O etarismo - preconceito baseado na idade - ainda é uma barreira invisível, mas real, em muitas empresas ao redor do mundo. Embora ligado à discriminação contra pessoas mais velhas, o etarismo também afeta os mais jovens, que são desvalorizados pela suposta falta de maturidade ou experiência. Entre os dois extremos, uma forma ainda mais sutil e perigosa desse preconceito tem ganhado espaço: o etarismo velado.
Diferente do preconceito escancarado, o etarismo velado ocorre de maneira indireta e muitas vezes camuflada por comentários aparentemente inofensivos, piadas ou conselhos. Líderes e colegas evitam admitir o viés, mas suas atitudes revelam julgamentos baseados unicamente na idade do profissional, seja ela considerada “alta demais” ou “baixa demais” para determinada função.
Essa forma de discriminação é mais difícil de identificar e combater justamente por sua sutileza. Porém, os impactos emocionais e profissionais são profundos: o colaborador se sente deslocado, inadequado e até incapaz, mesmo quando possui as competências necessárias para o trabalho. Jovens também sofrem, mas são os mais velhos que acabam pagando um preço maior.
Muitos recém-formados enfrentam resistência ao entrar no mercado de trabalho, porque são frequentemente subestimados, tachados de inexperientes ou imaturos, o que, em certa medida, faz parte do processo natural de aprendizado. Ainda assim, tendem a se recolocar com mais facilidade. Para os profissionais com mais de 50 ou 60 anos, o cenário é ainda mais severo.
Segundo uma pesquisa do Grupo Croma com base nos dados da Oldiversity, 86% das pessoas acima dos 60 anos já sofreram preconceito no mercado de trabalho, independentemente de sua qualificação. E o problema começa cedo: embora mais de 25% da população brasileira tenha mais de 50 anos, apenas 5,6% das empresas afirmam contratar profissionais dessa faixa etária, de acordo com dados do IBGE.
Em tempos em que tanto se fala de diversidade, inclusão e inovação, o etarismo precisa ser colocado na pauta das lideranças, que devem estar cada vez mais atentas ao problema - problema este que, muitas vezes, os líderes possuem culpa no cartório também e não podem se isentar. A verdade é que ignorar essa questão ou até mesmo normalizar práticas veladas de discriminação é um erro enorme.
Por isso, cabe ao líder cultivar um ambiente inclusivo, onde a troca entre gerações seja cada vez mais estimulada e valorizada. Equipes intergeracionais são capazes de entregar mais: combinam experiência com inovação, maturidade com ousadia, visão estratégica com novas perspectivas. Quando diferentes idades trabalham em conjunto com respeito e propósito comum, os resultados tendem a ser mais sólidos e criativos.
Neste sentido, combater o etarismo, principalmente o velado, exige atenção, empatia e coragem. É preciso que as empresas revejam os comportamentos, os discursos e as práticas enraizadas no dia a dia corporativo, se querem estar preparadas para o futuro. Afinal, a idade não define competência. O que realmente importa são as atitudes, o conhecimento e a vontade de contribuir. E isso, felizmente, não tem prazo de validade.
*Pedro Signorelli
Um dos maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs. Já movimentou com seus projetos mais de R$ 2 bi e é responsável, dentre outros, pelo case da Nextel, maior e mais rápida implementação da ferramenta nas Américas. Mais informações acesse: http://www.gestaopragmatica.com.br/
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