A desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), especialista em temas relacionados ao crime organizado, esteve em Campo Grande para ministrar uma formação para juízes substitutos do Estado. Ela afirmou que "Mato Grosso do Sul é um Estado sensível para o crime organizado" e destacou a importância do avanço dos trabalhos de inteligência investigativa, com o auxílio da tecnologia, para combater as facções criminosas que atuam no estado.
Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), o Brasil possui 88 facções criminosas, sendo que seis delas atuam em Mato Grosso do Sul, com o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) disputando o domínio do tráfico de drogas. Ivana explicou que as fronteiras do estado são porta de entrada de drogas e armas para o Brasil, que são, por sua vez, exportadas para a África e a Europa. “Somos o segundo consumidor de cocaína do mundo e perdemos só para os Estados Unidos", afirmou.
Para a desembargadora, o combate a esses crimes só será possível com o uso de inteligência e tecnologia, além da identificação e isolamento das lideranças das facções criminosas, quando previsto em lei. “As características de uma organização criminosa são hierarquia, divisão de tarefas, lucro, simbiose com o Estado e uso de violência", explicou. Ela também ressaltou a necessidade de retirar os valores gerados pelo crime para diminuir o poder econômico das facções.
Ivana destacou ainda que o crime organizado é uma "empresa" bem estruturada, com diversas opções de lavagem de dinheiro, incluindo o uso de criptomoedas. Ela afirmou que o narcotráfico gera altos lucros, que precisam ser lavados para movimentar e usufruir desses dividendos. Por fim, a desembargadora enfatizou a complexidade do combate a essas organizações e a importância da colaboração da sociedade, além da modernização das ferramentas jurídicas e tecnológicas para enfrentar essas facções.