Clima ajuda e safra de grãos do país caminha para recorde histórico

Sob influência da forte demanda mundial por alimentos, dos preços internacionais elevados e do clima favorável ao desenvolvimento das lavouras, a produção brasileira de grãos, fibras e cereais caminha para confirmar, nesta safra 2007/08, um recorde histórico sinalizado desde o fim do ano passado, informou ontem a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A nova projeção indica uma colheita de 140,77 milhões de toneladas na temporada, que "oficialmente" termina em junho próximo. O desempenho significa um avanço de 6,8% na comparação com as 131,75 milhões de toneladas do ciclo anterior. E tudo em uma área plantada apenas 1,1% - ou 489 mil hectares - superior à da safra 2006/07 . "É um número mágico que se previa impossível para a agricultura brasileira, mas que a incorporação de capitais e o preparo técnico tornaram realidade", disse o presidente da Conab, Wagner Rossi.

O principal motor do crescimento das lavouras brasileiras nesta safra é o milho. Com área 3% - ou 414 mil hectares - maior, a produção deverá superar em 4,86 milhões de toneladas (9,5%) a do ciclo anterior. Conforme a projeção, somará 56,23 milhões de toneladas. A safra de inverno deverá atingir 17,44 milhões de toneladas, 18% mais que as 14,77 milhões de 2006/07.

Mais importante do que o clima benéfico, o substancial avanço deve-se à rentabilidade garantida por demanda extra pelo grão em mercados antes abastecidos pelos Estados Unidos, que têm destinado mais milho à produção de etanol. "E a produtividade [medida em quilos por hectare] cresceu 5% neste período", disse o diretor de logística da Conab, Silvio Porto. No verão, a produção disparou em Goiás, Paraná, Bahia, Ceará, Piauí. No inverno, o salto deverá acontecer em Rondônia, Tocantins, Paraná e Minas Gerais, segundo a autarquia.

Mas o carro-chefe da produção e das exportações do campo ainda é a soja. Em uma área 2,3% superior à do ciclo anterior, os produtores do grão devem colher 1,6 milhão de toneladas adicionais nesta safra, o que resultará em 59,98 milhões de toneladas na temporada. O avanço está baseado na elevação da produtividade de Mato Grosso, Piauí, Tocantins e Goiás, além da consolidação de áreas de Roraima.

Em relação ao ciclo 2006/07, a produção cresceu mais em Mato Grosso (15%), Goiás (5,5%), Bahia (6%), Piauí (54%), Maranhão (13%) e Tocantins (37%). No Sul, a produção recuou em todos os Estados em razão da queda da área plantada (7%) e da produtividade (8%), sobretudo no Rio Grande do Sul, que deverá colher 18% menos.

A Conab acredita que os bons resultados obtidos nesta safra serão pouco perto do que poderá acontecer nas próximas temporadas. "O cenários para os próximos três anos permite ampliar a produção em função da demanda sustentada da China e da necessidade de produção de etanol nos Estados Unidos", disse o diretor Silvio Porto. A resolução de problemas financeiros, como o endividamento crônico, pode ser decisiva nessa projeção. "A área plantada deve aumentar na próxima safra se o produtor sentir segurança para investir", analisou o presidente Wagner Rossi.

Em outras culturas, como o algodão, também houve incrementos. A produção da pluma deverá crescer 2,3%, para 1,55 milhão de toneladas. Os destaques são Bahia (6,6%) e Mato Grosso (2%), os maiores produtores nacionais. Mas áreas novas também estão se desenvolvendo, como Piauí (avanço de 145% sobre o último ciclo), Maranhão (69%), Ceará (35%) e Paraíba (53%).

Em relação ao arroz, cujos preços também estão em franca ascensão no mercado internacional, a área recuou em todos os Estados do país, exceto no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, onde houve crescimento de 11,2% (107,2 mil hectares). A retomada das áreas em pousio desde a safra anterior em virtude da falta de chuvas elevou a produção em 5,7%, para 11,95 milhões de toneladas, próximo do consumo previsto de 13,1 milhões de toneladas.

(Fonte: Valor Econômico)