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ENTREVISTA Domingo, 25 de Agosto de 2024, 10:16 - A | A

Domingo, 25 de Agosto de 2024, 10h:16 - A | A

Entrevista

Falar em público: o medo que trava a língua

Saiba as dicas para lidar com esse desafio

Renata Santos Portela
Especial para o Capital News

Noites em claro, os pensamentos giram incessantemente em torno do grande dia. É, a simples ideia de ser chamado para uma apresentação é o suficiente para congelar o corpo, acelerar o coração e a pele corar de vergonha de muitas pessoas.

Esse cenário é o pesadelo de muita gente que busca fugir de exposições para uma plateia. O temor de falar em público ou a glossofobia, é mais forte do que o medo da própria morte, foi o que revelou uma pesquisa feita no Reino Unido, em 2015. Mas como lidar com isso e minimizar os impactos?

O Capital News conversou com o especialista em comunicação o Rogério Magalhães. Ele é um dos principais mentores de profissionais autônomos e gestores no Brasil e criador de um método que defende que, saber se comunicar é uma das maneiras de construir uma marca pessoal forte, manter uma relação positiva com os fãs e ainda lidar com a mídia de maneira estratégica.

1. Capital News: Por que as pessoas têm medo de falar em público? Por que isso ocorre?

Acervo Pessoal

Falar em público: o medo que trava a língua

O autoconhecimento é a chave do sucesso de praticamente tudo, enfatiza especialista

Rogério Magalhães: As pessoas têm medo de falar em público justamente porque elas estão sendo avaliadas, percebidas. A partir do momento que o ser humano passa a ter essa percepção de que ele pode estar sendo notado, que ele pode estar sendo julgado, ele tem uma crença muito forte do medo desse julgamento. Então, isso é uma crença que ocorre desde os nossos princípios, onde você, em muitos momentos da vida, pode ter sido julgado. Então isso acontece muito. Às vezes, numa escola, você foi interrompido pelo professor, às vezes o pai interrompeu a sua fala. E isso vão se criando crenças por memórias que temos na mente, e essas memórias vêm das experiências que sofremos. Esse medo ocorre com praticamente mais de 60% da população brasileira.

2. Capital News: Autoconhecimento é a chave? Se sim, por onde começar?

O autoconhecimento é a chave do sucesso de praticamente tudo

Rogério Magalhães: Exatamente, o autoconhecimento é a chave do sucesso de praticamente tudo. É entender interiormente aonde você pode melhorar, quais são as suas fobias, quais são as suas crenças limitantes, quais são as técnicas que você ainda não sabe e com isso você deve começar treinando em casa, treinando com as técnicas, com as pessoas que estão ao seu redor. A partir do momento que você começa a fazer isso, que você entende sobre o assunto, que você entende as técnicas, você dá uma virada de chave enorme na sua vida e na sua comunicação.

3. Capital News: Como a pessoa deve se preparar emocionalmente para uma apresentação?

Rogério Magalhães: Ela deve se preparar, primeiro, mudando a respiração; segundo, fazendo um aquecimento vocal; terceiro, realizando um ensaio mental; e quarto, com o pensamento da autoimagem positiva, pensando tudo o que vai acontecer desde a sua abertura ao desenvolvimento e ao fechamento da sua apresentação.

4. Capital News: Como gerar conexão com a audiência?

Rogério Magalhães: Você pode gerar conexão com a audiência fazendo perguntas, perguntas para as pessoas que estão próximas a você, para as pessoas que podem estar nas antenas E o que são antenas? São os locais estratégicos, meio da sala e as pontas das salas. Dessa maneira você gera conexão, que é o famoso rapport, traz de volta, e espelha a pessoa com você.

5. Capital News: O que o medo ocasiona?

Rogério Magalhães: O medo ocasiona paralisia na pessoa. Muitas vezes as pessoas travam, esquecem, ficam trêmulas, chegam a ficar com o rosto vermelho, chegam a ter dores estomacais, ansiedade. Então o medo ocasionou tudo isso. Porém, o medo não é para paralisar, e sim, servir para você se preparar.

6. Capital News: E na hora da apresentação, o que não pode faltar?

Uma apresentação que não pode faltar: interação com o público, motivação nas suas palavras, amor no que você fala, paixão pelo que você faz

Rogério Magalhães: Uma apresentação que não pode faltar: interação com o público, motivação nas suas palavras, amor no que você fala, paixão pelo que você faz. E, no palco, ter a movimentação correta. Isso não pode faltar e, principalmente, ter um grande fechamento da sua palestra, da sua apresentação.

