A Pecuária Orgânica, existente há mais de 250 anos no Pantanal, ganhou destaque na última edição da Revista Globo Rural. No texto, produzido por Sebastião Nascimento com fotos de Ernesto de Souza, é abordada a maneira como a produção orgânica é realizada e como pecuaristas criam gado solto sem derrubar a mata e ainda ganham dinheiro com o boi verde.
Os municípios sul-mato-grossenses de Aquidauana, Rio Negro e o coração do Pantanal, a Nhecolândia (a maior área do Pantanal, com mais de 23.600 quilômetros quadrados de extensão) em Rio Verde, serviram de cenário, fonte e inspiração na produção do material. Pecuaristas roubaram a cena e se tornaram personagens principais de um dos assuntos que tem ganhado mídia nacional: como produzir e preservar.
O Pantanal Brasileiro possui uma área de 150 mil quilômetros quadrados e é dividida em 11 sub-regiões, sendo que 65% desse território é sul-mato-grossense. Nessa região, produtores, na maioria tradicionais, usam o mesmo pasto há anos. De acordo com o texto, o uso do pasto nativo na alimentação do gado e o manejo adaptado ao ciclo de cheia e seca garantem a sustentabilidade.
São mais de 4 milhões de cabeças, sendo que 90% são da rústica raça nelore. Cada hectare de pasto no Pantanal recebe somente uma rês, ou seja, a produtividade é baixa. O Brasil possui um plantel próximo de 180 milhões de bovinos. O trabalho das ONGs e Embrapa ficou encoberto devido ao barulho provocado pela questão do desmatamento na Amazônia, quando indústrias deixaram de comprar carne de regiões supostamente acusadas de derrubar árvores.
“O boi é o bombeiro do Pantanal”, assim define Leonardo de Barros, presidente da ABPO (Associação Brasileira de Pecuária Orgânica) quanto ao bioma do Pantanal.
Na reportagem, Leonardo apresenta a parceria entre a ABPO e a ONG WWF-Brasil, onde criaram um protocolo interno de processos produtivos e de responsabilidade socioambiental para a produção de carne orgânica. A WWF-Brasil foi uma das ONGs responsáveis pelo estudo que constatou a integridade da vegetação nativa do Pantanal.
Presidida pelo fazendeiro Francisco Maia, a Acrissul defende a criação de um selo de origem para a pecuária sustentável do Pantanal. “Queremos mostrar que não tempos apenas tuiuiús e rios maravilhosos, mas também pecuária sustentável e boi verde”. Segundo ele, o produtor pantaneiro está descapitalizado e é preciso que o governo volte os seus olhos para a região. “Tanto se fala do desmatamento da Amazônia e nenhuma linha é voltada para o nosso bioma virgem. Quem preserva é que merece apoio”, completou Maia.
Sebastião Nascimento finaliza a matéria com frases lembradas pelos pantaneiros explicando sobre a região de forma sucinta: “O Pantanal ensina”, Abílio de Barros, autor do livro Gente Pantaneira; “O Pantanal não aceita desaforos”, Tony Moura, fazendeiro em Aquidauana; “O que está em extinção no Pantanal é o homem, não os bichos”, Cezar Augusto Carneiro Benevides, historiador e autor do livro “Miranda Estância”.
ABPO
A ABPO é formada por 16 fazendas certificadas para a produção de carne orgânca que seguem critérios rígidos como proibição do uso de uréia na alimentação do gado e de hormônios para engorda, além de tratamento a base de fitoterápicos e homeopáticos em caso de doença. O foco está no respeito ao meio amniente.
Certificação do Boi Verde
Recentemente, pecuaristas pantaneiros, a ABPO e diversas outras entidades ligadas a Pecuária Orgânica, estiveram na Assembléia Legislativa de Campo Grande (MS) entregando aos parlamentares da Casa, uma pesquisa realizada pela Embrapa Pantanal, onde aponta que mais de 85% do bioma do Pantanal contém a sua vegetação nativa preservada. A intenção é criar um selo para toda a produção orgânica e sustentável da região Pantaneira.
Para Chico Maia, presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) a matéria veio em boa hora. “Estamos em uma luta para a conquista da certificação dos produtos orgânicos e, ganhar uma mídia desse porte só tem a fortalecer o ideal dos pecuaristas que abraçam a causa da sustentabilidade”, finaliza. (acrissul)