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Rural Segunda-feira, 27 de Agosto de 2012, 10:07 - A | A

Segunda-feira, 27 de Agosto de 2012, 10h:07 - A | A

Produtores rurais querem lei que controle vinhaça de usinas

Da redação (KS)

Fazendas rurais que têm como vizinhas as usinas de açúcar e álcool estão com um surto de mosca do estábulo há quase um mês em Mato Grosso do Sul. Os proprietários rurais cobram uma lei estadual que determine a quantidade de vinhaça que as usinas podem jogar ao solo e ainda regras mais claras sobre o manejo dos descartes das moendas como, por exemplo, as tortas de filtro. A alegação é que os insetos hematófagos (sugam sangue) se procriam nesses locais.

As moscas do estábulo colocam seus ovos no vinhoto (vinhaça) ou na palhada úmida da cana em decomposição. Depois da fase de larva precisam de sangue para iniciar novo ciclo e é ai que atacam rebanhos bovinos e bubalinos. Há registros também de ataques aos seres humanos.

Os proprietários rurais sugerem uma lei estadual nos moldes da de São Paulo, a qual limita o volume de vinhoto que as usinas podem lançar ao solo e com isto evitam poças do produto. Além disso, após cada aplicação o solo é revolvido para não deixar líquido exposto. A palhada da cana também é misturada a terra.

Com surto nas cidades de Rio Brilhante, Nova Alvorada do Sul, Maracaju, Angélica e municípios vizinhos, os produtores rurais se reuniram na tarde dessa segunda-feira, 20, na sede da Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul) para cobrar dos representantes das usinas a Associação dos Produtores de Bionergia de Mato Grosso do Sul (Biosul) uma medida de urgência por parte das indústrias para acabar com os locais de procriação da mosca.

Uma das maiores queixas dos fazendeiros é sobre o desleixo de certas unidades sucroalcooleiras que não dão manutenção nos canos que levam a vinhaça até as lavouras. Um produtor da cidade de Nova Alvorada flagrou encanamento vazando formando poças e lagoas. “É ali que a mosca se aproveita e coloca os ovos. Deixamos claro que não somos contra as usinas porque elas trazem emprego e renda para muita gente, porém exigimos que o lucro deles não seja a custas do nosso prejuízo”, apela.

Para ter uma ideia do prejuízo dos produtores rurais que lidam com gado, Milton Barbosa tem uma leiteria na cidade de Nova Alvorada do Sul que produzia antes do surto de mosca do estábulo 1.200 litros de leite ao dia. Depois a produção caiu para 900, 600, 400 e agora está em 200 litros. Ele suspeita também que o recente aumento no número de aborto nas vacas seja por conta da ação da mosca do estábulo que de tanto sugar deixa os animais anêmicos, além de trazer outras doenças. “Todo dia temos que sair a campo para recolher bezerros e coloca-los num galpão escuro para não serem atacados. Na semana passada três deles morreram e vai morrer mais se uma atitude de extrema urgência não for tomada pelas usinas”, diz.

O médico e produtor rural Rubens Trombini também já sente reflexos negativos depois do surto da mosca do estábulo em sua propriedade. Ele cobra das usinas uma rápida medida para frear a procriação da mosca. “Se um gado meu entra na lavoura de cana eu tenho que ir lá e tirar, não chamar a Embrapa pra fazer isto. Então a usina tem que cuidar da mosca”, alfineta ao lembrar que as usinas por meio da Biosul convidaram a Embrapa para estudar o caso e encontrar uma solução.

O engenheiro civil e proprietário rural Marco Paulo Teixeira Marconde é mais radical e defende medida extrema Cintra as usinas que estão possibilitando a procriação da mosca nas tortas de filtro, vinhaça e também na palhada da cana. “O caso é tão sério que o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) deveria cancelar a licença ambiental destas usinas. É questão de saúde pública porque as pessoas estão ficando doentes.”

Resposta das usinas

O presidente da Biosul, Roberto Hollanda afirma que depois da notícia de surto da mosca do estábulo em propriedades, a entidade está orientando os usineiros a cuidar melhor do manejo da vinhaça e da palhada, bem como da torta de filtro como medidas de urgência. Além disso, garantiu que vai dar condições para que os técnicos da Embrapa pesquisem o fenômeno nas propriedades, já que a entidade precisa de verba e meio de locomoção para isso. “Não podemos queimar a cana porque a lei proíbe. Também não podemos queimar a vinhaça porque ela é um importante adubo.

Foi sugerido na reunião de segunda a criação de uma patrulha sanitarista para acompanhar e fiscalizar o trabalho de manejo das usinas e nas propriedades rurais, principalmente onde há surto da mosca. Já em longo prazo é vista a possibilidade de parceria com técnicos norte americanos que já possuem tecnologia de produção de machos estéreis e, assim, gradativamente ir acabando com a população do inseto. (Fonte: Acrissul)
 

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