O milênio ultrapassa sua primeira década e com isso vamos tomando conhecimento de novas regras do "livre mercado", como funciona ao sabor e humor do mercado de investidores, tem intempéries unilaterais com resultados comprometedores.
Uma queda na bolsa da Malásia, um furacão na Indonésia, desemprego na zona do Euro, recessão no Japão ou mesmo uma eleição em algum país em desenvolvimento, pode levar a altas e declínios na economia primária comprometendo não só a economia individual de um setor restrito da produção, mas com a estratégia de abastecimento futuros pela falta de estímulo desse segmento. Atualmente vemos isso ocorrer na pecuária de corte.
O setor se mobiliza , articulando e discutindo possibilidades para que uma crise que se vislumbrava temporária perdure por período que pode levar o setor a uma defasagem na cadeia produtiva com sérios prejuízos ao país.Não só no segmento de corte como no desenvolvimento tecnológico de genéticas bovinas para um futuro cada vez mais preocupado com capacidade de produção de alimento.
Alguns empresários rurais tem hoje procurado diversificar suas atividades na crescente necessidade desse setor em salvaguardas econômico-financeiras de proteção a esse vai e vem das commodities.
Há pouco tempo o governo federal através do Ministério da Pesca e Aquicultura decretou como área da União a lâmina d’água do Lago de Ilha Solteira até uma cota "x" em relação ao mar e nesse espaço um projeto de produção de pescado em "Parques Aquícolas" previamente estabelecidos e com eles uma série de normas para licenciamento de uso dessas águas na produção de proteína de pescado. Poderá vir a ser uma boa alternativa para o setor rural, mas mesmo assim limitados pelo pouco conhecimento da atividade.
Como pioneiros no licenciamento de uso de águas da União no município de Aparecida do Taboado, eu e o empresário Dartagnan Ramos Queiroz temos iniciado o conhecimento desse processo ainda confuso e bastante burocrático junto aos vários departamentos onde os projetos circulam. Constatamos, por exemplo, uma diferença desses processos no Estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul. No segundo dando prioridade aos pequenos produtores (licenças não onerosas) e no primeiro aos empresários (licença de áreas onerosas).
Atividade de implantação altamente tecnificada e de custos financeiro elevados vemos aí outro setor que pode vir a ter sérios problemas de mercado (a longo prazo) por termos no país política de juros impraticáveis para a economia primária e valorização da moeda dificultando o mercado de exportação.
O sistema de produção integrada tem se revelado útil na defesa do produtor nos momentos de dificuldade financeira. Senão proporcionando ganhos estimulantes estabelecendo sobrevivência de alguns setores, aproximando a cadeia produtiva do princípio ao consumidor final . Os países mais ricos se recusam a eliminar seus subsídios à economia primária, pois conhecedores de um processo mercadológico agressivo sabem da impossibilidade de sobrevivência do empresário (pequeno ou não). Talvez esteja aí a maior distorção em relação à pecuária. Refém do conglomerado frigorífico padece assistindo ao crescimento vertiginoso do setor empresarial de processamento de proteína bovina.
Os custos financeiros e as dificuldades técnicas de um setor recente colocam a produção do pescado no mesmo patamar, alertando aí aos interessados na atividade a buscar subsídios aos seus negócios em parceria no próprio setor tentando uma independência mesmo que sublime às intempéries desse mercado globalizado cada vez mais voraz não se importando com a nacionalidade ou dificuldades de quem não tem as mesmas facilidades e proteção daqueles já desenvolvidos.
Esse ano o Ministério da Pesca e Aquicultura começa o mapeamento do lago de Jupiá para a implantação dos Parques Aquicolas, ampliando áreas no vale do rio Paraná. Num futuro não muito distante vamos assistir o crescimento do pescado na região do Bolsão com a vinda de laboratórios de alevinos, fábricas de ração, fabricantes de tanques rede, transportadores, entreposto de abate porque não alguma indústria de processamento do produto estendendo aí a cadeia produtiva ao setor industrial comercial e logístico.
Os estudos do ministério são otimistas e o mercado, no momento, segue promissor. Aos interessados aconselhamos cautela e muita, mas muita paciência. O processo de licitação é demorado e extremamente burocrático por enquanto. No momento, todos estamos aprendendo, nós e a equipe do ministério.
Autor: Osvaldo Queiroz é produtor rural e 2º secretário do Sindicato Rural de Aparecida do Taboado.