Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem da Santa Casa de Campo Grande paralisaram as atividades na manhã desta quarta-feira para reivindicar reajuste salarial e melhores condições de trabalho.
O reajuste salarial anual deveria ter ocorrido no dia 1º de maio, mas até agora, a direção do hospital não conseguiu entrar em consenso com a categoria. De acordo com a presidenta do Sindicato dos Enfermeiros de Mato Grosso do Sul (Siems), Helena Delgado, com a mudança da administração do hospital, as negociações estagnaram. “A nova direção nunca foi para a mesa conversar com a categoria. A administração passada era muito mais acessível do que a de hoje, que até agora não se reuniu com a gente”, afirma Helena.
Para a técnica de enfermagem, Adevair Deodoro de Carvalho, esse atraso nas negociações é mais uma demonstração da falta de comprometimento com os funcionários. “Além de nós trabalharmos sobrecarregados, esse atraso é um desrespeito com a gente que já recebe um reajuste muito baixo todo ano” relata a técnica.
Já Elizabeth Peralta Santana, também técnica de enfermagem, acredita que essa dificuldade na negociação é prova da falta de reconhecimento do trabalho da categoria. “É uma falta de consideração isso. A gente veste a camisa, dá o sangue e não vemos qualquer tipo de recompensa por parte do hospital” declara.
Cerca de 950 profissionais da área de enfermagem que atuam atualmente na Santa Casa aderiram a paralisação, permanecendo em atividade apenas 30% dos funcionários de cada setor, para dar o mínimo de amparo aos pacientes. Hoje, os trabalhadores e um representante da administração do hospital se reúnem para discutir o reajuste na Delegacia Regional do Trabalho.
Assembléia geral deixou Santa Casa com apenas 30% do seu efetivo
Foto: Deurico/Capital News
Reajuste X Greve por tempo indeterminado
Na primeira conversa entre o sindicato e a antiga gestão do hospital, os trabalhadores apresentaram pedido de reajuste de 15%, mas a administração chegou a apresentar proposta de 6%. “O índice de inflação é de 5.98%. Então o reajuste mesmo a gente não tem, somente o inflacionário.
A fim de chegarem a uma decisão nesta manhã, a categoria reduziu o pedido para 10%. Caso a direção da Santa Casa não entre em acordo, os funcionários podem desencadear uma greve geral por tempo indeterminado. “Nós estamos tentando até o último instante conseguir o nosso reajuste através do argumento, mas se na reunião de hoje não demonstrarem comprometimento, deveremos tomar uma decisão mais grave” afirma a presidenta do Siems, Helena Delgado.
Valores
Os enfermeiros, com faculdade de quatro anos, recebem atualmente em torno de R$ 1,9 mil. Já os auxiliares e técnicos de enfermagem recebem respectivamente R$ 641 e R$ 840.
Apesar do salário base de R$ 840 para o técnico de enfermagem, Elizabeth conta, que devido aos descontos, seu salário reduz muito. “Isso é o que eu deveria receber, mas o que chega nas minhas mãos são R$ 700”, afirma a mulher que é funcionária do hospital há sete anos.
Condições de trabalho
Para Helena Delgado, além da situação econômica, os funcionários ainda sofrem com os problemas sociais, que não têm tido a atenção da direção. “Os funcionários são atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), apesar de o hospital ter seu próprio plano, entre outras coisas, como as acomodações e tratamento” relata.
De acordo com o secretário de finanças do sindicato, João Alves Ribeiro, o Sabiá, as dificuldades da rotina de trabalho dos funcionários da Santa Casa são inúmeras. “As condições aqui {Santa Casa} são péssimas. Além da escassez de material de trabalho, há uma sobrecarga em cima dos funcionários” explica.
Sabiá afirma que cada enfermeiro chega atender até 30 pacientes na enfermagem, sendo que o correto seria no máximo sete. “O hospital está precisando de contratação. No CTI, os problemas não são só a falta de leito. A gente também têm problemas com falta de funcionários para cumprir a escala.”