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ENTREVISTA Domingo, 06 de Novembro de 2011, 07:20 - A | A

Domingo, 06 de Novembro de 2011, 07h:20 - A | A

\"Saúde requer mais dinheiro e melhor gestão\", afirma presidente do Sindicato dos Médicos

Valquíria Oriqui - Capital News (www.capitalnews.com.br)

No dia em que médicos de todo o Brasil paralisaram as atividades para reivindicar melhorias no Sistema Único de Saúde (SUS), Campo Grande se destacou nacionalmente pelo motivo contrário. 

A mobilização ocorreu no dia no dia 25 de outubro quando o Sindicato dos Médicos, o Conselho Regional de Medicina e a Associação Médica de Mato Grosso do Sul optou  por aumentar o número de profissionais na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino, e, durante toda a manhã realizaram atendimentos na unidade a fim de mostrar que é simples melhorar o SUS.

Para a eficácia nos atendimentos, a categoria dos médicos pede por eficiência na gestão do SUS, carreira de estado para os médicos, plano de cargos , carreira e vencimentos no SUS, mais recursos para a saúde, valorização do médico e qualidade no atendimento à população.

O médico pediatra da Santa Casa de Campo Grande, da Prefeitura, diretor do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul (Sinmed) e secretário geral adjunto da Federação Nacional dos Médicos, João Batista Botelho Medeiros, em entrevista exclusiva ao Capital News contou como foi o dia da mobilização na Capital e quais as dificuldades enfrentadas pela classe que passa anos estudando para salvar vidas de pessoas, na maioria das vezes, desconhecidas por elas.

Capital News – Porque a categoria optou por um protesto diferente em Campo Grande?

Dr. João Batista Medeiros – A idéia surgiu de um conjunto de fatores administrativos internos. Levamos pelo lado de que uma paralisação iria causar mais a impressão negativa do que positiva para a população, o que deixaria de chamar a atenção a nosso favor. Por isso buscamos esta alternativa. Em alguns estados foram feitas campanhas de doação de sangue por exemplo. O objetivo principal era chamar a atenção da população a favor das reivindicações do movimento médico sem causar a impressão negativa dentro da população.

Capital News – O senhor acredita que este objetivo foi alcançado? Qual foi a reação das pessoas?

Dr. João Batista  – Acho que sim, até mais do que esperávamos. A intensidade do nosso trabalho foi mais do que esperávamos. A repercussão na mídia foi bem ampla. Todos os comentários que tivemos, desde usuários e médicos foram positivos. Estamos plenamente com nossa estratégia. O movimento também teve repercussão nacional. Mais de 80% dos médicos aderiram ao movimento. O atendimento teve uma qualidade melhor, aumentou o número de atendimentos no dia, reduziu o tempo de espera pela quantidade de profissionais.

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João Bastista que movimento dos médicos do Estado por melhorias no SUS teve resultados positivos
Foto: Deurico/Capital News

Capital News – O senhor concorda com o movimento realizado nos demais estados?

Dr. João Batista – Concordo, inclusive sou membro da diretoria da entidade nacional, nem teria como não concordar. É uma ação importante para a categoria.

Capital News - Quais aspectos da saúde pública devem ser melhorados?

Dr. João Batista – Além da questão do financiamento que tem que melhorar, principalmente no recurso que vem da União, para suprir tudo o que o SUS promete e pretende fazer, tem que ter um recurso bem maior do que nós temos hoje. Além disso, tem algumas questões de gestão que são problemáticas.

Capital News – Os médicos são mal remunerados?

Dr. João Batista – Sim. Quando a gente olha para as outras categorias e para os outros mercados percebemos que o médico ainda tem o melhor salário. A expectativa de remuneração futura do médico está em torno de R$ 9,2 por 20 horas semanais que daria R$ 18 mil por 40 horas. Atualmente a remuneração base da prefeitura está em torno de R$ 2,1 para 12 horas. Então a categoria pensa que deveria ter um aumento de 40% para fazer 20 horas. Outra questão é a progressão salarial, que é muito baixa. A diferença do médico que entra para trabalhar agora e do médico que já exerce a profissão há 15 anos, é muito pequena. Assim como é grande a diferença do médico que tem uma formação básica entre o que tem uma especialidade. Isso acontece pela falta de um plano de carreira adequado e a administração foge de construir um plano de carreira como foge o diabo da cruz, pois a pressão é muito grande. Parece agora que a prefeitura se propôs a fazer um plano, esperávamos que isso fosse mais cedo, mas pelo que estamos sentindo vai ficar só para o final do ano que vem.

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Dirigente afirma que progressão salarial é muito baixa, ou seja, a diferença entre médicos novatos e experientes é pequena
Foto: Deurico/Capital News

Capital News – Quantos médicos existem em Mato Grosso do Sul?

Dr. João Batista - São 3.800 médicos ativos no Estado, sendo 1.970 em Campo Grande.

Capital News – Quais as diferenças nos atendimentos realizados por meio do SUS e de convênios?

Dr. João Batista – A dificuldade na saúde suplementar também está prevista uma remuneração tabelada. O médico, como um profissional liberal, isso acaba atingindo a sua expectativa de remuneração. Hoje podemos calcular em torno de 30% de defasagem entre o que o médico deixa de receber dentro do convênio e do que ele recebe. Provavelmente mesmo com esta adequação ainda teriam alguns problemas dentro da saúde suplementar, algumas especialidades específicas ainda seriam difíceis de conseguir na saúde suplementar, pois jamais seriam remunerados como se fossem realizar um atendimento particular. Por exemplo, deve ter profissionais que cobra R$ 200 a consulta. Pelo convênio o médico acaba recebendo R$ 40 ou R$ 60 a consulta, quando paga bem, e isso causa gera as dificuldades de espera. Por outro lado o profissional se sente inseguro de abandonar o convênio porque hoje em dia muita gente não tem condições de pagar uma consulta particular. A população procura o convênio não pelo valor da consulta, muitas vezes, mas pela segurança em caso de acidente e precisar de UTI, onde o custo vai lá pra cima. O custo de uma internação particular é estratosférico, só com medicamento a pessoa gasta R$ 1 mil por dia, mais R$ 2 mil por dia de UTI, fora honorário médico. Então a pessoa pode gastar cerca de R$ 5 mil por dia com internação na UTI. Se a pessoa tiver convênio esse custo cai para mais da metade.

Capital News – Quais os tipo de dificuldades enfrentadas pelos médicos em relação à estrutura das unidades?

Dr. João Batista – Já melhorou bastante, mas ainda falta mais. Por exemplo, antes não tinha otoscópio (aparelho de examinar ouvido) nas unidades, hoje tem, mas às vezes está quebrado. Material de emergência também é bem falho. 

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Para João Batista, médicos se sentem inseguros em abandonar o convênio, porque muita gente não pode pagar consulta particular
Foto: Deurico/Capital News


Por Valquíria Oriqui - Capital News (www.capitalnews.com.br)

 

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