Em visita a redação do Capital News, o empresário José Lopes, concedeu entrevista sobre o evento que ele realiza a 11 anos com grande sucesso, o Moto Road, fala emoção de realizar o evento, da falta de apoio e envolvimento empresários e órgãos públicos de Campo Grande, e da novidade da etapa do Moto Road em Florianópolis em novembro este ano e muito mais confira.
Capital News – A 11ª Edição do Moto Road atingiu as suas expectativas?
José Lopes: Essa foi realmente umas das melhores edições. Muitos motociclistas, como sempre, vieram até Campo Grande. Deram certo “brilho” para a cidade, quem pôde acompanhar, viu a movimentação no final de semana. Mais uma vez não tivemos nenhuma decepção no evento, nenhum furto, nenhuma briga e nenhum acidente. Admito que esse foi um dos melhores anos em toda a história do Moto Road. Neste ano contamos com a presença de aproximadamente 60 mil pessoas durante os quatro dias de evento e mais de oito mil motociclistas. Nós fazemos um balanço positivo, já que houve uma grande dificuldade, assim como os outros anos, em viabilizar um evento como este.
CP News – Qual o impacto na economia sul-mato-grossense causada pelo evento?
José Lopes: Hoje o Moto Road é um evento essencialmente turístico, segmentado, voltado para um público de alto poder aquisitivo, que são os motociclistas, de certa forma, é um público muito qualificado. O fato de ser uma atração turística implica em instalações em hotéis, compras na cidade, até a própria manutenção que os motociclistas realizam em suas motos é importante para a cidade. Um motociclista que se desloca do Rio de Janeiro para vir até Campo Grande, vai fazer a revisão de sua moto aqui na cidade para voltar, e isso é importante. Acaba sendo uma “cadeia” de empresas envolvidas. Só nesse ano, tivemos 600 pessoas ligadas a várias empresas, entre segurança, equipamento de som, bilheteria e outros setores de organização do evento. Isso sem contar outras empresas que acabem ficando envolvidas indiretamente, como a rede hoteleira da cidade.
CP News – E você chega a receber um reconhecimento de algumas empresas beneficiadas por essa contribuição econômica trazida pelo Moto Road, como por exemplo, da rede hoteleira?
José Lopes: Absolutamente nada. Nem mesmo um “Muito Obrigado”. No ano passado, ofereci um hotel da cidade para que alguns artistas se hospedassem, e após o término do evento, o único reconhecimento que eu recebi do hotel foi um comunicado de atraso de uma fatura. É óbvio que acabou ocorrendo um pequeno equívoco de nossa parte e a nossa equipe providenciou o pagamento imediato, mas foi só isso. A rede hoteleira daqui de Campo Grande ainda é muito fria, ela não se envolve com o evento. E isso acaba afetando na organização e nos limita de fazer um Moto Road melhor a cada edição. Em minha opinião, já está mais do que na hora de haver um envolvimento principalmente por parte da Secretaria de turismo e das agências de turismo com o evento, que é oferecido sem custo nenhum todo ano. A recepção dos motociclistas é muito importante, e esse envolvimento é realmente necessário. Mesmo com a minha equipe, não posso fazer tudo. O grande obstáculo não é dinheiro, é a falta de envolvimento da cidade de Campo Grande com o Moto Road. E os motociclistas percebem essa indiferença, alguns chegam até a me perguntar se são bem vindos na cidade. Chega a ser uma ironia, já que todo mundo ganha, mas grande parte não participa.
CP News – Um evento deste porte, com alto investimento, chega a receber o apoio de órgãos públicos do Estado?
José Lopes: Na maioria das vezes são pequenas, porém esse ano eu destaco o apoio que o Moto Road recebeu do governo do Estado, por parte do Governador André Puccinelli. Mesmo que alguns parceiros não tenham conseguido participar, o evento contou com a credibilidade e o apoio do Governo do Estado para a realização do Moto Road 2008.
CP News– Cada edição do evento serve como estudo para a próxima. Em comparação a 2007, quais foram as inovações trazidas este ano?
José Lopes: Em 2007 tivemos certa dificuldade principalmente por causa da questão dos investimentos. Mas, este ano estivemos um pouco melhor e sempre que possível tentamos trazer uma atração internacional, como foi o caso do campeão colombiano de freestyle Sebastian Media. Além das atrações nacionais, como o Joaninha, campeão brasileiro de freestyle em moto, que já tinha vindo na edição do ano passado, e a grade de shows que também foi melhor em comparação a 2007. Além da estrutura de organização, já que este ano tivemos um trabalho de divulgação que não se limitou apenas a Mato Grosso do Sul, a fim de alcançar motociclistas de outros estados. O trabalho de mídia foi mais organizado, é um evento onde no mínimo os participantes já devem se preparar com seis meses de antecedência, já que Mato Grosso do Sul fica distante dos grandes centros, como São Paulo ou Rio de Janeiro.
CP News– Como surgiu a idéia de criar o Moto Road, principalmente em Campo Grande, que é uma cidade sem a tradição em eventos deste tipo?
José Lopes: Eu sou motociclista e tive a oportunidade de conhecer vários eventos fora do Brasil, nos EUA e na Europa, onde o meio motociclista é muito forte. Já no Brasil, não havia um grande evento motociclista de destaque, é claro que havia alguns, mas grande parte era esporádico, não profissionalizado. Para se ter uma idéia, há 11 anos atrás, no Brasil não se tinha 200 moto clubes, hoje já podemos contar com aproximadamente cinco mil. O estado de Mato Grosso do Sul é o que possui o maior número de moto clube do Brasil. Hoje cada cidade possui um moto clube, o que há 11 anos ninguém sabia o que era. Como eu já vivia em Campo Grande há mais de 40 anos, resolvi investir no evento.
