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Reportagem Especial Sexta-feira, 31 de Julho de 2009, 07:52 - A | A

Sexta-feira, 31 de Julho de 2009, 07h:52 - A | A

No lugar do crime, internos do regime semiaberto fazem reformas em carteiras escolares

Fonte: Reginaldo Rizzo - Redação Capital News (www.capitalnews.com.br)

Amontoados de ferragens e madeiras destroçadas pelo chão. Um galpão com várias cadeiras e carteiras escolares estragadas se tornou a chance de uma nova vida para cinco pessoas.

Após alguns anos sem a “liberdade” de poderem andar pelas ruas de Campo Grande, detentos do regime semiaberto buscam, através do projeto realizado pelo Conselho da Comunidade de Campo Grande, uma nova oportunidade de se reintegrarem à sociedade.

Hoje, cinco detentos trabalham de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h, na “reciclagem” de carteiras escolares. O trabalho consiste em reaproveitar as cadeiras e mesas quebradas das escolas públicas de Mato Grosso do Sul. Toda a ferragem é reestruturada e pintada. Os detentos, mal vistos pela sociedade, trabalham, no próprio galpão, a madeira que servirá de apoio para muitas crianças receberem educação.

Olhando para André Fauro Padro, 22 anos, não se percebe nada incomum. Rapaz de boa aparência e educado seria de utilidade para várias profissões, mas suas qualidades não têm mais importância quando descobrem que ele é um detento do regime semiaberto. “Você até consegue um emprego, mas quando pede carta de referência para apresentar na Colônia as portas se fecham”, relata.

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Há 65 dias André sabe como é andar pelas ruas da Capital | Foto: Reginaldo Rizzo/Capital News

André passou três anos e três meses de sua vida em regime fechado, após cometer um assalto à mão armada. Há 65 dias o rapaz foi transferido para a Colônia Penal Agrícola, onde começou a caminhar para a sua ressocialização. “O Mundo tava diferente aqui fora. É duro cara. Você passar três natais, três anos novos e três aniversários dentro da cadeia”, conta o interno em uma mistura de emoções de tristeza e alegria.

Já Alavanei Sérgio Bastos, 29, preso por homicídio e assalto à mão armada em 2006, conta como o serviço está ajudando a “colocar a cabeça no lugar”. “As coisas são difíceis e agente acaba se enveredando para a vida do crime, mas esse trampo caiu do céu e está me ajudando muito a continuar firme nessa caminhada, além do apoio da família que está sempre do nosso lado”, declara o detento.

“Já tentei emprego, mas ainda rola muito preconceito”, conta Alvanei. A desconfiança da sociedade na reabilitação é um dos maiores fatores que proporciona a reincidência das pessoas no crime, como explica o presidente do Colselho, Nereu Rios: “Nós ajudamos eles a terem um emprego e levar uma vida honesta. Eles chegam na rua pedem emprego para um  e negam, pois ele tem ficha criminal, pedem serviço para outro e negam novamente, no terceiro não, eles vão praticar crimes de novo.”

Com o trabalho, além dos detentos reduzirem as penas, ainda aprendem uma nova profissão. “Quando eu estava no regime fechado eu ficava pensando o que eu ia fazer aqui fora, pois eu não tinha aprendido nada de bom nessa vida. Por isso agora eu estou abraçando essa oportunidade, pois o nosso futuro depende de oportunidades”, fala André Fauro.

Mão-de-obra barata e reintegração social

Os cinco reeducandos produzem pelo menos mil conjuntos escolares, mesa e cadeira, por mês. O Estado compra cada conjunto novo por R$ 170, e com o processo realizado pelos detentos, o custo é de R$ 61,50, uma economia de mais R$ 100 mil mensalmente, segundo o instrutor Eduir Scardim, 58 anos.

De acordo com Nereu Rios, os internos recebem pelas atividades, o valor do salário mínimo de R$ 465, mais R$ 110 de vale transporte e almoço ou sexta básica. Atualmente 172 internos do regime semi-aberto prestam serviços em vários setores de Campo Grande.

Nereu conta que as maiores dificuldades na ressocialização dos rapazes são algumas burocracias para a continuidade da parceria. “O governo precisaria de um serviço continuo nessa reciclagem de carteiras escolares. Demanda tem direto, mas nosso contrato com eles é de três meses e até renovar o contrato já passou pelo menos dois meses”, explica. 

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Da sucata para as salas de aulas, detentos ainda aprendem uma profissão | Foto: Reginaldo Rizzo/Capital News

Fonte: Reginaldo Rizzo - Redação Capital News

 

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