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Rural Terça-feira, 31 de Março de 2009, 14:05 - A | A

Terça-feira, 31 de Março de 2009, 14h:05 - A | A

Valter Pereira alerta: cortes podem gerar crise no campo

Redação Capital News (www.capitalnews.com.br)

"O Governo está cometendo um enorme equívoco que pode provocar uma redução de 30% da área plantada, desemprego em massa no campo, estagnação das exportações, queda de superávit e o pior, desabastecimento e a instalação da crise no mercado interno de alimentos". O alerta foi feito nesta terça-feira (31.03) pelo senador Valter Pereira (PMDB/MS), ao comentar a intenção do Palácio do Planalto em bancar corte de 47% de recursos do Ministério da Agricultura.

Segundo Pereira, diante da crise financeira mundial, a decisão do governo não pode passar despercebida pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), que realizou audiência pública para discutir a antecipação de crédito do Plano Safra 2009/10.
De acordo com ele o corte linear, embora se justifique em razão da crise, merece ser reavaliado em virtude da escolha de oportunidades. "A ONU já prevê uma grande redução no estoque de alimentos do mundo, e esta janela de oportunidades para o Brasil não pode ser desperdiçada; com o corte o setor do agronegócio e da agricultura familiar sofrem um duro revés", frisou o presidente da CRA.

Valter Pereira insistiu nos números do agronegócio brasileiro: o setor é responsável por 36% do PIB, 34% das exportações e 35% da geração de emprego e renda. "Com essa notícia do corte já começamos a sentir um amargor que pode gerar grandes e perigosas frustrações à economia brasileira", afirmou.

A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) vai realizar, no próximo dia 7 de abril, uma nova audiência pública para discutir o Plano Safra para a Agricultura. O requerimento foi proposto pela senadora e presidente da Confederação Nacional dos Agricultores (CNA), Kátia Abreu (DEM-TO).

O objetivo do encontro, segundo explicou Kátia Abreu, é discutir o endividamento do setor agrícola no Brasil com o vice-presidente de Crédito e o vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil, e também com o presidente do Banco Central. "Nós não estamos falando de qualquer negócio, não. Estamos falando de um terço do PIB (Produto Interno Bruto), um terço do emprego e um terço da exportação do Brasil", afirmou a senadora.

Os convidados para a audiência desta terça são o diretor de Liquidações e Desestatização do Banco Central, Antônio Gustavo Mãos do Vale; o professor da Universidade de São Paulo (USP) e representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Guilherme Leite da Silva Dias; o Secretário de Finanças e Administração da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Juraci Moreira Souto e o gerente-executivo da Diretoria de Agronegócios do Banco do Brasil, Reinaldo Kazufumi Yokoyama.

Audiência - "Dos R$ 30 bilhões previstos para o Plano Safra do biênio 2008/2009, que se encerra no próximo dia 30 de junho, já foram gastos R$ 20 bilhões", comunicou o gerente-executivo da Diretoria de Agronegócios do Banco do Brasil, Reinaldo Kazufumi Yokoyama, em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).

Segundo o representante do Banco do Brasil, devido à dificuldade que os agricultores tiveram para recorrer a outras fontes de recursos, os financiamentos oficiais aumentaram 32% nos dois últimos anos. Reinaldo Yokoyama afirmou, ainda em relação à safra 2009/2010, que já foi iniciada, há 15 dias, junto ao governo federal, ação no sentido de comprar antecipadamente insumos.
Já o professor da Universidade de São Paulo (USP) e representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Guilherme Leite da Silva Dias, afirmou que a taxa de inadimplência no setor agrícola já está acima dos 10%, podendo chegar, em breve, a 15%. Ele explicou que esse endividamento é perigoso, pois com dívidas, o agricultor não tem acesso a novas fontes de financiamento para a safra que se inicia.

"Se estão subindo as taxas de juros e também a inadimplência, estamos caminhando em uma direção, que é a trava do sistema de créditos. Essa é uma situação complicada", afirmou o representante da CNA. Por sua vez, o secretário de Finanças e Administração da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Juraci Moreira Souto, explicou que, na visão da instituição, a política de liberação de créditos para o setor agrícola é apenas um dos importantes componentes para a manutenção do sistema.

"Para nós, o crédito precisa estar acompanhado de outros componentes importantes, como a assistência técnica, a questão do mercado e as taxas de juros, para que possa dar certo. É um processo muito mais amplo do que a simples concessão de créditos", explicou o representante da Contag.

Ao ser questionado pelo senador Osmar Dias (PDT-PR), sobre onde há os maiores endividamentos no setor agrícola no Brasil, o diretor de Liquidações e Desestatização do Banco Central, Antônio Gustavo Matos do Vale, afirmou que a maior concentração de inadimplência está na região de fronteiras, principalmente nos estados de Mato Grosso, Tocantins e Goiás. "São os grandes produtores que estão investindo nessas áreas novas. Estão diretamente ligados ao crédito bancário", explicou Antônio do Vale. Segundo o representante do Banco Central, a inadimplência dos pequenos e médios agricultores está bastante associada a acidentes de clima, como, por exemplo, a seca no sudoeste do Paraná.
 

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