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Cotidiano Segunda-feira, 16 de Agosto de 2021, 10:17 - A | A

Segunda-feira, 16 de Agosto de 2021, 10h:17 - A | A

Crime cruel

Morte de Raíssa é resultado da falta de segurança pública em aldeias de MS, afirma MPF

Vítima foi estuprada por cinco homens incluindo seu tio e depois jogada da pedreira

Elaine Silva
Capital News

Divulgação/PCMS

Indígena de 11 anos foi estuprada pelo tio antes de morrer

Corpo foi encontrado na segunda-feira

Morte de Raissa da Silva Cabreira, de 11 anos, indígena da etnia Kaiowá e moradora da aldeia Bororó, em Dourados, aponta uma situação gravíssima que o Ministério Público Federal (MPF) tenta reverter há anos: a completa ineficiência do Estado na efetivação de políticas públicas destinadas aos povos indígenas na região da Grande Dourados. Para o MPF, a população indígena é tratada com “indiferença hostil”, fundada, na maioria das vezes, em motivos discriminatórios. Tal descaso estatal reflete nos índices de violência. 

 

Fato se repete com relação a outros crimes, como a violência doméstica e sexual. Relatório oficial do Distrito Sanitário especial Indígena (DSEI/MS) revela que os determinantes sociais impactam diretamente na saúde:  “A precariedade da segurança pública, educação deficitária, alimentação e habitação inadequadas, carência de projetos voltados para a geração de renda e emprego e a ausência de políticas públicas para os indígenas refletem no alto índice de violência, consumo de drogas e álcool, mortalidade infantil e os alarmantes índices de homicídio e suicídio”.

 

“O MPF espera que esse fato grave promova uma reação dos poderes públicos e que, efetivamente, mais medidas destinadas aos povos indígenas, tanto na área de saúde mental quanto na melhoria das condições de vida da comunidade na área de segurança pública, de alimentação, geração de renda, possam ser igualmente implementadas”, conforme o procurador da República no município de Dourados, Marco Antonio Delfino de Almeida. 

Dourados News

Confirmado: Indígena de 11 anos morta em pedreira foi estuprada

Corpo foi encontrado pelos populares no dia seguinte do crime 

 

Em 2017, o MPF e as Defensorias Públicas da União e do Estado de Mato Grosso do Sul ajuizaram ação civil pública para que os governos federal, estadual e municipal fossem obrigados a implementar políticas públicas de enfrentamento ao uso de drogas na Reserva Indígena de Dourados. A ACP tramita até hoje e tem a intenção de oportunizar à população da aldeia o acesso a tratamentos destinados à saúde mental. Na ação, os autores afirmam que os entes estatais têm sido “omissos quanto aos deveres constitucionais e legais de tutela à vida e à saúde da população indígena de Dourados”.

 

O MPF e Defensorias chegaram a propor, em 2019, um acordo extrajudicial aos governos federal, estadual e municipal, contemplando a implementação e execução de políticas públicas condizentes com a atribuição de cada um dos entes. 

 

O acordo não chegou a ser homologado porque o Governo do Estado de MS informou que a ação que lhe caberia (implementar e executar as ações específicas referentes à população indígena previstas no Projeto de Prevenção do Suicídio no município de Dourados, bem como as ações apresentadas no Plano Estadual de Políticas Públicas para os Povos Indígenas em Mato Grosso do Sul) dependia de aprovação da Assembleia Legislativa de MS. Como não houve informação de cumprimento deste requisito, a Justiça Federal concluiu que o Estado do MS não anuiu à minuta do acordo, frustrando-se, assim, a tentativa de tratativa extrajudicial.

 

Balanço 

A Reserva Indígena de Dourados tem a maior concentração de população indígena do país, cerca de 13 mil habitantes. De acordo com o MPF, com base nos dados oficiais, entre 2012 e 2014, o Brasil teve taxa média de 29,2 homicídios por 100 mil habitantes. Em Mato Grosso do Sul, a taxa foi de 26,1. Entre os indígenas de MS este número sobe para 55,9. Já os indígenas da Reserva de Dourados enfrentam uma taxa de homicídios de 101,18 por cem mil habitantes. Os indígenas da região de Dourados morrem por homicídio a uma taxa quase 400% superior aos não indígenas de MS.

 

Entenda o caso 

Cinco envolvidos, sendo três adolescentes, um jovem de 20 anos e o tio da vítima de 34 anos, que confessaram a prática do estupro coletivo e assassinato da menina indigena da etnia Kaiowá, Raissa da Silva Cabreira, 11 anos, tiveram prisões preventivas decretadas na tarde desta quarta-feira (11). A decisão foi do juiz da 3ª Vara Criminal de Dourados, Eguiliell Ricardo da Silva.

 

Raissa foi encontrada morta nesta segunda-feira (9) em uma pedreira desativada localizada na Aldeia Bororó, Reserva Indígena Federal de Dourados. Sete pessoas foram ouvidas sobre a morte, nesta segunda-feira (9), sendo três adolescentes apreendidos e dois adultos presos. O tio da menina também é acusado de estuprar Raissa desde os cinco anos.

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