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Um mês sem X: como lidar com os sintomas da ‘desconexão social’?

Por Sheila Drumond*

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Há mais de um mês, a suspensão do X (antigo Twitter) no país foi motivo de surpresa para diversos usuários, mudando drasticamente a forma como milhões de brasileiros se conectam online. Para mais de 22 milhões de pessoas, a rede social representava muito mais do que uma simples plataforma de microblogs, pois funcionava como um espaço de opinião, desabafo e entretenimento diário.

As consequências do desaparecimento abrupto do aplicativo têm sido maiores do que o imaginado, com uma boa parcela de indivíduos experimentando um fenômeno conhecido como fear of missing out (FOMO) - o medo de perder informações importantes, eventos ou conexões sociais.

Por um lado, usuários encontraram maneiras criativas de lidar com essa ausência. Redes como Instagram e TikTok foram palco de brincadeiras nostálgicas, com a criação de grupos no WhatsApp para recriar a dinâmica rápida das interações do antigo Twitter e a postagem de vídeos reproduzindo o tom breve e sarcástico bem característico da rede. No entanto, mesmo com o bom humor ocultando a saudade, essas movimentações indicam o quanto a sociedade pode estar presa à ideia de estar sempre conectada e atualizada. E até que ponto se pode aceitar ser dependente dessas interações?

O fim do X e a consequente sensação de liberdade tornaram-se um excelente convite para refletir sobre a relação com as redes sociais. É compreensível que a ausência de uma plataforma tão presente na vida cotidiana cause desconforto. Contudo, a sensação de sempre estar "perdendo algo" - seja um lançamento de um artista, uma fofoca de reality show ou um debate político - revela uma profunda dependência da conectividade imediata e, muitas vezes, da validação externa - afinal, os jornais e a televisão não contêm o principal conteúdo que costumava ser visto no app: a opinião dos usuários. O desafio, agora, é lidar com essa desconexão de maneira saudável e produtiva, sem tentar recriar o que foi perdido, mas, em vez disso, reavaliar o bem-estar emocional.

Nesse cenário, o mindfulness, uma prática de atenção plena, surge como uma poderosa ferramenta. O mindfulness ensina a observar o presente sem julgamentos, se desconectando da necessidade de estímulos externos constantes e cultivando um estado de aceitação e tranquilidade. Em momentos de transição como esse, técnicas simples podem ajudar a encontrar um novo equilíbrio. Uma delas é a meditação focada na respiração, que consiste em concentrar a atenção no fluxo de ar que entra e sai do corpo. Ao focar nesse movimento natural, é possível que a mente desacelere, reduzindo a ansiedade provocada pela ausência de uma "vida digital" ativa e criando maior clareza mental.

Outra técnica útil é o body scan, ou escaneamento corporal, no qual a atenção é lentamente direcionada para diferentes partes do corpo, identificando tensões e relaxando-as. Essa prática conecta-se ao estado físico e emocional, ajudando a reduzir a inquietação gerada pela desconexão social. Além disso, incorporar a atenção plena em tarefas cotidianas, como escovar os dentes ou tomar banho, ajuda a desenvolver a capacidade de estar presente no momento, sem precisar recorrer a distrações digitais.

A ausência de uma rede como o X pode parecer totalmente negativa à primeira vista, mas também é uma oportunidade para se reconectar com aquilo que realmente importa. Em vez de validação imediata e entretenimento constante, esse período pode ser aproveitado para cultivar uma relação mais saudável com a internet, priorizando o autocuidado e o autoconhecimento. O uso consciente das redes sociais, equilibrando momentos de estímulo e descanso, ajuda a redescobrir formas mais genuínas do relacionamento próprio e com terceiros, sem a pressão de estar sempre em um ciclo constante de informações.


*Sheila Drumond
Psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), especialista em Yoga pelas Faculdades Integradas Espírita (UNIBEM) e mestra em Mindfulness pela Universidad de Zaragoza, na Espanha. Fundadora do Centro de Psicologia Positiva e Mindfulness do Paraná (CPPMP), primeira instituição do Brasil a oferecer uma formação do segmento para psicólogos e psiquiatras, Sheila já formou 26 turmas e mais de 300 técnicas diferentes para implementar o mindfulness, considerado uma meditação científica, na prática clínica de diferentes ramos da saúde.

 

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