É claro que de início houve a resistência, alguns me chamaram de “louco”, acharam que o projeto não sairia do papel por que a cidade possuía um cenário totalmente voltado para a agricultura e pecuária, outros achavam que eu queria me candidatar para algum cargo político, hoje todos vêem que não se trata disso. Acredito que é um meio que se tem potencial. O mercado motociclista vem gerado um grande lucro para o turismo e continua crescendo. Em todo estado podemos notar outros festivais voltados para o motociclismo, como em Três Lagoas, Rio Verde, Porto Murtinho, Ponta Porá, é algo que realmente deu certo, e de certa forma isso me deixa muito feliz. Em Campo Grande, ao longo desses 11 anos, foram adquiridas várias motos, o que acaba influenciando nos impostos recolhidos pelo governo.
Para se ter uma idéia, se pegarmos somente as motos de 500 cilindradas ou superior adquiridas no mercado, já podemos somar uma quantia de aproximadamente R$ 1 milhão anual recolhidos em forma de IPVA para os cofres do governo, o que até 11 anos atrás não era se quer notado. Embora seja um festival voltado ao entretenimento, deve-se ficar claro que tudo isso é fruto de planejamento, nada disso foi feito desordenadamente ao longo desses anos.
CP News – Como foi o processo para trazer as atrações internacionais ao evento? Quais foram os astros e como foi a repercussão?
José Lopes: Quando falamos em Moto Road, falamos também em buscar um diferencial em relação a outros festivais. É necessário organizar esse diferencial, para fazer com que um motociclista, que more em São Paulo saia de sua cidade e venha até Campo Grande, por que shopping e barzinho podem ser encontrados em qualquer lugar.
Isso sem contar algumas desvantagens geográficas, como não haver praia, e até mesmo a falta de um atrativo turístico em Campo Grande, que sirva de referência para o motociclista. Apesar de ser uma bela cidade, Campo Grande possui as mesmas coisas que outra cidade possui. Dessa forma, o Moto Road sempre busca trazer esse diferencial, que faça o motociclista valorizar a sua vinda até o evento. E foi assim que aconteceu, quando trouxemos o Peter Fonda, ator de Hollywood, onde ninguém acreditou que o faríamos andar de moto pela cidade, e também o John Kay e Steppenwolf em 2004. E esse é diferencial que acaba gerando a boa repercussão do evento.
Mas para que isso aconteça, é necessário o investimento. Por trás de tudo isso tem as despesas com passaporte, hospedagem e cachês. Quando se trás uma atração internacional para o Brasil, a primeira impressão é de que ela vai se apresentar ou no Rio de Janeiro ou São Paulo, então é muito importante que haja um trabalho de mídia, para que o artista reconheça o evento em que está participando. Todos os artistas admiraram a força que o festival tem, porém não deixam de perceber as dificuldades da sua realização, a falta de estrutura em alguns quesitos. Por isso é necessário o investimento e a participação da cidade em sua realização.
CP News– Gostaria que você comentasse sobre a novidade divulgada no site do Moto Road, sobre a edição do Moto Road em Florianópolis em novembro.
José Lopes: Isso é um reflexo do que o Moto Road causa. Já havíamos recebido vários convites ao longo desses 11 anos, e dessa vez recebemos o convite do prefeito e da Secretaria de Turismo de Florianópolis. Então após vários estudos, decidimos levar a edição do Moto Road pela primeira vez até Florianópolis no mês de novembro. A data ainda será definida, acredito que dentro de duas semanas já teremos esta data confirmada. É uma ótima oportunidade para podermos divulgar o evento, pois não tenho dúvida de que dará certo. Hoje a marca Moto Road conta com o auxílio de vários motociclistas e onde quer que ela vá, eles estarão juntos. Devo lembrar que a cidade de Florianópolis tem as suas vantagens. Será um evento realizado no verão, e lá poderemos contar com mais de 42 praias, que servem como atrativo para os motociclistas. Hoje, as pessoas que acompanham o festival, querem qualidade e também querem ser bem recebidos.
CP News – Além do Moto Road, há algum outro projeto do mesmo segmento que você tenha realizado ou está em estudo?
José Lopes: Nós realizamos em Campinas o Festival Universitário, o Unifest Rock. No ano passado colocamos 400 bandas inscritas e estamos planejando fazer outra edição este ano. Fizemos também o encontro motociclístico, o Campinas Moto Week, que segue os mesmos padrões que o Moto Road. Em Caraguatatuba, fizemos durante três anos o Caraguá Bike Week, sempre atingindo as expectativas, porém o carro chefe será sempre Moto Road.
CP News – Para fãs do Moto Road, gostaria que você definisse o empresário José Lopes.
José Lopes: Eu sou uma pessoa que coloco a determinação e a emoção em minhas atividades. Tudo que realizo é à base de muito planejamento, final nem tudo é voltado apenas para o lucro. Tenho como exemplo, vários eventos, como a Festa de rodeio em Barretos, a October Fest, que começaram com tropeços, mas ainda continuam seguindo em frente, e hoje são exemplos de persistência e tradição no Brasil. Eu acredito na auto-estima de Campo Grande, e acredito que a cidade tem potencial para grandes eventos. E tudo isso é possível quando começarmos a olhar de outra maneira para a cidade, não só para as coisas que acontecem fora dela. Hoje o Moto Road é um evento que já serve de referência para outros festivais. As dificuldades sempre ocorrerão, mas as principais já foram vencidas no começo. E tudo isso é fruto do que carrego desde a primeira edição do evento, a determinação, a emoção e o trabalho árduo.