durante a Quaresma e especialmente na Semana Santa, a confissão é um gesto essencial de conversão e reconciliação com Deus. Trata-se de um caminho de cura espiritual, onde o fiel reconhece seus pecados, recebe o perdão e se prepara para acolher a Ressurreição de Cristo com o coração renovado.
“Celebrar a Páscoa não é possível com vícios e costumes antigos. É preciso renovar-se para viver a vida nova em Cristo”, reforça o pároco.
Participar com fé, onde você estiver
Todas as paróquias seguem o mesmo ritmo litúrgico neste período. Por isso, onde quer que esteja, o fiel pode procurar sua comunidade paroquial e viver com intensidade os momentos da Quinta-feira Santa, Sexta-feira da Paixão e Sábado Santo.
A Semana Santa é um chamado à reflexão, ao perdão, à partilha e, acima de tudo, à vivência concreta do amor de Cristo.