A crise da economia, agravada pela redução de recursos privados e a alta do preço de insumos, traz um quadro preocupante para a agricultura. A perspectiva traçada pela Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima uma queda de produtividade de pelo menos 5% em relação à safra anterior.
“A safra teve um alto custo, de aproximadamente, R$ 1.500 por hectare, e estamos observando uma queda nos valores das commodities [em torno de 50%]”, comentou o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (FAMASUL), Eduardo Riedel, que participa dos trabalhos da Comissão em Brasília (DF). Riedel explica ainda que esta redução de 5% da produtividade foi apontada pelos técnicos mesmo se não houver qualquer intempérie climática, em função do menor uso de tecnologia.
A saída para a crise pode ser minimizada caso os recursos anunciados cheguem rapidamente aos produtores rurais e se o governo Federal alocar recursos para comercialização para a próxima safra em instrumentos como o PEP – Prêmio de Escoamento de Produto -, ou PROP - Prêmio de Risco para Aquisição de Produto Agrícola Oriundo de Contrato Privado de Opção de Venda.
Demanda
O plantio da safra 2008/2009 tem cerca de 30 dias para ser encerrado. Da demanda de crédito de R$ 3,2 bilhões, apenas 15% será atendida pelo crédito oficial. Riedel explica que apesar dos recursos serem em valores semelhantes aos recursos da safra passada, o déficit ocasionado pelo aumento do custo de produção trouxe desvalorização dos recursos da safra. “Temos ainda mais um agravante desta situação: as traddings e fornecedores de insumos também reduziram seus financiamentos e as empresas de fertilizantes só estão entregando seu produto mediante pagamento à vista”, acrescentou o vice-presidente.
Cerca de 20% dos insumos ainda não foram entregues e com o fim do plantio da safra se aproximando não se sabe se haverá tempo hábil para a entrega do produto, o que acarreta queda da produtividade. Outra preocupação é a demora do Governo em liberar os recursos anunciados recentemente para assegurar o plantio. “O que observamos todos os anos, tanto para a agricultura empresarial quanto para a agricultura familiar, é que o volume de recursos programado e anunciado pelo Governo Federal para o Plano Safra não chega na sua totalidade ao produtor. Até agora, apenas 24% foi liberado”, criticou o vice-presidente.
Na quarta-feira da próxima semana, os membros da Comissão da CNA voltam a se reunir e cobrar dos deputados federais mais recursos e agilidade no fluxo operacional para a obtenção do financiamento de plantio.
Crise
A crise no mercado financeiro internacional levou a CNA a reduzir para 9,5% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em 2008. A estimativa anterior era de 11% a 12%. De janeiro a julho, a expansão do PIB do setor é de 6,79%. A entidade também registrou queda no percentual de produtores que fixaram contratos futuros e adotou o hedge, mecanismo de proteção dos preços das commodities contra as oscilações do dólar. Em 2008, este índice está em 24%, contra 45% verificados na safra passada. (Com assessoria)