Sim, o humor é bem-vindo, a partir do momento que você traz alegria, que você traz um certo humor, mas sem exageros, sem passar do limite. A partir do momento que você está interagindo com a sala, com o público, que você faz um humor que tem a ver com o evento, ou tem a ver com suas palavras, com o assunto, isso, com certeza, descontrai, isso alegra o ambiente, isso traz um sorriso, isso traz um clima leve, isso traz uma própria interação e engajamento do público com o seu assunto.

7. Capital News: E se alguém demonstrar que está insatisfeito com a apresentação?

Rogério Magalhães: Se alguém demonstrar que está insatisfeito com a sua apresentação, primeiramente é preciso dar ouvidos à maioria das pessoas que está ali para lhe escutar. Aquela pessoa que está demonstrando desinteresse, está falta de caso com o seu assunto, o que é que você pode fazer? Você pode fazer perguntas, interagir e colocar essa pessoa no jogo. A partir desse momento, com certeza, essa pessoa vai ter duas alternativas. Ou ela vai participar intensamente, porque ela vai ser questionada e se ela não estiver prestando atenção, ela vai perceber que ela está fora ali do contexto ou ela vai ser minimamente educada e talvez saia da sala. Quando a pessoa, por exemplo, está dormindo ou mexendo o celular, você pode falar, olhar para as pessoas que estão próximas e ela provavelmente vai parar e vai pensar se você está falando com ela ou não. Isso é uma dica!

Acervo Pessoal

Falar em público: o medo que trava a língua

Numa apresentação não pode faltar a interação com o público, motivação nas suas palavras, amor no que você fala, paixão pelo que você faz

8. Capital News: O bom humor é importante?

Rogério Magalhães: Sim, o humor é bem-vindo, a partir do momento que você traz alegria, que você traz um certo humor, mas sem exageros, sem passar do limite. A partir do momento que você está interagindo com a sala, com o público, que você faz um humor que tem a ver com o evento, ou tem a ver com suas palavras, com o assunto, isso com certeza descontrai, isso alegra o ambiente, isso traz um sorriso, isso traz um clima leve, isso traz uma própria interação e engajamento do público com o seu assunto.

9. Capital News: E se der branco?

Rogério Magalhães: e se der branco? O que é que eu posso fazer? Eu vou dar um exemplo do que aconteceu comigo. Eu fui para um evento que havia 390 pessoas da área de beleza, saúde e cosméticos. Quase todos os participantes eram mulheres. E naquele momento eu, por algum motivo, estava desconcentrado. Cheguei um pouco em cima da apresentação e me deu um branco quando me chamaram. Eu cheguei muito em cima da minha apresentação, eu era o próximo palestrante. Na hora que eu peguei o microfone, eu dei boa tarde, me apresentei, disse o quanto eu estava feliz naquele local, com aquelas pessoas. Porém, eu não lembrei do motivo, do assunto principal que eu iria falar. Já tinha vindo de uma maratona de palestras. Como é que eu fiz na hora que me deu um branco? Eu simplesmente joguei a pergunta para a plateia. Bem, então, diante desse momento que eu estou aqui... com vocês, e eu queria que vocês começassem, antes que eu iniciasse a minha palestra, qual a expectativa de vocês para o meu assunto e começaram a falar sobre atendimento, sobre excelência, sobre envolvimento, sobre engajamento com o cliente, sobre perfil, ou seja, eu fiz um briefing na minha própria palestra com o público antes de começar e é que ele me deu todos os gatilhos do que eu iria falar.

10. Capital News: A comunicação não acontece somente de maneira verbal. Os gestos, expressões faciais, comportamentos, impactam no modo como a mensagem é recebida? Quais dicas a mais você deixa.

Rogério Magalhães: Falar em públicoExcelente pergunta. A comunicação está dividida em três tripés. O tripé das palavras, da voz e da expressão corporal. As palavras possuem mais ou menos 7% da importância do que as pessoas prestam atenção na sua comunicação. Então, as palavras bem utilizadas, as palavras fáceis de utilizar, elas trazem 7% de engajamento. Mas a sua voz, ou seja, não o que você fala, e muito mais, a maneira como você fala representa 38% da atenção da sua plateia. E o terceiro pilar, que representa 55% da sua comunicação, é a expressão corporal. O modo como você está no palco, o modo como você movimenta as suas mãos, como você faz o rapport, como você interage, como você traz o público para perto de você. Então, esses são os três pilares que você deve... trabalhar e dando ênfase à sua expressão corporal, à sua performance de palco.

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