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ENTREVISTA Domingo, 20 de Outubro de 2024, 10:13 - A | A

Domingo, 20 de Outubro de 2024, 10h:13 - A | A

Entrevista

Vinhos: como não errar na escolha mesmo sem entender do assunto

Especialista dá dez dicas sobre a bebida

Renata Santos Portela
Especial para o Capital News

Você vai a um restaurante e o garçom chega com o menu aberto, e pergunta: “Gostaria de escolher um vinho?” Se você conhece e aprecia a bebida, problema zero. A escolha acaba sendo uma consequência de seu conhecimento e uma tradução de seu desejo naquele momento.

Agora, a questão é que, para a maioria dos pobres mortais, este cardápio de rótulos traz mais desconforto danado. A reação mais comum é abrir aquele sorriso amarelo e admitir humildemente que não entende nada de vinho. Mas será que é tão difícil entender sobre essa bebida?

O Capital News bateu um papo com a sommèlier de 39 anos Letícia Telles Barreto. Desde o ano passado ela tem se dedicado a entender mais sobre o universo dos vinhos.

Apaixonada pela bebida, a aracajuana que há quase quatro vive na capital morena, montou uma confraria exclusiva para mulheres onde oferece harmonização e o conhecimento de vinhos como base ao público feminino. Ela respondeu dez perguntas sobre essa bebida

1. Capital News: Qual vinho não pode faltar em casa?

Vinho é uma experiência, cada taça é um momento único

Letícia Telles Barreto: Aquele que você gosta e sente prazer ao beber. Vinho é uma experiência, cada taça é um momento único, pois uma garrafa nunca é igual à outra. Agora uma dica técnica: tente ter na sua casa vinhos mais leves para combinar com nosso clima. Um bom rosé ou um tinto leve, das uvas pinot noir ou merlot costumam agradar a mais paladares.

2. Capital News: Como devemos degustar o vinho quando o sommelier coloca um pouco em nossa taça para provar?

Letícia Telles Barreto: Esqueça essa coisa de cheirar rolha nos restaurantes. É um ritual desnecessário. Devo lembrar que quando o sommelier coloca um pouco do vinho na sua taça não é pra ver se você gostou do vinho, mas se ele não está oxidado ou com algum outro defeito. A melhor forma de saber isso é girar o pouco que foi colocado na sua taça para liberar os aromas. Após isso, tome um pequeno gole e deixe a bebida passear um pouco pela sua boca. Se o vinho tiver algum defeito você sentirá cheiro de vinagre ou até de papelão molhado.

Marcello Casal JrAgência Brasil

Vinhos: como não errar na escolha mesmo sem entender do assunto

Vinho é uma experiência, cada taça é um momento único

3. Capital News: Por que um vinho é armazenado deitado?

Letícia Telles Barreto: Esse é um cuidado que devemos ter com vinhos vedados com rolha de cortiça e quando eles não são consumidos de imediato. O contato frequente da rolha com a bebida mantém a rolha hidratada, evita que ela resseque e que o oxigênio entre na garrafa e a bebida oxide. Caso você vá consumir sua bebida a curto prazo ou a garrafa seja vedada com screw craps, ela pode ficar na vertical sem problema algum.

4. Capital News: Quando o vinho está pronto para beber?

Letícia Telles Barreto: Depende de vários fatores, principalmente qual foi a uva utilizada e o processo de vinificação. De forma geral, os vinhos que bebemos foram feitos para serem consumidos de imediato, são os chamados vinhos jovens. Nesse caso, o ideal é consumir em até dois anos a partir do ano da safra que consta no rótulo.

5. Capital News: Quanto tempo dura o vinho depois de aberto?

Os vinhos tintos tendem a durar mais depois de abertos, mas não recomendo consumir após quatro dias

Letícia Telles Barreto: Mais uma vez depende do vinho. Os vinhos tintos tendem a durar mais depois de abertos, mas não recomendo consumir após quatro dias se a vedação não for feita com o equipamento correto, pois ele oxida. Os vinhos brancos duram menos ainda, pois perdem logo seu caráter frutado. O espumante não deve ser guardado após aberto, pois a gaseificação é fundamental.

6. Capital News: Quais são as coisas mais importantes a considerar ao combinar vinho com comida?

Letícia Telles Barreto: O seu gosto pessoal é o mais importante. No entanto, vinho e comida devem se complementar para o consumidor ter a melhor experiência possível. Algumas coisas que não costumam ter um resultado tão interessante quando colocadas juntas: peixe e vinho tinto com muito tanino, pois você tende a sentir gosto de metal na boca. Também recomendo evitar carnes muito gordurosas com vinhos brancos ou tintos leves, pois o sabor da carne irá se impor e você não aproveitará o melhor do vinho.

7. Capital News: O preço realmente importa ?

Letícia Telles Barreto: O preço do vinho costuma ser formado por diversos fatores. Dificuldade de produção, procura, frete, impostos e, claro, marketing. Desconfie quando encontrar uma garrafa muito barata, pois fazer vinho infelizmente é caro e trabalhoso. No entanto, o alto preço não garante qualidade. O ideal é aprender a escolher seu vinho e expandir seu paladar para não cair em ciladas e nem gastar dinheiro com algo que não faz parte do seu gosto pessoal.

Marcello Casal JrAgência Brasil

Vinhos e suas nuances

Os vinhos tintos tendem a durar mais depois de abertos, mas não recomendo consumir após quatro dias, diz especialista

8. Capital News: A taça faz diferença? Como segurar corretamente?

Letícia Telles Barreto: A taça faz diferença a depender da experiência que você está buscando. Vamos lembrar que você pode degustar ou beber. Caso seu objetivo seja degustar, a taça correta faz diferença, pois ela ajuda a volatizar os aromas, aumenta ou diminui o contato da boca com o líquido, o que intensifica a experiência. A forma correta de segurar é pela haste, pois evita o contato da mão com o bojo, o que esquenta a bebida.

Agora se seu objetivo é apenas beber, sem fazer uma análise mais técnica, use a taça que tiver em casa e que se adeque ao seu momento. Não faz sentido algum tomar um espumante à beira da piscina com uma taça de cristal enquanto as crianças correm de um lado para o outro.

9. Capital News: Como posso aprender sobre vinhos?

Letícia Telles Barreto: Fazendo os diversos cursos disponíveis, lendo e participando da confraria Capiwine.

10. Capital News: Dica para não cometer gafes ao degustar um vinho.

Escute as informações passadas sobre a bebida, especialmente a uva que foi utilizada, a safra e os aromas presentes ali

Letícia Telles Barreto: A maior gafe de todas, na minha opinião, é bancar o enochato, aquele ser que exige todas as formalidades possíveis e imagináveis, se preocupa com futilidades e crítica a experiência das pessoas. Quando for degustar ou beber um vinho, atente-se ao seu objetivo. Se for aprender mais sobre aquele rótulo, escute as informações passadas sobre a bebida, especialmente a uva que foi utilizada, a safra e os aromas presentes ali. Respeite a pessoa que tiver passando o conhecimento, sommelier adora ajudar o cliente a aprender sobre sua bebida predileta. Caso o objetivo do momento seja apenas a descontração, um jantar com amigos ou um momento mais informal, o mais importante é respeitar a temperatura do vinho, pois esse é o erro que mais costuma atrapalhar a experiência.

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