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Opinião Quarta-feira, 11 de Setembro de 2024, 12:14 - A | A

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Opinião

Dia da Alfabetização: a tecnologia ajuda ou atrapalha nesse processo?

Por Laura Magalhães*

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No atual cenário educacional, a Inteligência Artificial (IA) tem sido uma protagonista frequente nas discussões, especialmente no que se refere aos desafios e oportunidades que apresenta para o ambiente escolar. Diante da popularização de dispositivos e aplicativos tecnológicos, surgem especulações sobre o futuro da educação: será que as máquinas irão substituir os professores? As salas de aula serão dominadas por tecnologias que ainda não conhecemos?

Embora esse debate seja mais comum em relação ao ensino de adolescentes e jovens, a alfabetização na primeira infância também vem sendo impactada por essas inovações. Muitas famílias, com a intenção de preparar seus filhos para um futuro profissional competitivo, buscam inserir o máximo de tecnologia possível na vida das crianças, muitas vezes acreditando que isso facilitará o processo de aprendizado da leitura e escrita. Tablets, smartphones e jogos educativos são vistos como ferramentas de avanço, mas será que realmente são?

Na verdade, o que muitas vezes passa despercebido é que, embora a tecnologia possa ser uma aliada no ensino, ela não substitui o que é essencial para o desenvolvimento pleno das habilidades de alfabetização. A base para uma alfabetização saudável vai muito além das telas e aplicativos: ela reside nas interações humanas, nas brincadeiras e na experiência do mundo real. Para aprender a ler e escrever, a criança precisa, antes de mais nada, escutar a linguagem, manusear livros, ouvir histórias e se familiarizar com a estrutura das palavras e frases. O contato com diferentes portadores textuais – sejam livros, revistas ou até mesmo receitas culinárias – oferece repertório e desperta o desejo pela leitura.

Além do contato com o universo das letras, é preciso lembrar que o ato de escrever envolve o desenvolvimento de habilidades motoras que não podem ser ensinadas por uma máquina. A criança precisa correr, pular, desenhar, usar as mãos para explorar o mundo ao seu redor. Essas atividades desenvolvem a coordenação motora ampla e fina, essenciais para que a criança consiga segurar um lápis e formar suas primeiras letras. Brincar, interagir e explorar são, na verdade, formas naturais e eficazes de preparar o cérebro infantil para a alfabetização.

Se você deseja apoiar seu filho nesse processo, a recomendação é simples: converse com ele, estimule o pensamento crítico, ouça suas ideias e, principalmente, leia com ele e para ele. Não há aplicativo que substitua o valor de um bom diálogo e de momentos de leitura compartilhada. E não subestime o poder do brincar: é por meio do brincar que as crianças aprendem a se relacionar com o mundo e a se conhecerem.

Para os que se preocupam com a formação de futuros profissionais em um mundo cada vez mais tecnológico, vale lembrar que as habilidades mais valorizadas no futuro, segundo o Fórum Econômico Mundial, não são as que as máquinas podem ensinar, mas aquelas essencialmente humanas. Habilidades como resiliência, empatia, curiosidade, flexibilidade, escuta ativa e aprendizagem contínua são desenvolvidas desde a infância, especialmente em contextos que promovem a liberdade para brincar, experimentar e se expressar.

Portanto, em um mundo cada vez mais tecnológico, que possamos garantir às nossas crianças o tempo e as oportunidades para serem, antes de tudo, crianças. Afinal, é dessa base sólida e humana que se constrói o futuro.


*Laura Magalhães
Coordenadora de Educação Básica no Colégio Mackenzie Brasília e especialista em Enriquecimento da Aprendizagem pelo International Center for the Enhancement of Learning Potencial, ICELP/Israel

 

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