Um paradoxo chama atenção em São Gabriel do Oeste, a 137 km de Campo Grande: dois frigoríficos que compartilham o mesmo endereço, mas vivem realidades opostas. De um lado, o Boibras, conhecido pelas marcas Big Beef e Nobratta, enfrenta uma grave crise financeira e passa por recuperação judicial. Do outro, a BMG Foods, que opera na mesma planta e se apresenta como o terceiro maior grupo frigorífico do Brasil, segue em plena expansão.
Apesar de atuarem no mesmo local, cada empresa possui CNPJ distinto. O Boibras acumula uma dívida de R$ 220 milhões com a União e mais R$ 55 milhões com bancos, ex-funcionários e pecuaristas. Já a BMG Foods, que surgiu no Brasil em 2021, pertence à BFC-USA LLC, sediada em Miami, e a Douglas Augusto Fontes França, mas está ligada a Jair Antônio de Lima, antigo controlador do grupo Torlim, conhecido por acusações de sonegação fiscal e contrabando.
A história de Jair Lima remonta aos anos 2000, quando o grupo Torlim teve dezenas de fazendas e veículos bloqueados por suspeitas de crimes fiscais e uso de laranjas. No Paraguai, a operação deu origem ao Frigorífico Concepción, um dos maiores do país vizinho. No Brasil, Lima ressurge com a BMG Foods, mantendo operações no mesmo endereço do Boibras, que tenta renegociar dívidas com credores.
Além das dificuldades financeiras, o Boibras trava disputas judiciais, como o caso com a empresa de pagamentos Cielo, que contesta o bloqueio de mais de R$ 1 milhão. Apesar do cenário delicado, o juiz da Vara Regional de Falências de Campo Grande autorizou recentemente o desbloqueio de valores da empresa, atendendo ao pedido do administrador judicial e da defesa do frigorífico.