Vamos falar de saudade? Da falta que me faz o primeiro homem que amei e que tanto mais me amou e da forma como não nos despedimos! Inevitável não sentir culpa das vezes em que podíamos estar juntos, mas fomos afastados e consumidos pelo tempo. Não pelo dele, que já tinha tempo de sobra, mas pelo meu. Meus compromissos e também meu cansaço. Sim, as vezes estamos cansados demais para sair de casa e visitar as pessoas que a gente ama. Outras tantas vezes perdemos tempo remoendo coisas antigas, quando deveríamos estar relembrando histórias como as da infância, por exemplo. E nós temos várias.
Meu primeiro amor se foi na madrugada do dia 9 de fevereiro. Jamais vou esquecer a despedida que não foi feita. Assim como não vou, não posso e nem quero esquecer nossos momentos, nossa história escrita com suor e sangue.
Pai, clichê dizer que você foi meu herói, meu bandido.
Hoje me olho no espelho e vejo tanto dele em mim! Dos olhos ao sorriso. Naquela noite, só pude segurar o seu relógio e por alguns segundos lembro de pensar que tudo não passaria de um sonho, um pesadelo. Fechei os olhos e cheguei a pensar que aquele relógio poderia retroagir no tempo, voltar, fazer tudo diferente. Que pensamento de criança, pai.
O convite do meu casamento continua lá, em seu nome!
O amor que eu tenho por você continua aqui, todos os dias.
Sabe aquela caixa de documentos e alguns objetos deixados para trás? Estão lá e ainda têm seu cheiro. Eu lembro do senhor todos os dias e todos os dias dói um pouco.
Dizem que com o tempo vira só saudade. Eu espero ansiosa por esse tempo pai, em que minha tristeza seja só saudade.
Marcia Barcellos 10/07/2024
Uma perfeita jornalista! Uma criatura de luz! que sabe transpor todo sentimento em poucas palavras e prender a leitura ñ somente dos curiosos, mas dos mais sensíveis ao texto. Parabéns!
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