No cenário frenético em que vivemos, há uma figura que se destaca: a pessoa que, apesar de trabalhar incessantemente e estar à beira de um colapso, mantém um sorriso no rosto. Por trás dessa fachada, porém, pode haver uma profunda exaustão emocional, um fenômeno agora conhecido como “burn in”. Diferente do burn out, que se manifesta em colapsos visíveis devido ao estresse crônico, o burn in é uma luta interna mais sutil, onde a aparência de controle pode camuflar um desgosto psicológico crescente. Quando essa condição passa despercebida, as consequências podem ser graves, afetando não apenas o profissional, mas também as organizações.
O burn in revela-se como um desafio difícil de identificar, tanto para os indivíduos que o vivenciam quanto para aqueles ao seu redor. Enquanto o burn out pode ser detectado por comportamentos como irritabilidade e falta de motivação, por exemplo, aqueles que enfrentam burn in permanecem em um estado perpétuo de atividade. Essa incessante produtividade pode dificultar o reconhecimento de suas próprias limitações, levando-os a carregar um fardo cada vez mais pesado, sem atenção para os sinais de alerta que o corpo e a mente tentam comunicar. Essa negação cria um ciclo vicioso de esgotamento, onde a pessoa se sente aprisionada, mas incapaz de desacelerar.
As raízes do burn in são numerosas, envolvendo pressões no ambiente de trabalho, expectativas excessivas de desempenho e uma cultura de produtividade exacerbada. A necessidade de estar constantemente disponível é frequentemente impulsionada pelo medo de perder oportunidades em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Esse cenário não só fomenta a cultura de trabalhar além dos limites, mas desencoraja conversas abertas sobre saúde mental, deixando os indivíduos se sentindo isolados em suas batalhas pessoais.
O impulso pela perfeição e o medo do fracasso também desempenham um papel significativo no desenvolvimento do burn in. Profissionais sob pressão para manter um desempenho consistente podem se ver em um ciclo de autoexigência extrema. A situação se agrava em ambientes de trabalho que não oferecem suporte emocional adequado ou reconhecimento pelos esforços dedicados. A falta de validação fortalece a sensação de desvalorização, perpetuando uma espiral de esgotamento emocional que se revela prejudicial e insustentável.
Reconhecer os sinais de burn in é crucial para indivíduos e líderes. Implantar uma cultura que priorize o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, enquanto se incentiva o diálogo sobre saúde mental, deve ser uma prioridade. Iniciativas de bem-estar que promovam a autoconfiança, ajudem a desestigmatizar dilemas emocionais e acolham a falibilidade humana são essenciais para criar um ambiente de trabalho saudável que previna, em vez de apenas responder, ao burn in.
Os impactos do burn in nas empresas são profundos e variados, comprometendo tanto a saúde organizacional quanto o desempenho financeiro. Profissionais nessa condição costumam manter uma aparência de produtividade, mas a exaustão silenciosa pode levar à queda na qualidade do trabalho, ao aumento da rotatividade e, a longo prazo, ao enfraquecimento da cultura organizacional. Além disso, a criatividade e a inovação sofrem diretamente, pois a energia e o engajamento necessários para gerar novas ideias e soluções eficazes são gradualmente minados.
O burn in é um lembrete poderoso de que, por trás de um profissional aparentemente bem-sucedido, pode haver uma luta silenciosa. Romper esse ciclo exige a promoção de um diálogo honesto sobre saúde mental, o reconhecimento da importância do descanso e a aceitação de que a perfeição é uma meta irrealista. Para isso, organizações e indivíduos precisam atuar juntos, substituindo a exaustão mascarada por uma gestão mais aberta e saudável do bem-estar emocional. Só assim será possível construir um ambiente de trabalho onde todos possam prosperar com equilíbrio, satisfação e resiliência.
*David Braga
CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos, presente em 30 países e 50 escritórios pela Agilium Group. É presidente da ABRH-MG, conselheiro de Administração e professor pela Fundação Dom Cabral, VP do Conselho de RH da ACMinas e conselheiro de administração do ChildFund Brasil. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent
• • • • •
A veracidade dos dados, opiniões e conteúdo deste artigo é de integral responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Capital News |