A chuva caindo vagarosa lá fora. Na sala, dois pufes, duas taças de um vinho bom. “À meia-luz, a sós, à toa”, lembrava Rita Lee tocando baixinho. Muita conversa para colocar em dia, divagações da vida comum.
“As pessoas não fazem mais isso aqui!”, ele observou.
“Isso o que?”, perguntou enquanto se acomodava melhor entre as almofadas e prendia o cabelo em um coque que a deixava ainda mais a vontade e despretensiosa.
“Conversar. Falar sobre a vida. Ponderar. Pensar. Ninguém mais faz isso hoje em dia”, finalizou. Ela riu enquanto enchia a taça, diante daquele olhar curioso dele. “É verdade! ”, estendeu a garrafa para continuar alimentando a conversa.
“As pessoas estão enganadas, iludidas. O celular e as conversas online têm roubado a cena, o calor do momento, os toques inesperados, os sorrisos, os abraços e as conversas perderam a profundidade”, ela continuou.
“Você já reparou que até quando alguém grava uma mensagem de áudio, agora temos a opção de acelerar? E eu aqui, querendo segurar esse momento com as mãos pra não deixar o tempo voar”, foi dizendo enquanto se levantava.
“Ouve a próxima música, me tira pra dançar!”, sugeriu ela, deixando a taça de lado.
“Tem sempre uma brecha entre o silêncio e o som. Aposto que foi nesse intervalo que Deus criou o universo”, respondeu tomando a pela cintura.