A estrada que liga Anastácio, a 134 quilômetros de Campo Grande, aos assentamentos São Manoel e Monjolinho é uma amostra da dificuldade que pequenos produtores rurais enfrentam. Quando um carro passa pela via estreita, o outro deve parar e esperar a poeira baixar para continuar o caminho que leva à escola da comunidade. Em uma das manhãs rotineiras em São Manoel, chegou o carro do “Projeto de Apoio ao Território da Reforma”.
Reunidos com os produtores locais, o agente de desenvolvimento rural, Paulo Tanoye, e o coordenador do projeto, Antonio Minari, acertaram as atividades que serão desenvolvidas na região: agroextrativismo, apicul tura, fruticultura, olericultura. Esta última tem atenção especial dos produtores por ser a matéria-prima da famosa farinha, festejada todos os anos na maior festa de Anastácio.
Na reunião, no início de dezembro, os problemas expostos foram semelhantes aos dos pequenos produtores ao longo do Território da Reforma, composto por cidades como Bonito e Maracaju. O principal obstáculo, a comercialização, deixa os produtos longe das prateleiras dos supermercados das cidades próximas. “Eu fico espantado de ir ao mercado em Anastácio e ver que todas as frutas são de São Paulo e nada é daqui”, reclama um agricultor.
A pecuária leiteira salva as famílias no fim do mês. Quase todos os produtores vendem o leite produzido por pequenos rebanhos direto ao laticínio ou consumidor. Sem união na hora de vender e com tamanha oferta quem bota o preço são os laticínios. “Eles dizem que têm custos altos, mas nós produzimos praticamente para alimentar a vaca”, relata Mario Vilas Boas, que divide seus 21 hectares para plantações de banana, cana-de-açúcar e feijão. Naquele dia, o produtor recebera o cheque do laticínio com o qual costuma negociar e não gostou do que viu. “Me pagaram 0,27 por litro, está cada vez mais baixo”, diz.
Vilas Boas concorda que o “Projeto de Apoio ao Território da Reforma” pode ajudar, e muito. O agente de comercialização, que entra em campo em 2009, vai identificar potencialidades de mercado para a produção de pequenos agricultores de 11 cidades de Mato Grosso do Sul. “Esse é o cara do projeto, o elo que orienta agricultores familiares em grupos que atuarão principalmente com produção, finanças, comércio e divulgação”, explica o coordenador do projeto.
As uvas dos Loreto
José Loreto circula c om a sua motocicleta entre os assentamentos São Manoel e Mon! jolinho, com cerca de 300 famílias, todos os dias. O agricultor se acostumou a enfrentar as dificuldades da estrada. Ele planta uvas onde todos apostam no leite, menos trabalhoso. “Fiquei acampado por três anos até conseguir essa terra. Há oito anos decidi plantar uvas e olha só”, diz, apontando para a parreira ao lado da pequena casa. Sua equipe, esposa e filho, plantam, colhem e colocam o produto cuidadosamente nas caixas personalizadas feitas por um designer de Anastácio.
As caixas chegam aos mercados e mercearias da região na garupa da moto da família, o meio de transporte mais usado entre os agricultores. “É barato comprar e mais barato manter”, explica Loreto, que planeja fazer faculdade de agronomia no futuro e comprar um cam inhão. O veículo seria útil na distribuição da mercadoria. “É de pessoas como os Loreto que o projeto precisa”, diz Minari, enquanto prova uma das uvas da propriedade.
O “Projeto de Apoio à Produção Sustentável no Território da Reforma” tem como objetivo desenvolver a comercialização de pequenas propriedades de onze cidades do Estado por meio de ações que incentivam a produção sustentável. O projeto é desenvolvido por Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional de MS (SENAR/MS), Federação de Agricultura e Pecuária de MS (FAMASUL) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/MS). A execução fica por conta da Fundação Educacional para o Desen volvimento Rural (FUNAR). Sindicatos Rurais e prefeituras do! Estado apóiam o projeto. (Fonte: Sato Comunicação)