Campo Grande 00:00:00 Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2025


Opinião Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2025, 12:13 - A | A

Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2025, 12h:13 - A | A

Opinião

Fevereiro roxo: desmistificar o Alzheimer, proteger a pessoa

Por Laura Brito*

Artigo de responsabilidade do autor
Envie seu artigo para [email protected]

Durante o mês de fevereiro a cor roxa é usada como símbolo de conscientização sobre o Mal de Alzheimer. Dentre os objetivos da campanha está promover o diagnóstico precoce e desmistificar a doença.

Esses dois propósitos se unem para alertar as pessoas que não negligenciem os sintomas demenciais, tentando mudar a realidade que se impõe. Cobrir o Alzheimer com um manto de silêncio não faz a demência desaparecer. Pior, impede o diagnóstico e as intervenções baseadas em evidências científicas.

Se uma pessoa próxima está perdendo a memória, principalmente de fatos recentes, ela precisa ser examinada. É comum que se diga: não é nada, lembra de coisas de quarenta anos atrás, então está com a memória ótima. Não, não está. Deve-se observar a dificuldade de retenção de informações que recebeu há pouco tempo. Não adianta um idoso lembrar da infância, mas não recordar o que almoçou.

A negação da possibilidade do diagnóstico de Alzheimer não freia os sintomas, nem desaparece com os desafios que aquela família vai enfrentar. Ao contrário, impede que um bom tratamento dê qualidade de vida ao paciente e que sua rede de apoio esteja bem-informada e preparada. Não é o diagnóstico que instala a doença. Ele é só uma constatação de um fato dado e a chance de um futuro melhor.

Por isso, dentro de suas possibilidades, as famílias devem procurar médicos que entendam efetivamente de demência. Este é um tema relativamente recente, se pensarmos o aumento da longevidade nas últimas décadas, o que alarga os números das demências mais comuns na velhice. Se você percebe com clareza que uma pessoa próxima está perdendo a capacidade de tomar decisões a partir das informações que sempre recebeu do ambiente, insista na busca de uma razão. Estima-se que a demência é diagnosticada apenas depois de quatro ou cinco médicos. Até lá, a família escuta que a pessoa está cansada mesmo, está entediada ou que precisa fazer Sudoku.

Da mesma forma, não se deve negligenciar as medidas jurídicas que podem e devem ser tomadas a partir do diagnóstico do Mal de Alzheimer. Quando se tem o privilégio do diagnóstico precoce e os sintomas demenciais ainda não tiraram a capacidade da pessoa, é possível a tomada de uma série de decisões para seu futuro, exercendo a sua autonomia e fortalecendo a sua dignidade. Ela poderá fazer um planejamento patrimonial adequado e, se possível, uma autocuratela, adiantando à família e ao Judiciário seus desejos para quando ficar incapaz.

Quando os sintomas já avançaram, um advogado especializado pode orientar a família sobre como proceder à curatela, de maneira respeitosa e de forma a manter a sua autodeterminação. Esse profissional também pode orientar sobre medidas judiciais para alienação de bens, se necessária, e prestação de contas.

Ninguém precisa ter medo da curatela. A gente precisa temer é o silêncio e a negligência. Precisamos lembrar que a não é a curatela que tira a capacidade da pessoa – é o Mal de Alzheimer que faz isso. A curatela organiza as responsabilidades para cuidar e proteger melhor.


*Laura Brito
Advogada especialista em Direito de Família e das Sucessões, possui doutorado e mestrado pela USP e atua como professora em cursos de Pós-Graduação, além de ser palestrante, pesquisadora e autora de livros e artigos na área.

 

• • • • •

 

A veracidade dos dados, opiniões e conteúdo deste artigo é de integral responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Capital News

 

Comente esta notícia


Reportagem Especial LEIA MAIS