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Polícia Quarta-feira, 19 de Fevereiro de 2025, 15:05 - A | A

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Caso Vanessa Ricarte

Delegadas acusam imprensa de sensacionalismo em caso Vanessa Ricarte e pedem transferência em protesto

Mesmo após delegada orientar vítima a voltar para casa, policiais classificam caso como “midiático” e criticam repercussão na imprensa

Vivianne Nunes
Capital News

Um grupo de 12 delegadas da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande colocou seus cargos à disposição e pediu transferência para outras unidades policiais. O pedido ocorre em protesto contra o afastamento das delegadas que atuaram no caso Vanessa Ricarte, jornalista assassinada a facadas pelo ex-noivo, Caio Nascimento, que está preso pelo crime.

A renúncia coletiva veio acompanhada de uma carta pública na qual as delegadas acusam a imprensa de sensacionalismo e classificam o caso como "midiático", ignorando o fato de que Vanessa foi orientada por uma das delegadas a voltar para casa, mesmo após relatar ameaças.

Instagagram/@vanessaricarte

Jornalista Vanessa Ricarte

Jornalista Vanessa Ricarte

Pedido de transferência e crise na Deam

O documento de renúncia foi entregue pessoalmente por um grupo de delegadas à Delegacia Geral da Polícia Civil (DGPC) e aguarda resposta do órgão. O pedido veio horas depois do governo estadual anunciar o afastamento das delegadas Elaine Benicasa (titular da Deam), Riccelly Donha e Lucélia Constantino, que atenderam Vanessa no dia em que ela buscou ajuda na Casa da Mulher Brasileira.

A repercussão do caso gerou pressão sobre as autoridades e foi tema de reunião entre o governador Eduardo Riedel, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, e representantes do governo federal e estadual. Como resultado, o governo anunciou medidas emergenciais para aprimorar o atendimento às vítimas de violência doméstica.

Governador admite falhas e promete mudanças

Após a reunião, Riedel reconheceu que houve falhas no atendimento prestado a Vanessa e prometeu mudanças na gestão da Casa da Mulher Brasileira. "Nós falhamos enquanto Estado, as diversas instituições falharam. Não é a questão de uma pessoa em específico, mas do processo como um todo, do fluxo da informação, da tecnologia e do acolhimento", afirmou.

Entre as medidas discutidas, o governo pretende firmar parcerias para aprimorar a gestão da Casa da Mulher Brasileira e garantir um sistema unificado de atendimento. O vice-governador José Carlos Barbosa, o Barbosinha, foi designado para acompanhar as mudanças e estruturar novas diretrizes para o serviço.

Eduardo Riedel fala sobre caso grave de feminicídio no Mato Grosso do Sul e segurança pública

Carta pública e críticas à imprensa

As delegadas que pediram transferência divulgaram um documento no qual criticam a cobertura jornalística do caso Vanessa Ricarte, alegando que a imprensa sensacionalizou o episódio e que a repercussão gerou "ataques injustos" contra as profissionais envolvidas.

Apesar da revolta do grupo, o afastamento das delegadas e a reformulação do atendimento foram exigidos pela sociedade diante da revelação de que Vanessa foi aconselhada a voltar para casa, onde acabou assassinada por seu agressor.

O caso escancarou a necessidade de mudanças urgentes no atendimento às mulheres vítimas de violência em Mato Grosso do Sul. A crise na Deam e a reação das delegadas mostram a resistência à responsabilização e a falta de sensibilidade diante da gravidade dos feminicídios no estado.

Veja a integra

"Carta Pública em Defesa das Delegadas de Polícia e do Compromisso com a Justiça

Aos Exmos. Srs.
Diretor de Departamento de Polícia Especializada,
Diretor Geral da Polícia Civil do Estado de Mato Grosso do Sul,
Governador do Estado de Mato Grosso do Sul,

A equipe da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Campo Grande vem, respeitosamente, manifestar seu apoio irrestrito às Delegadas de Polícia que, no exercício de suas funções, têm sido alvo de injúrias, ataques verbais e agressões morais na imprensa, em razão da condução de um caso de feminicídio ocorrido em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Expressamos nossa indignação diante dos ataques injustos e sensacionalistas dirigidos à nossa equipe, que se dedica há anos à proteção e defesa das vítimas de violência. Nossa atuação é pautada na legalidade, na técnica e no compromisso com a verdade e a justiça. As Delegadas, Investigadores e Escrivães trabalham de forma séria e incansável na investigação de crimes, enfrentando agora incompreensões e ataques que buscam desqualificar nosso trabalho e desviar o foco do verdadeiro problema: a violência contra a mulher e a efetividade das Políticas Públicas.

As críticas dirigidas às Delegadas não apenas atentam contra a honra e a dignidade dessas profissionais, mas também de toda nossa equipe, representando um ataque a todas as mulheres que atuam na segurança pública, comprometidas com a defesa dos direitos das vítimas e a responsabilização dos autores de crimes.

Reafirmamos nosso compromisso com a transparência e a seriedade na apuração dos fatos, sempre respeitando as normas legais e o devido processo. Não aceitaremos qualquer tentativa de desmoralização dos nossos profissionais, que desempenham um papel essencial na luta contra a violência de gênero.

A equipe da DEAM é composta por Policiais qualificados e dedicados, que são pais e mães de família e buscam oferecer um atendimento humanizado, reforçando o compromisso da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul no combate à violência de gênero. Manifestamos total apoio à nossa Delegada Titular, Dra. Elaine Cristina Ishiki Benicasa, e às Delegadas Dra. Riccelly Donha e Dra. Lucelia, que, mesmo diante das dificuldades do serviço público, sempre priorizaram o treinamento e a qualificação da equipe.

Nos últimos anos, a DEAM de Campo Grande registrou um aumento significativo na resolução de casos, fortalecendo a confiança da população na atuação policial e salvando inúmeras vítimas. O trabalho preventivo, por meio de campanhas de conscientização e parcerias com instituições, tem sido essencial para combater a violência contra a mulher.

A exploração midiática de um caso tão cruel de feminicídio, movida pela busca por popularidade, desrespeita a memória da vítima e de seus familiares, além de desvalorizar o trabalho sério de policiais que atuam diariamente para garantir justiça. O sensacionalismo não contribui para um debate responsável sobre a violência de gênero — pelo contrário, desinforma e desqualifica uma luta que deve ser de toda a sociedade.

Por fim, ressaltamos que a DEAM permanece firme em sua missão de proteger e garantir justiça às vítimas de violência, ao mesmo tempo em que defende a honra e a integridade de seus policiais e colaboradores. Reafirmamos nosso compromisso com a transparência e a ética em nosso trabalho, não aceitando que interesses alheios ao direito e à justiça sejam colocados acima do compromisso com as vítimas.

Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher
Campo Grande – Mato Grosso do Sul"

Reprodução

Delegadas acusam imprensa de sensacionalismo em caso Vanessa Ricarte e pedem transferência em protesto

Carta pública

Reprodução

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 • Saiba mais sobre o feminicídio de Vanessa Ricarte

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