Passados quase dois anos e dois meses do foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, o Brasil finalmente derrubou o último grande embargo às suas carnes devido à ocorrência da doença. Estima-se que o setor mais prejudicado tenha sido a suinocultura, com perdas equivalentes a quase um ano de exportações. Na sexta-feira foi anunciado que a Rússia voltará a comprar carnes brasileiras a partir do próximo dia 1. O retorno favorece, além do estado contaminado, Santa Catarina - maior produtor nacional de suínos - e o Paraná - maior em frangos.
Desde 2005, as importações estavam suspensas para Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Sul do Pará. Segundo o governo, a Rússia responde por 70% da compra de carne suína brasileira e 15% da bovina. O analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado, diz que com os embargos, o Brasil deixou de vender entre 15 mil a 20 mil toneladas de suínos por mês que, em valores do ano passado, representaram US$ 942,2 milhões - quase a totalidade do que o País comercializou com o exterior em 2006: US$ 1 bilhão. O diretor da AgraFNP, José Vicente Ferraz, diz que para as carnes bovinas não muda muito, pois os frigoríficos redimensionaram seus embarques, enviando o produto de outros estados.
"Viramos a página", diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto. Na sua avaliação, os mais prejudicados foram os catarinenses que, apesar de terem o status sanitário diferenciado - único livre de febre aftosa sem vacinação - foram discriminados. Segundo ele, o Brasil só não deixou de exportar porque o Rio Grande do Sul foi liberado.
Perdas regionais
Até outubro de 2005, quando surgiram os focos de febre aftosa que provocaram as restrições, o mercado russo representava 80% das exportações de suínos do Paraná - 6 mil toneladas mensais ou US$ 15 milhões. De bovinos, os russos compravam 40% da exportação - 1.500 toneladas mensais ou US$ 2,5 milhões. Os paranaenses foram embargados porque encontrou-se no estado animais contaminados, que teriam vindo do vizinho Mato Grosso do Sul.
"A suinocultura, principalmente a praticada pelo produtor independente, quase quebrou", explica o presidente do Sindicarnes do Paraná, Péricles Pessoa Salazar. Segundo ele, agora o setor terá de passar por uma fase de transição para voltar ao que era antes. Salazar diz que o estado ficou muito tempo fora do mercado, fazendo com que o preço do animal caísse para R$ 1,50 o quilo do suíno vivo.
"A liberação veio numa hora em que os russos necessitam de mais fornecedores brasileiros para evitar aumento de preços e de inflação por lá com a elevação nos preços do boi exportado que está sendo ensaiada por alguns grandes frigoríficos", afirmou Salazar. Ele prevê recuperação nos preços - que hoje são de R$ 2,00 o quilo do suíno vivo e que antes do embargo eram R$ 2,50.
Maior produtor nacional de suínos, (responde por 45%), Santa Catarina exporta 70% do que produz. Em 2005, o estado vendeu para a Rússia 17 toneladas ou US$ 40 milhões. Naquela época, o preço do suíno ao produtor estava em R$ 2,50 por quilo vivo. Atualmente é de R$ 2,10.
"Essa decisão é muito importante para nosso estado, pois haverá um aquecimento nos preços pagos aos criadores de suínos", diz o diretor de Qualidade e Defesa Agropecuária da Secretaria Estadual da Agricultura, Roni Barbosa. O diretor do Sindicarnes de Santa Catarina, Ricardo Gouvea, diz que espera que, com a liberação, o estado consolide seu status sanitário.
(Com informações do Gazeta Mercantil)