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Campo Grande e o estado de Mato Grosso do Sul estão entre os que registram os maiores indices de suicídio, afirma psiquiatra José Carlos Rosa Pires
O suicídio é uma triste realidade que atinge o mundo todo. Para se ter ideia, em 2019, foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, segundo dados da última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde
No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Nesta semana, no dia 10 de setembro foi celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, no entanto, a iniciativa acontece durante todo o ano.
Em 2024, o Com o lema: se precisar, peça ajuda! Todos nós devemos atuar ativamente na conscientização da importância que a vida tem e ajudar na prevenção do suicídio, tema que ainda é visto como tabu. Sabe-se que praticamente 100% de todos os casos de suicídio estavam relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente.
Nesse sentido, o Capital News bateu um papo com o médico psiquiatra José Carlos Rosa Pires de Souza. PhD em Saúde Mental, é especialista em Medicina do Sono, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
1. Capital News: Porque tivemos um aumento de casos de suicídio nos últimos cinco anos?
Dr. José Carlos Rosa Pires: Um os motivos foi a pandemia da covid-19. Após o auge dos casos, as pessoas ficaram muito em casa e, uma das consequências disso, foi o aumento significativo do número de pessoas com depressão, com transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de pânico e insônia. Isso, tem levado a ideia de que a vida não tem mais sentido e muitas pessoas a pensarem, tentaram e até se mataram de fato.
2. Capital News: Existem formas de prevenção ao suicídio?
A falta de serotonina no cérebro, causa depressão, que é uma doença séria que leva ao suicídio
Dr. José Carlos Rosa Pires: Sim. Falar sobre o suicídio é uma prevenção primária, quer dizer, o problema não aconteceu ainda. Falar sobre ele na imprensa, nas famílias, nos trabalhos, nas semanas internas de prevenção de acidente do trabalho, nas igrejas entre outros locais. A falta de serotonina no cérebro, causa depressão, que é uma doença séria que leva ao suicídio.
3. Capital News: Quais as doenças se podem levar ao suicídio?
Dr. José Carlos Rosa Pires: A depressão, é a doença que lidera o ranking, isso porque 60% dos depressivos pensam em suicídio, 15% tentam. Também temos a ansiedade, o transtorno de pânico, como os distúrbios mais comuns. Depois, o alcoolismo e os distúrbios relacionados às drogas ilícitas.
4. Capital News: Qual a importância do Setembro Amarelo?
Falar sobre suicídio previne, acolhe
Dr. José Carlos Rosa Pires: É um mês super importante porque é o mês que ressalta a preocupação em relação à tentativa e o ato de tirar a própria vida. Falar sobre suicídio previne, acolhe, diferentemente do que alguns pensam que falar sobre o tema vai atraí-lo. De jeito nenhum! Inclusive a Organização Mundial de Saúde no seu site, tem uma cartilha, orientando como divulgar as tentativas de suicídio, o mesmo suicídio propriamente dito, de uma forma mais amena, mas falar sobre o assunto previne. Então a importância do Setembro Amarelo é extrema e não deveria só ser o Setembro, mas o ano todo.
5. Capital News: Como prevenir o suicídio?
Dr. José Carlos Rosa Pires: 90% das pessoas que tentam suicídio avisam de alguma forma antes de cometê-lo. Portanto, é importante que, ao escutar de alguém “quero me matar”, “a vida não tem mais sentido”, você tente ajudá-lo. Uma alternativa é chegar na pessoa e dizer: talvez você não esteja muito bem, me parece que as coisas não vão bem na sua vida, talvez eu possa lhe ajudar e acompanhá-lo, dar a atenção.
6. Capital News: Religião ajuda?
Dr. José Carlos Rosa Pires: Ajuda muito. Temos que cuidar da saúde física, emocional, social e espiritual, no sentido de crenças, religião, meditação, etc.
7. Capital News: Quais sinais que a pessoa dá de que está propensa a cometer suicídio?
Dr. José Carlos Rosa Pires: Cerca de 90% das pessoas que pensam em suicídio ou que tentaram, avisaram de alguma maneira. Então, por isso os sinais são falas como a vida não tem mais sentido, é melhor morrer, não sei porque que eu nasci, etc. Essas frases que têm que ser levadas em conta. Não se deve pensar assim: “Ah! a pessoa está chamando a atenção”, em hipótese alguma, não existe o termo chamar a atenção quando se trata em falar e se matar. A pessoa tem que ser levada a um atendimento médico e psicológico de forma emergente.
8. Capital News: Quais as faixas etárias mais prevalentes do suicídio e por quê?
Dr. José Carlos Rosa Pires: Na adolescência. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a terceira causa de morte entre adolescentes de 14 a 19 anos é o suicídio. Depois vem os idosos, pela falta de ter o que fazer, pela falta de políticas públicas voltadas ao idoso, políticas sociais, etc. Eles se deprimem por serem vistos como os invisíveis nas casas.
Campo Grande e o estado de Mato Grosso do Sul estão entre os que registram os maiores indices de suicídio
9. Como está Campo Grande no cenário do suicídio ou tentativas?
Dr. José Carlos Rosa Pires: Campo Grande e o estado de Mato Grosso do Sul estão entre os que registram os maiores indices de suicídio, perde apenas para Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Entre os motivos, estão o auge da pandemia, a falta de políticas públicas de saúde, sociais, desemprego e também a influência das populações indígenas e quilombolas.